António Dores | antonio.humberto.dores@gmail.com
Às ruas da Cidade desce o frio
E as folhas arbóreas na calçada
São levadas pelo vento
Que as arrasta em debandada…
As nuvens cinzentas no céu
Contemplam a gente que passeia
E o Sol bem lá do alto se assoma
Fazendo às árvores a sua sombra
Para dar a quem quer, aquilo que semeia
São as duas fauces de Janeiro
Mês de duas caras num corpo inteiro
Que se mostra ora alegre, mas depois triste
Alguém na rua que se cruza
Com desconhecidos que vagueiam
Como formigas em carreiro
Atropelando-se sem rodeios
Fazendo caretas às montras
De lojas e outras apetitosas iguarias
Pousando os olhos no isco que convida
Como moscas que se agarram ao mel
Passam assim as suas vidas
De cá para lá e de lá para cá
Em viagens ao deus-dará
Sem olhar para a calçada
Que um outro calceteiro
Macetou na sua dor…
De plantar pedra talhada o dia inteiro
Para ser calcada, recalcada, repisada
Por muitos outros transeuntes que passeiam
Em puro e simples desamor…!!...