Sociedade Portuguesa de Medicina da Reprodução (SPMR) deixa o alerta: adiamento da idade da gravidez associada a dificuldade em engravidar conduz à necessidade de recorrer a doação de gâmetas.
No Mês de Sensibilização para a Infertilidade, presidente da SPMR confirma escassez de doação de gâmetas e defende necessidade de mais campanhas de informação.
De acordo com os dados do registo nacional do Conselho Nacional de Procriação Medicamente assistida (CNPMA), em 2023, 27% dos tratamentos fertilização in vitro/injeção intracitoplasmática de espermatozoides realizados em Portugal contaram com a doação de gâmetas (ovócitos ou espermatozoides). “A maioria dos casais prefere, muitas vezes, fazer um tratamento com os ovócitos da própria mulher, mesmo em situações em que são avisados do mau prognóstico reprodutivo”, explica Luís Ferreira Vicente, presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina da Reprodução.
A doação de ovócitos está indicada quando a reserva ovárica e a qualidade ovocitária já não permite a obtenção de embriões com viabilidade. Para muitos, o dilema é emocional: a ausência de ligação genética pesa, mesmo quando a ciência já demonstrou “que o ambiente uterino irá moldar a expressão de milhões de genes do nosso genoma”.
Um adiamento do projeto de gravidez acaba por conduzir, inevitavelmente, a uma taxa de sucesso muito baixa, sobretudo após os 43 anos de idade da mulher, que apenas é ultrapassada pela doação de ovócitos. A doação de espermatozoides é necessária em mulheres solteiras ou casais de mulheres, ou, em situações de azoospermia - “em que não se conseguem obter espermatozoides em biópsia testicular do elemento masculino” - a opção por gâmetas doados pode ser o caminho mais seguro, e até o único, rumo à parentalidade.
A desigualdade no acesso também é um fator a considerar. “A maioria dos tratamentos depois dos 40 anos de idade é realizada em centros privados”, diz o especialista. “Enquanto existirem listas de espera para os tratamentos de fertilização in vitro nos centros públicos, os recursos são geridos para otimizar as faixas etárias com maior probabilidade de sucesso, de forma a permitir que um maior número de casais consiga a gravidez.”
Ao mesmo tempo, enfrentamos uma escassez clara de gâmetas, com tempos de espera superiores a dois anos para espermatozoides e três para ovócitos. Parte da solução passa por mais informação e mais campanhas, tanto para recetores como para potenciais dadoras: “Muitas pessoas desconhecem que a doação é legal e possível em Portugal”, refere o especialista. É neste sentido que foi criado o site
https://ovulomeuovuloteu.pt/, uma iniciativa da Organon, que reúne um conjunto de informações sobre ovodoação e ovorreceção.
Atualmente, as dadoras de ovócitos passam por um processo médico que está cada vez mais simples e seguro, um gesto que pode literalmente mudar a vida de alguém. “As dadoras de ovócitos têm de passar por um ciclo de estimulação e colheita de ovócitos, que tem vindo a ser simplificado, reduzindo as medicações injetáveis. O impacto na sua vida profissional é minimizado durante todo o processo.”
Por: Guess What