Luís Duarte Costa – Vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna.
O “Dia Mundial do Ambiente” é celebrado a 5 de junho desde 1974, mas apenas recentemente tem o destaque que merece. Ou talvez não?
Ultrapassadas as “fake news” e desinformação, é óbvio para qualquer cidadão e leitor minimamente atento, que as alterações climáticas são o maior desafio das nossas vidas e das futuras gerações, ao ponto de colocar em risco a nossa sobrevivência no planeta tal como o conhecemos. Todos as últimas primaveras e verões são as mais quentes que vivemos, desde que há registo.
A este ritmo, no final do século XXI, a temperatura aumentará até 4,8ºC, não haverá gelo durante o verão no Polo Norte nem no Polo Sul, cerca de 50% das plantas e animais da terra estarão extintos e o nível do mar subirá mais um metro, as inundações, incêndios e outras calamidades serão cada vez mais frequentes.
Confrontados com esta evidência brutal de eventos à escala planetária, muitos de nós passam a responsabilidade para as instituições governamentais e empresas mundiais. Mas governos e empresas, para além de serem geridos por pessoas, são particularmente sensíveis à opinião pública que os elege ou escolhe os seus produtos e serviços.
Um bom exemplo é o de uma adolescente sueca que conseguiu colocar o dedo na ferida e, em público, identificar os principais poluidores mundiais (indústria dos combustíveis, indústria agropecuária desde a vertente de produção química, desflorestação e produção animal intensiva e ainda a indústria de mineração, sobretudo a associada à produção de minérios para equipamentos eletrónicos) e responder aos políticos ignorantes que a contradiziam.
Ou seja, é responsabilidade de cada um de nós fazer tudo o que poder estar ao seu alcance para salvar o ambiente e o planeta onde vivemos!
Foi essa uma das razões para a Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI) ser um dos sócios fundadores do Conselho Português para a Saúde e Ambiente (CPSA), criada em 2022 pela mão do Dr. Luis Campos, antigo presidente da SPMI, e pelo Prof. Doutor João Queirós, reconhecido Cirurgião Cardíaco. As outras razões estão associadas às particularidades da indústria da Saúde com o meio ambiente e o impacto do meio ambiente na Saúde das pessoas.
Um dos principais objetivos do CPSA é definir objetivos e estratégias para reduzir o peso da indústria da Saúde como um dos principais poluidores (4,4% da emissão de gases com efeitos de estufa). De situações mais simples, como a reutilização e reciclagem do papel e material têxtil dos hospitais, a situações mais complexas como a redefinição de todo o circuito do medicamento e utensílios médicos e ainda do lixo hospitalar.
Outro propósito é alertar para o aumento progressivo da mortalidade relacionada com o meio ambiente (mais de 5 milhões de mortes por ano atribuídas a temperaturas extremas e mais de 9 milhões associado à poluição), em especial à comunidade médica para que promova mudanças nos hábitos e estilos de vida dos doentes e população em geral.
Os médicos têm um papel fundamental na vida das pessoas, não só pela responsabilidade de prevenir a doença e cuidar da saúde, mas pelo privilégio que os doentes lhes atribuem em ser uma figura de proximidade e de referência nas suas vidas.
O que pedimos a todos os médicos e a toda a população, são 5 simples R’s:
-REDUZIR os resíduos com consumo responsável, evitando o desperdício de recursos e criação de lixo;
-RECUSAR o consumo de produtos desnecessários ou de alto impacto ambiental, como o plástico, produtos descartáveis, de utilização única, publicidade, brindes, etc;
-RECICLAR todos os materiais usados, em particular as embalagens, plásticos, papel, cartão e vidro (em Portugal só se recicla cerca de 30% dos materiais usados e na EU cerca de 48,5%);
-REUTILIZAR e dar uma segunda vida aos objetos e materiais, seja por reparação, doação, troca ou venda;
-REPENSAR os nossos hábitos de consumo e escolhas, levando em consideração o impacto ambiental, seja pela reflexão da necessidade real de adquirir certos produtos ou escolher opções mais sustentáveis e com menor dano ao meio ambiente.
Neste último ponto reforço o objetivo 3 em 1 de uma alimentação saudável à base de plantas: é um dos pilares da prevenção cardiovascular, um dos principais meios para reduzir a “pegada ecológica” individual e, não menos importante, evitar o sofrimento e exploração animal.
Precisamos todos de passar à ação e lembramo-nos do óbvio: não há planeta B!