André Magrinho, Professor universitário, doutorado em gestão | andre.magrinho54@gmail.com

Na última edição da Voz de Loulé alertei para os muitos riscos geopolíticos em 2024, com forte impacto global. O maior reside no desfecho das eleições americanas de Novembro de 2024, perante uma possível vitória de Donald Trump, traduzindo-se num elevado risco para as democracias, porventura fragilizando a solidariedade euroatlânrica, e constituindo um incentivo aos regimes autoritários e ao extremismo social e político, assim como enfraqueceria os apoios à resistência ucraniana. Noutra geografia, releva-se o conflito israelo-palestiniano, decorrente do ataque perpetrado pelo Hamas no passado dia 7 de outubro, e a consequente resposta de Israel, porventura desproporcional, pela brutalidade da resposta em termos de perda de vidas humanas, num campo de batalha, em que todos, na faixa de Gaza, são utilizados como escudos humanos.

Este conflito pode incendiar ainda mais esta região, como aliás já está a acontecer com as incursões dos rebeldes Houthis do Iémen, no mar vermelho, apoiadas pelo Irão, o que constitui uma ameaça à circulação marítima numa das principais rotas internacionais de mercadorias em direção à Europa. No plano da segurança e defesa europeia, a guerra na Ucrânia, continuará a ser o maior risco geopolítico, tanto mais que a resistência ucraniana depende, em larga medida, dos apoios dos EUA e da Europa. Aliás, no plano geopolítico e estratégico, o futuro da Europa está indexado ao desfecho deste conflito, em que uma eventual vitória russa seria uma derrota para a Europa.

No plano económico, se outros factores de natureza geopolítica ou outros, não vierem a alterar as dinâmicas em curso, os cenários previstos para a inflação, crescimento e emprego são, de um modo geral, positivos, ainda que não muito entusiasmantes. Após dois anos com níveis de inflação elevados, prevê-se que a inflação global na Zona Euro desça de 5,6% em 2023 para 3,2% em 2024 e 2,2% em 2025, de acordo com a Comissão Europeia. A inflação elevada devido ao endurecimento da política monetária e à fraca procura externa que travaram o crescimento em toda a UE em 2023, está agora em queda.

Prevê-se que a atividade económica acelere no próximo ano, à medida que o consumo recupera, graças a um mercado de trabalho vigoroso, com crescimento dos salários e a desaceleração da inflação. O Mecanismo de Recuperação e Resiliência (PRR em Portugal), tem aqui um papel muito importante no investimento, prevendo-se um crescimento do PIB de 1,2% na Zona Euro em 2024.

E, numa análise prospetiva para 2025, estima-se que o crescimento se reforce para 1,6% na Zona Euro, com a diminuição das pressões inflacionistas e das restrições da política monetária. Quanto ao emprego, as previsões são favoráveis, estimando-se que a taxa de desemprego da UE se mantenha globalmente estável em 6% em 2024, e desça ligeiramente para 5,9% em 2025.

Portugal termina o ano de 2023 com a melhoria do seu rating, o que são boas notícias em relação ao financiamento da dívida pública e da economia em geral. O Banco de Portugal (BdP) aponta para um crescimento da economia portuguesa de 2,1% este ano e de 1,2% em 2024. 

O BdP está agora mais otimista sobre a descida da inflação em Portugal no próximo ano, estimando uma taxa de 2,9%, apesar dos salários estarem nos níveis mais elevados alguma vez pagos em Portugal, o que não deixa de ser um aspeto positivo, tanto mais que o emprego está nos níveis mais elevados registados no país, e as previsões apontam para que assim continue. Naturalmente que o desempenho da economia portuguesa no próximo ano poderá não ser indiferente ao cenário de governabilidade resultante das eleições gerais de 10 de março próximo.

 À diretora, colaboradores e leitores da Voz de Loulé e da Voz do Algarve, a todos desejo um próspero 2024.