PALAVRAS DE FOGO: DESAFIO PARA UM RENASCER | EM SETEMBRO!

10:00 - 24/09/2023 OPINIƃO
Por: Padre Carlos Aquino | effata_37@hotmail.com

Ainda trazemos gravado em nossos corpos como tatuagem, os sinais da luz do sol, as frescuras das águas, o sabor conservador do sal, a harmonia do silêncio prazeroso, os sonhos avivados no repouso em família, a beleza do cosmos, o encantamento da música e as festas do tempo ferial.

Depois de voos sempre desejados, gostosamente e minuciosamente planeados, mal chegados aos ninhos e já se iniciou vertiginosamente a rotina dos hábitos, começou a agigantar-se a azáfama pela reorganização da casa, do trabalho, das agendas.

É a arrumação das coisas que transportámos, dos espaços onde regressámos, a preparação do ano escolar, a inscrição dos filhos no desporto, nos clubes, as opções a valorizar pessoal e familiarmente para o próximo ano, que se deseja sempre cheio de sucesso e feliz.

Como formigas no seu carreiro regressamos às estradas da Cidade que começam a avolumar-se, cada vez mais, no iniciar de cada dia e são as longas filas de trânsito, as dificuldades habituais de estacionamento, o barulho que risca com um som já suficientemente conhecido o nosso cérebro ainda sintonizado por outras ondas sonoras e memórias.

Depois das habituais e dramáticas notícias dos fogos, que infelizmente, já não surpreendem no tempo de Verão; das maçadoras e mascaradas rentrées políticas, antes do início de nova legislatura, onde todos prometem pacotes de salvadoras medidas, que ficarão, certamente, enclausuradas nos inflamados e programáticos discursos; passada a realização da Jornada Mundial da juventude, que motivou um esperado coro de protestos, dos sempre surpreendentes festivais de música, invadem-nos agora as desgastantes e preocupantes notícias das greves, do descontentamento e reivindicações dos médicos e dos professores; do cabaz alimentar que aumenta cada vez mais de preço; de outros e mais nefastos e dramáticos terramotos e intempéries.

E cá estamos, de novo, em mais um recomeço de ano letivo, onde também, de novo, recomeçamos. Dentro da nossa vida, das nossas casas, da nossa família, das nossas relações. Na aventura do saber e do ser.

Preparamo-nos para novos recomeços, reencontros, descobertas. Como vivemos o tempo? Como vivemos cada momento?

Como nos preparamos e investimos para os nossos recomeços?

Partilho convosco nestes inícios e recomeços, esta palavra orante, que recordei e me trouxe tanta força e luz: “O que te peço, Senhor, é a graça de ser. Não te peço sapatos, peço-te caminhos. O gosto dos caminhos recomeçados, com suas surpresas e suas mudanças. Não te peço coisas para segurar, mas que as minhas mãos vazias se entusiasmem na construção da vida.

Não te peço que pares o tempo na minha imagem predileta, mas que ensines meus olhos a encarar cada tempo como uma nova oportunidade. Afasta de mim as palavras que servem apenas para evocar cansaços, desânimos, distâncias. Que eu não pense saber já tudo acerca de mim e dos outros. Mesmo quando eu não posso ser, ser simplesmente. É isso que te peço, Senhor, a graça de ser de novo” (José Tolentino Mendonça).