Criar oferta, ganhar procura Hotéis precisam-se...

10:00 - 06/02/2025 OPINIÃO
Nuno Vaz Correia | Licenciado em Comunicação | nunovazcorreia@gmail.com
Esta reflexão insere-se num conjunto de artigos onde apresento ideias e propostas concretas para o concelho de Loulé, baseadas na minha formação e experiência profissional, procurando lançar o debate entre a população e os candidatos às eleições autárquicas de 2025…
 
 
Em janeiro de 2025, segundo o Turismo de Portugal, o concelho de Loulé tem 72 Hotéis/Aparthotéis que disponibilizam 17176 camas, ficando, no Algarve, apenas atrás de Albufeira que tem 158 e disponibiliza 40429 camas.
Mas os números mostram também outro facto, dos 72 empreendimentos existentes, apenas 2, estão na cidade de Loulé. 2 hotéis de 3* com um total de 145 camas. Em 17176 camas, só 145 estão na cidade de Loulé, 0,84% da oferta existente no concelho.
Apesar das caraterísticas diferentes, em Albufeira, 19450 camas estão na cidade, 48,11% da oferta e, em Faro, 1566, 84% da oferta.
A nível turístico é impensável conceber qualquer estratégia que não tenha uma oferta de alojamento compatível com a procura que se pretende cativar. Como é que o turismo pode ter impacto na cidade quando a sua oferta se limita a 145 quartos. Quantos milhares de visitantes não ficaram na cidade em eventos como o Carnaval, Festival Med ou Noite Branca?
 
Para colmatar esta carência é necessária uma sinergia entre a autarquia e investidores. Ao contrário do que é habitual (os investidores decidem onde e o que querem fazer), é preciso uma ação proativa da autarquia no sentido de, na cidade de Loulé, identificar os potenciais locais onde seria viável o aparecimento de hotéis, definir exatamente como devem ser e o que devem disponibilizar, procurando depois os investidores que queiram avançar com os projetos identificados como uteis para a cidade.
Sendo Loulé uma cidade com caraterísticas próprias, não se justifica a criação de grandes hotéis, mas sim da aplicação do conceito de hotéis boutique, que se destacam pela personalidade única e uma atmosfera intimista e sofisticada. São hotéis de tamanho mais reduzido (10 a 80 quartos) projetados para refletir uma identidade, com influências locais, um conceito artístico e uma localização privilegiada, no coração da cidade ou em locais únicos, apostando na imersão dos hóspedes na cultura local, através da gastronomia típica e do design inspirado na região. Portanto, o conceito, vai além do simples "hotel pequeno" – trata-se de criar uma experiência única que atraia um público com mais capacidade financeira e que valorize a autenticidade e a exclusividade.
Basta uma simples observação para verificar a existência de muitos imóveis na cidade de Loulé (da autarquia ou de privados), que reúnem condições para serem recuperados e/ou reconvertidos. Refiro por exemplo o Convento de Santo António, o chamado Palácio Amarelo no início da Rua das Lojas e, no lado contrário do Largo de São Francisco, o Palacete (em estado de degradação) que albergava o Colégio da D. Arlinda, a antiga sede do Louletano (abandonada) no Largo Tenente Cabeçadas, ou o antigo Convento do Espírito Santo, onde funcionam serviços da autarquia.
 
A Câmara Municipal de Loulé tem meios e capacidade financeira para adotar uma estratégia de fomento à criação destes hotéis: incentivos fiscais/financeiros com reduções ou isenções no IMI e IMT; subsídios ou linhas de crédito com condições favoráveis; redução ou isenção das taxas de licenciamento para a construção e/ou reconversão dos imóveis; criação de uma equipa capaz de acelerar os processos de licenciamento e a aprovação dos projetos, assim como todo o apoio técnico para responder às exigências legais e urbanísticas. Tudo feito com base na identificação, pela autarquia, dos locais estratégicos para o desenvolvimento destes hotéis, sendo os incentivos específicos para essas localizações.
Neste objetivo a colaboração com os investidores é essencial, criando parcerias para o desenvolvimento destas unidades, partilhando riscos e benefícios, desenvolvendo parcerias público-privadas para a reconversão dos edifícios (da autarquia ou que possam vir a ser adquiridos com esse objetivo), através por exemplo da concessão da utilização dos edifícios por 15, 20 ou 30 anos, em troca do investimento realizado na sua recuperação/conversão.
Este seria um passo essencial para mudar o perfil e a quantidade de quem nos visita e, especialmente, criar um retorno financeiro que beneficiaria todo o comércio e restauração existentes. Fomentaria ainda a criação de novas empresas ligadas ao sector e aumentaria a oferta de emprego na cidade. Tudo isto enquanto se promove a valorização do património arquitetónico e cultural com a reabilitação de imóveis históricos ou degradados cuja dimensão e valor de mercado impossibilita a sua conversão para fins habitacionais.
Implementar estas medidas criará condições para o investimento em hotéis na cidade de Loulé, contribuindo para o crescimento económico e para a valorização turística da cidade enquanto destino onde se pode fazer mais do que passar um dia, ou algumas horas, sem ter que partir para outras paragens à procura de um sítio para dormir.