Caríssimos Cães, estimados irmãos,

 

Dirijo-vos, hoje, esta carta, a muitos de vós que caminhais sem rumo em ruas que não vos pertencem e farejais restos de pertencimento entre as esquinas. Muitos encontrais abrigo sob a sombra de árvores indiferentes. Como não ver em vós os passos de quem busca refúgio? E muitas vezes ainda olhados com desdém e indiferença como escutei na hipocrisia que se esconde por detrás de sonsa beatice: “filho de um cão!”. Muitas vezes sois considerados símbolo do que é vil, pagão, excluído, pecador. Como nos recorda o Evangelho, continuais a comer das migalhas que caem das mesas dos filhos. Na verdade, os exilados do mundo carregam os mesmos olhos de saudade de vós: olhos que perguntam o que significa ter uma casa, olhos que procuram, no vazio, um lugar onde repousar as patas. De facto, somos todos migrantes de esperanças esmagadas, rejeitados de fronteiras que nos dizem "não". Ainda assim, vocês latem. Latem contra o vazio. Contra a noite. Contra o esquecimento.

 

São gritos de quem não aceita ser invisível, chamados de quem não desiste de existir. Ao escrever-vos, hoje, a vós que continuais ainda assim a ocupar um lugar especial nos corações e mentes das pessoas em todo o mundo, pela vossa lealdade, companheirismo e fidelidade, considerados guardiões da casa e da família, desejo pedir-vos: ensinai-nos a resistir, queridos cães. A buscar entre os escombros algum vestígio de bondade. A confiar em mãos que nem sempre nos rejeitam e a encontrar, mesmo em um mundo cruel, uma trilha para chamar de lar. Vós, que sois por muitos também vistos como guardiões, guias e símbolos de proteção, conhecidos pelo vosso amor inabalável e dedicação aos seus donos, ensinai-nos a ternura e a fidelidade, a capacidade de criar laços profundos com os humanos. Vós, que sois conhecidos pelo vosso apurado sentido de intuição e sensibilidade ao que vos rodeia ensinai-nos a sermos possuidores de equilíbrio emocional, a saber proteger e cuidar.

 

Não se pode esquecer que sois frequentemente utilizados em terapia como animais de apoio emocional. Ofereceis conforto e companhia às pessoas que lutam com problemas de saúde mental ou perturbações emocionais. Dizem estar provado que a presença de um cão reduz a ansiedade e o stress, proporcionando uma sensação de conforto e amor incondicional. Para além disso, quantas vezes sois utilizados em operações de busca e salvamento, demonstrando as vossas capacidades notáveis de localização e descoberta. Sois também não raras vezes treinados para ajudar a localizar pessoas desaparecidas ou a detetar substâncias como drogas ou explosivos. Isto realça ainda mais o significado simbólico da vossa orientação e proteção. Não se pode apagar a vossa capacidade de criar laços profundos com os humanos e a vossa lealdade inabalável. Vós nos lembrais o poder do amor e a importância de relações fortes e leais. Em nome de muitos, a vós, a nossa mais alta consideração e reconhecimento.