Corria o ano de 2004 quando o então Papa João Paulo II, na sua Carta Apostólica Mane Nobiscum Domine (Fica connosco, Senhor), de 07 de outubro daquele ano, desafiou a Igreja à vivência do Ano da Eucaristia, que se prolongaria até ao mesmo mês do ano seguinte.
No Algarve, a diocese cumpria o segundo ano de um triénio pastoral que pretendia fazer convergir para a Eucaristia e para as vocações de consagração “como fonte inspiradora de todas as iniciativas pastorais”.
Aproveitando as duas ocorrências, o Secretariado da Pastoral Vocacional da diocese algarvia, em colaboração com a equipa formadora do seu Seminário de São José, desafiou assim toda a Igreja diocesana a unir-se numa cadeia de oração ininterrupta ao Santíssimo Sacramento, 24 horas por dia, durante 15 dias, para pedir a Deus vocações de consagração, tanto no sacerdócio, como na vida religiosa ou nos institutos seculares.
“Pensou-se no início deste Ano Eucarístico e no início do ano pastoral que, na diocese algarvia, terá uma especial atenção às vocações de consagração – de um modo particular às vocações ao sacerdócio para o nosso Seminário – unir estes dois acontecimentos num movimento de oração que atravesse toda a igreja algarvia”, explicava o então reitor do Seminário diocesano.
Segundo indicava na altura o cónego Mário de Sousa, a iniciativa surgia também da necessidade sentida, na diocese, de vocações de consagração que tinha saído naquele ano de um período de cinco anos sem qualquer ordenação sacerdotal. “Se calhar, a situação que temos é um convite de Deus à nossa oração mais intensa”, considerava o sacerdote, complementando: “visto estarmos no ano da Eucaristia, tem todo o sentido que, diante da Eucaristia, rezemos por aqueles que a ela presidem e sem os quais ela não existe”.
Sem a pretensão inicial de permanecer na programação anual da diocese, o lausperene foi desde logo avaliado como uma das mais importantes e significativas iniciativas pastorais realizadas e a sua afirmação na calendarização aconteceu naturalmente, mantendo-se ano após ano, programa pastoral após programa pastoral, entre as atividades de relevância da Igreja algarvia.
D. Manuel Quintas assumia, como bispo residencial, a diocese naquele ano de 2004. Ao fim de 20 anos de lausperene, e na proximidade de mais uma ordenação diaconal rumo ao sacerdócio, o bispo do Algarve diz, em declarações ao Folha do Domingo, “lançar uma prece de louvor e de ação de graças ao «Senhor da messe» pelo dom de quantos, ao longo destes vinte anos, acolheram o seu convite, responderam ao seu chamamento e aceitaram segui-l’O e consagrar-Lhe totalmente a sua vida, colocando-a ao serviço do Povo de Deus, através do dom do ministério ordenado”.
“Números/pessoas que confirmam e motivam a continuidade desta «cadeia de adoração eucarística», sempre com o mesmo propósito: responder ao pedido que o próprio Jesus continua a lançar-nos: pedi ao Senhor da messe para que mande trabalhadores para a sua messe”, acrescenta D. Manuel Quintas, considerando os padres que ordenou ao longo destes 20 anos resultado daquela iniciativa.
20 padres a trabalhar na diocese, ordenados desde 2004
Nas últimas duas décadas, o bispo diocesano ordenou 18 padres: 17 para a Igreja diocesana algarvia e um para a Fraternidade da Mãe de Deus, atualmente ao serviço daquela Pia Associação, em El Salvador. Dos 17 diocesanos, 14 continuam ao serviço da Igreja algarvia. “A estes podemos acrescentar outros seis padres igualmente ordenados nestes vinte anos: um diocesano, em processo de incardinação, o padre Rafael Ferreira, e cinco religiosos”, contabiliza também D. Manuel Quintas, considerando que, no total, são 20 padres ao serviço da Diocese do Algarve, ordenados nestes 20 anos de lausperene diocesano.
A estes, o bispo diocesano acrescenta ainda os cinco diáconos permanentes ordenados desde 2004, “com a esperança de que, em breve, outros se possam juntar a estes, destacando ainda mais este serviço tão importante e enriquecedor” para as comunidades cristãs.
O bispo do Algarve lembra ainda que celebrar a Semana do Seminário continua a constituir uma oportunidade para a Igreja diocesana se unir na “estima” pelo Seminário – não só o de São José, em Faro, mas também o de Évora, que acolhe os seminaristas no curso de Teologia – e também “no apoio, inclusive material, como ajuda à sua formação” e “na oração insistente e confiante pelas vocações, para que o Senhor confirme e fortaleça os que já chamou, continue a falar ao coração de muitos jovens e os capacite com os dons do Espírito Santo, de modo que cada um possa responder e assumir, sem medo, as suas propostas”.
D. Manuel Quintas realça que “ninguém pode recusar-se a ser mediador de Deus deste chamamento nem dispensar-se de se assumir como seu instrumento no apoio contínuo aos chamados, desde os que se encontram na etapa do pré-seminário ou Seminário em Família até ao Seminário Maior em Évora”. “Que a Virgem Maria, Senhora do Sim e Mãe dos Sacerdotes, continue a guiar-nos e a fortalecer-nos neste nosso caminho, constantemente iluminados e alimentados pela alegria e pela esperança, que brotam da presença sacramental de Cristo Ressuscitado na Eucaristia”, conclui.
Ao Folha do Domingo, o seminarista algarvio que se encontra em fase mais avançada da caminhada rumo ao sacerdócio testemunha que a jornada ininterrupta de oração “constituiu um enorme estímulo para nunca deixar de acolher e de responder com generosidade ao convite que o Senhor” lhe fazia para lhe consagrar totalmente a sua vida. “Ao longo destes últimos anos, creio que não pude ficar indiferente diante do testemunho de tantas comunidades, de tantos sacerdotes, religiosos e religiosas que dedicam parte do seu tempo, por vezes com algum sacrifício, pedindo a Deus que desperte no coração de muitos jovens e adultos o desejo de servirem a Igreja como ministros ordenados”, conta Bruno Valente.
Prestes a ser ordenado diácono para depois vir a ser ordenado sacerdote, aquele jovem diz olhar para “todo esse esforço” da Igreja do Algarve “com um enorme sentido de gratidão”. “Acredito que este não tem sido um trabalho em vão, uma vez que já surgiram, e, certamente continuarão a surgir, frutos desta cadeia de oração”, refere, considerando que o lausperene é para si “um grande sinal” de que a diocese continua empenhada em procurar responder ao apelo de Cristo que manda “pedir ao Senhor da messe para que mande trabalhadores para a sua messe”.
“Espero que este Lausperene possa ser uma oportunidade para que mais jovens e adultos se deixem interpelar pelo Senhor, encontrando junto d’Ele a coragem para responderem com generosidade ao Seu chamamento. Mas espero, também, que todos possamos continuar a «gastar» tempo a rezar pelas vocações sacerdotais, pelos seminaristas e pelos sacerdotes da nossa Diocese, certos de que o Senhor continuará a escutar a nossa oração e a enviar-nos pastores segundo o Seu coração”, conclui.
Folha do Domingo