ONDAS DE CALOR … REVOLTA DA NATUREZA

09:31 - 07/07/2023 OPINIÃO
Por F. Inez

Ainda mal começou o verão, aí as temos …as ondas de calor … anos atrás um fenómeno raro, mas cada vez mais frequentes nos últimos anos. Longe vão os tempos das quatro estações do ano, bem definidas … inverno, primavera, verão e outono! Até se dizia, nessa altura, que Portugal tinha um clima privilegiado, era um benefício da célebre corrente (marítima) do golfo … de que hoje cada vez menos pessoas se lembram … e que tinha o efeito de temperar o nosso clima, refreando as amplitudes térmicas, mas de que os estudos mostram um enfraquecimento progressivo! Transportava as águas quentes do Equador para o Norte … proporcionando invernos muito suaves e verões não excessivamente quentes … sem extremos!      

Até se dizia nessa altura, por graça, quando o clima mostrava alterações inesperadas … que o São Pedro estava a ficar velhote … e que já não dava conta do recado! Bons tempos … que estamos a ver que já não voltam … e que já nem o São Pedro nos consegue valer! Foi sobretudo a partir da década de 90 do século passado … até aí com uma ocorrência uma vez por década, que começaram a surgir com mais frequência as ondas de calor, devidas ao aquecimento global, pelo efeito de estufa, e são hoje cada mais frequentes e intensas.

Para alem da incomodidade para o ser humano, limitativas das nossas atividades diárias, constituem um grave risco para a saúde pública, originando uma mortalidade elevada por hipertermia, golpes de calor e desidratação, sobretudo da população idosa, das crianças e das pessoas já enfraquecidas por outras doenças. Não obstante haver hoje um consenso universal sobre as causas deste fenómeno, e que se nada for feito nos conduzirá ao colapso da Civilização, infelizmente continua a verificar-se um dualismo entre os discursos políticos e as medidas efetivas desencadeadas pelos diferentes países, em particular os mais poluidores.

Se assim continuarmos, temos pela frente a inevitabilidade da catástrofe de uma “Terra Fornalha” inabitável … De tal modo assim é que alguns cientistas já propõem que se altere a designação da era geológica que atualmente vivemos … Antropoceno ... para Necroceno … sabendo-se que o prefixo “Necro” significa morte, cadáver.

Se nada for feito para alterar diametralmente a gravíssima situação em que nos encontramos, estamos na antecâmara da maior tragédia da Humanidade e que nos levará inevitavelmente à extinção da própria espécie. Não restam hoje dúvidas de que o aumento das temperaturas da atmosfera e dos oceanos é uma consequência das emissões massivas dos gases com efeito de estufa … dióxido de carbono e outros … originados pelas diversas atividades humanas … em particular a queima de combustíveis fósseis. Daqui resultam também o aquecimento das águas do mar, o degelo das calotes polares, o aumento do nível dos oceanos, as inundações, as irregularidade dos regimes da chuva, com tempestades e inundações e os desmoronamentos de terras,  mais ou menos catastróficos, numas  zonas e noutras períodos prolongados de seca , desertificação, incêndios florestais frequentemente incontroláveis e outros eventos climáticos extremos.

São vastos e de longa duração … ou mesmo irreversíveis … os efeitos que daqui resultam nos sistemas biológicos e o seu inevitável reflexo na biodiversidade, no declínio populacional de grande número de espécies com modificação dos ecossistemas e no decréscimo da produção de alimentos.

Está cientificamente comprovado que, mesmo que a emissão dos gases com efeito de estufa cessasse hoje, as temperaturas continuarão a subir por mais algumas décadas. Há a intenção … política … dos organismos internacionais de evitar que até ao ano de 2100 a média do aumento da temperatura não exceda os 1,5 graus centígrados, uma vez que é o máximo tolerável, antes que se produzam efeitos globais catastróficos.

Estudos diversos sugerem que se aquela temperatura média atingir os 4 graus centígrados, as mudanças ambientais no Planeta atingirão uma escala que irá comprometer a existência da vida na Terra! Por outro lado, a continuar a exploração desenfreada dos recursos naturais, levará ao seu esgotamento e ao colapso da Civilização.

Há muitos milhares de anos o Planeta Terra já sofreu, por causas naturais, muitas mudanças climáticas, com épocas muito mais quentes que as de hoje e que alternaram com ciclos de arrefecimento … glaciações … a última há um pouco mais de 10 mil anos … admitindo-se que possa vir a surgir nova glaciação nos próximos 30 mil anos. Mas o Homem esquece que ele próprio é um produto da Natureza … e que se continuar a não a respeitar … originará inevitavelmente cada vez mais a sua revolta … extinguindo progressivamente as condições naturais que tornaram possível a sua própria existência.