Desafios do novo Presidente do Conselho Europeu, António Costa

13:00 - 05/12/2024 OPINIÃO
André Magrinho, Professor Universitário, Doutorado em Gestão | andre.magrinho54@gmail.com
No passado dia 29 de Novembro, operou-se a passagem de testemunho entre Charles Michel e António Costa, em Bruxelas, numa altura em que tanto no interior como fora das fronteiras europeias se inicia um novo ciclo político, com a nova presidência de Donald Trump nos EUA. Conhecido como “mestre dos consensos” e “hábil negociador político”, António Costa não vai seguramente ter um caminho fácil. O cargo que vai ocupar não lhe confere funções executivas no sentido próprio do termo. São-lhe reservadas funções de coordenação política, ao mais alto nível, fundamentais para gerir, com sucesso, 27 sensibilidades políticas distintas, numa Europa fragmentada, ao mesmo tempo que está confrontada com uma guerra nas suas fronteiras, com as duas “locomotivas” (Alemanha e França) da Europa a atravessar um período de crise política, e com dificuldades significativas em gerar consensos sobre questões de alcance estratégico. É neste contexto que o novo presidente do Conselho Europeu, António Costa, vai ter que fazer jus dos atributos de hábil negociador e da sua capacidade para gerar consensos, para enfrentar com sucesso os principais desafios que se lhe colocam, a saber: (i) Unidade entre os Estados-Membros, por forma a manter a coesão entre os 27 países da União Europeia, especialmente em tempos de divisões políticas e sociais; (ii) Guerra na Ucrânia, em curso desde Fevereiro de 2022, continua a ser uma prioridade político-estratégica, exigindo uma resposta coordenada e eficaz da UE, numa altura em que reina grande imprevisibilidade quanto à posição e às eventuais propostas para por termo à guerra, vindas dos EUA; (iii) Relações com os EUA, porque com a nova administração norte-americana, não é seguro que a UE continue a ser vista como uma prioridade da política externa dos EUA, pelo menos ao nível e intensidade atuais, o que pode dificultar o fortalecimento das relações transatlânticas; (iv) Orçamento de longo prazo da UE, na medida em que a negociação do próximo orçamento de longo prazo da União Europeia será crucial para garantir o financiamento adequado para várias políticas e programas com alcance estratégico; (v) e, Desafios internos e externos, sendo aqui que António Costa terá que lidar com uma Europa politicamente fragmentada e com desafios económicos relevantes, nomeadamente em relação à nova política industrial, à segurança e defesa, mas também de âmbito geopolítico.
Será interessante analisar como se vão compatibilizar em matérias negociais no âmbito das relações transatlânticas, como numa eventual guerra comercial, duas posturas de negociação e político-diplomáticas completamente distintas, a de Donald Trump eminentemente “transaccional” em que impera o “deve e o haver”, e a de António Costa, categoricamente orientada para gerar consensos e acordos político-diplomáticos para resolver problemas.