A primeira refeição do dia

20:31 - 19/07/2023 OPINIÃO
Joaquim Bispo, escritor diletante, http://vislumbresdamusa.blogspot.com/

Acabei de chegar de umas férias em Budapeste. Cidade bonita - belos panoramas, excelentes museus -, mas do que não me esqueço é dos pequenos-almoços. No hotel em que estive, serviam fiambres, presuntos, chouriços, queijos variados, tudo em cascatas de fatias finíssimas. E doces, frutas, bacon, ovos mexidos, pratos quentes.

Acho que havia turistas que só tinham ido a Budapeste pelos pequenos-almoços. Enchiam a chávena, de café com leite, e o prato, com queijo e carnes frias, iam à mesa esvaziá-los, voltavam a recarregá-los, uma e outra vez. Abarrotavam tigelas com flocos de milho, de amêndoa, com fibras, com mel, chocolate e fruta. Juntavam leite, iogurte, café, sumos de frutas.

Filas de empregados afadigavam-se a repor as provisões nas mesas do bufete, enquanto dezenas de pares de olhos espiavam a sua chegada à porta da copa. Logo, “homens da Michelin”, em banha, se lançavam sobre os acepipes, como gaivotas sobre sobras de peixe, engolindo fatias de salmão fumado ou disputando a mesma tira de bacon frito, enquanto bicavam os adversários mais próximos. Depois, mitigavam a fraqueza com uns doces: potes de compotas, salvas de bolo-mármore, taças de tiramisù, tigelas de mousse de chocolate, travessas de leite-creme.

Quando pareciam saciados, começava a fase de aprovisionamento, porque o dia de visitas turísticas à capital e arredores se adivinhava longo e desgastante. Fileiras de sanduíches recheadas de salpicão, queijo flamengo, pasta de atum, ovo mexido e picles - para desenjoar - alinhavam-se, obedientes, em camadas sobrepostas, no fundo das malas de mão e das mochilas. Alguns convivas preparavam tantas, que deviam dar para acabar com a fome em algum país do corno de África.

Budapeste é bonita, mas o melhor são os pequenos-almoços. Inolvidáveis. A noite passada até sonhei que apanhava almôndegas húngaras às mancheias. Felizmente, acordei antes de os garfos dos ávidos, que não dispensam os talheres, começarem a espetar-se nas costas da mão.