Joaquim Bispo, escritor diletante, http://vislumbresdamusa.blogspot.com/
Era uma manhã cheia de sol. Uma vaca pastava tranquila no prado. Embora ninguém a visse sorrir, estava feliz. De repente, a serena manhã da vaca foi agitada por um coelho que passou junto dela em grande velocidade e lhe gritou:
— Sai da frente, vaca!
A felicidade dela desapareceu nesse momento. Estava farta de lhe chamarem vaca. É certo que tinha algum peso a mais, mas estarem sempre a lembrar-lho...
Nessa tarde já pouco comeu. Nos dias seguintes, só comeu os talos mais rijos das ervas que lhe pareciam menos nutritivas. Para tentar emagrecer. Durante aquele tempo passou fome, mas obrigou-se a comer só o que não a faria engordar. Passadas umas semanas, a vaquinha tão rechonchuda de antes não parecia uma vaca; mais parecia um esqueleto em pé, só pele e cornos.
Passou por ali um burro que ficou muito admirado de ver uma vaca tão mirrada. Perguntou-lhe:
— Estás doente, vaca?
A vaca começou a choramingar:
— Estou tão infeliz por passar tanta fome e tu ainda me chamas vaca? Eu já não sou vaca; estou até muito elegante!
— O que dizes tu? — admirou-se o burro. — Tu és uma vaca; sempre serás uma vaca, mesmo que não sejas gorda.
— Então, não é a mesma coisa? — respondeu a vaca, muito convencida. — Tu não me estás a chamar… gorda?
— Claro que não! Estou a chamar-te… o teu nome, o nome que os homens te deram — explicou o burro, paciente. — Eu também vivia muito infeliz, porque me chamavam burro, e julgava que me chamavam estúpido. Só mais tarde percebi que burro é o meu nome, o nome que os homens me deram. A partir daí, nunca mais me importei. Pois, se é o meu nome!
— Ah, então é isso? Faz sentido! — convenceu-se a vaca. — Obrigada, burro! Acho que não és nada “burro”.
— E tu não és nada “vaca”. Estás até muito magra e isso não é nada saudável. Vê se comes melhor, para voltares a ser uma vaca bonita.
Quando o burro se afastou, a vaca mastigava um grande ramo de trevos suculentos, mas ainda conseguiu fazer um “muuuu!” de agradecimento e despedida.