A Igreja do Algarve viveu este domingo mais um dia de festa pela ordenação de um novo diácono rumo ao sacerdócio.
O seminarista Bruno Valente, de 25 anos, foi ordenado pela imposição das mãos do bispo do Algarve, D. Manuel Quintas, que presidiu à Eucaristia que teve lugar em Quarteira, na igreja de São Pedro do Mar.
O bispo diocesano considerou o novo diácono retribuição de Deus à cadeia ininterrupta de oração ao Santíssimo Sacramento que a diocese realizou dia e noite nos últimos 15 dias. “Neste culminar do lausperene de oração pelo nosso Seminário e pelas vocações é este o dom que o Senhor nos retribuiu e pelo qual estamos profundamente agradecidos”, começou por referir D. Manuel Quintas, que manifestou ao novo diácono o “reconhecimento” e “gratidão”, seus e da Igreja algarvia, “pela sua disponibilidade e disposição em aceitar este dom que Deus lhe concede”.
D. Manuel Quintas disse que “participar numa ordenação, mesmo diaconal, constitui sempre uma oportunidade privilegiada para confirmar, maravilhados, que o chamamento do Senhor é graça, é dom gratuito e, simultaneamente, é também envio a anunciar o Evangelho a todos e em toda a parte”.
O bispo do Algarve realçou que “o diaconado na Igreja é dom e é serviço”. “Tal como nos tempos apostólicos, também hoje nos continua a chamar através do discernimento da sua Igreja, de acordo com as necessidades concretas para o serviço do Evangelho, para o serviço da caridade”, prosseguiu, acrescentando que “nenhuma vocação acontece por gosto e vontade próprias”, mas “é dom e chamamento de Deus”.
“Deste modo, o ministério ordenado de diácono, padre e bispo não pode ser visto como um prémio, nem mais como um degrau nas responsabilidades paroquiais, diocesanas ou mesmo eclesiais de toda a Igreja. É sempre um serviço. E se quisermos considerar que seja um degrau, trata-se de um degrau que em lugar de subir, desce. Serve para descer até nos pormos de joelhos, revestidos de um avental e munidos de uma bacia, um jarro com água e uma toalha”, metaforizou D. Manuel Quintas, evocando o gesto do lava-pés realizado por Jesus aos apóstolos.
O responsável católico frisou assim que “o diácono, fortalecido pela graça sacramental, é chamado a servir o povo de Deus em união com o bispo e o seu presbitério” e “tem em Cristo, servo que viveu totalmente ao serviço de Deus para bem da humanidade, o seu modelo por excelência, daí herdando uma espiritualidade específica que se apresenta essencialmente como espiritualidade do serviço”.
“Assim, o diácono participa de modo especial na missão e na graça de Cristo. O sacramento da Ordem assinala-o com o selo, o caráter que o configura com Cristo que se fez diácono, isto é servo de todos. Identificado com Cristo-servo, o diácono é por natureza e identidade servidor da Igreja, sobretudo dos mais carenciados de Cristo e de amor. No seu ministério será o rosto visível de Cristo no seio da comunidade, dando particular visibilidade à sua condição de servo em favor dos mais necessitados, já que Ele vem para servir e dar a vida. Para tal, o consagra o Espírito Santo pela imposição das mãos do bispo”, desenvolveu.
O bispo do Algarve explicou então que o ministério diaconal se realiza na comunidade eclesial e “está ao serviço da comunhão na realização da missão da Igreja”, sendo “exercido pela administração dos sacramentos de que é incumbido: o serviço aos mais necessitados, a animação das comunidades nos diversos setores da vida eclesial e o anúncio credível da Palavra de Deus, acreditando naquilo que proclama, ensinando aquilo em que acredita e vivendo aquilo que ensina”, expressão que faz parte do rito da ordenação do diácono.
D. Manuel Quintas constatou que a “Igreja diocesana fica mais enriquecida pelo dom deste novo diácono a caminho do sacerdócio ordenado”. “Que este dom seja semente de novas vocações ao ministério ordenado e, sobretudo, nos ajude a viver e a testemunhar a diaconia na Igreja, congregando-nos e dando novo impulso ao anúncio e ao testemunho do Evangelho com a fé, o vigor e o entusiasmo dos mártires, sem desânimo, sem nos acomodarmos a formas de pensar e de viver que não têm futuro porque não assentam na sólida certeza da Palavra de Deus, nem no testemunho da herança que nos legaram os mártires como nosso padroeiro São Vicente, diácono e mártir”, desejou.
O bispo do Algarve referiu-se ainda à decisão de acolher seis leigos, apresentados pelos seus párocos como candidatos ao diaconado permanente, “dispondo-se, eles e suas famílias, a iniciar um caminho de maior discernimento e de uma melhor compreensão deste ministério ordenado na Igreja”. “Damos graças a Deus pelo Bruno e pela disponibilidade destes seis leigos e das suas famílias. Queremos todos continuar a tê-los presentes na nossa oração”, declarou.
O bispo diocesano agradeceu ainda aos muitos jovens presentes. “A vossa presença significa que estais atentos e despertos aos apelos de Deus e certamente que participar numa ordenação diaconal como esta vos fala ao coração, vos interroga e interpela. Não tenhais medo. Ainda que tenhais só um «punhadinho de farinha e pouco azeite» ou que não tenhais mais do que «duas pequenas moedas» que são aquilo que é a nossa vida, não tenhais medo. Deus multiplica sempre e nunca subtrai e dá a cada um o que cada um precisa para que realize a sua vontade, sobretudo, para que corresponda aos seus apelos, nomeadamente através de uma vida de consagração”, afirmou.
D. Manuel Quintas agradeceu ainda ao Seminário de Évora pelo apoio que deu ao novo diácono e continua a dar aos seminaristas do Algarve que ali frequentam o curso de Teologia. O bispo do Algarve agradeceu ainda ao Patriarcado de Lisboa que acolheu o novo diácono durante o ano propedêutico no Seminário de São José de Caparide.
Após a homilia, a celebração prosseguiu com o rito da ordenação do diácono, constituído por alguns gestos significativos, mas que teve como momento mais importante o da ordenação propriamente dita com a imposição das mãos do bispo diocesano sobre o ordinando.
Um dos gestos significativos foi a colocação das mãos do ordinando nas mãos do bispo, um gesto de comunhão e de unidade, prometendo-lhe obediência e reverência enquanto sucessor dos apóstolos, sinal e garante da unidade da Igreja e desta com a Igreja de Roma.
Os outros momentos de maior emoção aconteceram já depois da ordenação com o recém-ordenado a ser revestido com as vestes diaconais, recordando que, antes de mais, se devem continuar a revestir de Cristo.
Foi-lhe entregue depois o livro dos evangelhos que agora, de modo particular, tem a missão de anunciar, mas sobretudo de amar e viver.
Momentos igualmente significativos foram os dos abraços aos restantes diáconos e do serviço ao altar prestado pelo novo diácono.
A Eucaristia contou ainda com a concelebração da grande maioria dos sacerdotes, bem como com os diáconos do Algarve e de vários sacerdotes, diáconos e seminaristas vindos de fora da Diocese do Algarve, incluindo os formadores dos Seminários Maior de Évora e dos Olivais e de São José de Caparide, em Lisboa.
Folha do Domingo