PALAVRAS DE FOGO: DESAFIO PARA UM RENASCER | EM OUTUBRO!

09:17 - 22/10/2023 OPINIƃO
Por: Padre Carlos Aquino | effata_37@hotmail.com

O Outono é também uma estação da vida. Não existem vidas humanas sem o chão da fragilidade, o selo da caducidade, as sombras do sofrimento. A vida lateja dentro destas realidades. À maneira de um parto vamos sendo em cada dia transformados. Renovamo-nos e recomeçamos em nascimentos contínuos, porque a vida é caminho e não é sem remédio. Para lá de outonos e invernos também desperta vibrante e luminosa a primavera.

A aurora vence sempre a escuridão da noite. Assoma-nos a dimensão noturna da vida e da fé, caminhamos feridos, mas não vencidos. Persegue-nos e conduz-nos a Luz. Neste mês em que se celebra tantos dias onde se aviva a realidade da dor e do sofrimento que marcam o nosso existir: o dia da saúde mental; das doenças reumáticas; da Trombose; dos cuidados paliativos; da luta contra o cancro da mama, do combate ao Bullying; da osteoporose; da luta contra a dor; da paralisia cerebral; do combate à Pálio (poliomielite); da psoríase; do AVC, surge-me com acutilância esta significativa pergunta: como vivemos nós no sofrimento?

Na verdade, estamos sempre prontos a opinar e a emitir juízo sobre a dor e o sofrimento dos outros. Inclinamo-nos facilmente perante o dizer cómodo e vulgar do tenha paciência…tudo há-de passar…é a vida…aceite como prova de fé. Não raro tombamos no descrédito quanto à própria vida: não somos nada…tudo é uma ilusão. E quando o sofrimento e a dor assomam à nossa porta, invadem o nosso espaço interior, o santuário da nossa vida, como assumimos a verdade da dor e do sofrer? Que sentido lhe damos? Por que caminhos conduzimos o nosso existir? Que portas abrimos e que janelas escancaramos? Dentro das nossas noites e escuridões, das nossas dúvidas, convulsões e medos, perante o que nos fere, que razão damos à vida? Que verdade nos recusamos perder? Que sentido escrevemos com a razão e o coração? Recordamos e aceitamos a nossa condição de semente? Na verdade, é importante desprendermo-nos da cinza do desânimo e da desistência, mas também de assumirmos que para além dos nossos desejos e necessidades só o amor dá sentido à vida, liberta e salva. Só no amor somos. E não se ama sem dor e sem sofrimento, mas o amor é mais forte e profundo que a dor e o sofrimento.

Precisamos por isso de alargar o coração para abraçar aquilo que verdadeiramente é. Dentro das nossas noites buscar estrelas que anunciem novas manhãs. Mesmo quando as feridas nos pedem mais aceitação que cura. Mesmo inacabados, tenros e frágeis como quando ingressámos na vida, não emudeçamos o desejo de encontrarmos o seu sentido. Mesmo que seja o grito a revelação da nossa alma e da nossa oração.