Eliminar as hepatites virais até 2030: Missão Possível?

16:47 - 22/07/2025 SAÚDE
No Dia Mundial das Hepatites Virais, a Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia (SPG) junta-se ao apelo da Organização Mundial da Saúde (OMS) para eliminar as hepatites virais como ameaça à saúde pública até 2030. Em Portugal, apesar dos avanços, persistem desafios.
O que são as hepatites virais?
 
São infeções do fígado causadas por vírus (A, B, C, D e E). As hepatites A e E são agudas e transmitem-se pelo consumo de alimentos ou água contaminados. A hepatite E pode também estar associada ao consumo de carne mal cozinhada.
 
As hepatites B, C e D podem tornar-se crónicas e transmitem-se pelo contacto com sangue contaminado, relações sexuais desprotegidas ou da mãe para o bebé durante a gravidez ou parto, sobretudo em países sem rastreio materno.
 
De referir que a hepatite A, apesar de não ser uma infeção sexualmente transmissível, tem estado associada a surtos em homens que têm sexo com homens, devido a práticas que envolvem contacto fecal-oral.
 
As formas crónicas (hepatites B, C e D) são as que representam uma ameaça maior, podendo evoluir para cirrose e cancro do fígado. 
Apesar de potencialmente graves, as hepatites virais crónicas são silenciosas: os sintomas só surgem muito tardiamente, quando já há lesão hepática significativa. Por isso, o rastreio é fundamental.
 
A Direção-Geral da Saúde recomenda que todos os adultos realizem o teste da hepatite B e C pelo menos uma vez na vida.
 
As hepatites só afetam os "grupos de risco"?
 
Não. Embora as hepatites virais crónicas sejam mais frequentes em utilizadores de drogas injetáveis ou em homens que têm sexo com homens, um terço dos casos ocorre em pessoas fora destes grupos. Apostar apenas no rastreio dirigido leva a falhas na deteção.
 
Situação em Portugal
 
Portugal tem feito progressos: investimento em estratégias como testes rápidos combinados (VIH, VHB e VHC), rastreios em farmácias comunitárias, ações em meio prisional e campanhas de literacia em saúde do fígado.
 
Como resultado, tem-se assistido a um aumento do diagnóstico das hepatites virais.
 
No que diz respeito ao tratamento, o destaque vai para a hepatite C com mais de 30 mil doentes tratados nos últimos 10 anos, com taxas de cura superiores a 97%. 
 
Em relação à prevenção, Portugal tem uma das melhores coberturas vacinais contra hepatite B da Europa com 99% dos recém-nascidos vacinados com a 1.ª dose. 
 
O que falta fazer?
 
Temos disponíveis as ferramentas necessárias para diagnosticar e tratar: medicamentos muito eficazes que curam a hepatite C e controlam a hepatite B. Apesar disto, estamos muito longe da meta da OMS para eliminar as hepatites virais como problema de saúde pública até 2030.
 
Estima-se que apenas 13% das pessoas infetadas com o VHB e 36% das pessoas infetadas com o VHC estejam diagnosticadas. Das pessoas diagnosticadas, muitas não têm acesso a tratamento.
 
É urgente detetar novos casos. Isso exige maior sensibilização da população e dos médicos de medicina geral e familiar para o rastreio universal.
 
Precisamos também de aproximar os cuidados de saúde das populações vulneráveis como pessoas em situação de sem-abrigo, migrantes e toxicodependentes e reforçar a vacinação de grupos-chave. Por fim, é essencial combater o estigma, que afasta muitas pessoas do diagnóstico e do tratamento.
 
Neste Dia Mundial das Hepatites Virais, a SPG apela para que:
 
Faça o rastreio: teste-se pelo menos uma vez na vida para hepatite B (AgHBs) e hepatite C (anti-VHC);
Confirme se está vacinado contra as hepatites A e B;
Partilhe informação e combata o estigma.
 
 
Por: Miligrama