Loulé: um concelho sem comunicação à altura do seu futuro

11:00 - 11/09/2025 OPINIÃO
Nuno Vaz Correia | Licenciado em Comunicação | nunovazcorreia@gmail.com

Há um facto difícil de explicar num concelho como Loulé: na Câmara Municipal não existe uma Divisão de Comunicação. Existe um Gabinete de Comunicação e Protocolo, dependente do presidente e nem sequer tem um responsável nomeado. Caso único na autarquia.

Não é um detalhe. É uma opção política. A comunicação fechada num gabinete, como instrumento de propaganda. O resultado está à vista: mensagens dispersas, eventos sem estratégia, milhões gastos sem retorno. Em mais de uma década de mandato, o atual executivo nunca teve coragem de estruturar a comunicação municipal. Não criou uma divisão própria. Não nomeou um responsável técnico. Não planeou a médio prazo. Preferiu o improviso. Preferiu gastar milhões em iniciativas avulsas para ter a fotografia pronta no dia seguinte.

Mas Loulé não é uma vila pequena. É um dos maiores concelhos do Algarve, com um orçamento superior a 200 milhões. Tem peso económico, tem peso turístico, tem responsabilidades e continua a comunicar como se fosse um município do século passado.

O Festival MED é um exemplo. A última edição custou mais de 1 milhão. Fala-se em projeção internacional, em impacto económico, em retorno turístico. Mas onde estão os relatórios? As métricas? A realidade, que não passa despercebida, é que são tantos (ou mais) os bilhetes oferecidos como as entradas pagas. Por isso, passada a festa, sobra o vazio.

A Noite Branca, em 2025, também custou mais de 1 milhão. Um espetáculo que pinta a cidade de branco por uma noite. Temos festa, diversão e milhares de pessoas. Mas na semana seguinte já ninguém fala disso. Não há plano de aproveitamento turístico, não há fidelização de visitantes, não há marca consolidada.

 

Criar um Departamento de Comunicação, Turismo e Eventos

 

A criação de um Departamento de Comunicação, Turismo e Eventos é uma necessidade estratégica. Estas áreas, na prática, já vivem interligadas: o turismo e os eventos são as maiores vitrinas do concelho, mas não têm impacto sem uma comunicação eficaz. Separadas, estas áreas funcionam de forma dispersa e pouco eficiente; integradas, permitem que cada evento seja também uma oportunidade de promoção turística e que cada campanha turística seja comunicada de forma coerente. Um único departamento evita duplicações de custos, concentra equipas técnicas e assegura transparência orçamental. E, sobretudo, permite medir o retorno real do investimento.

Com a criação deste departamento cada iniciativa teria sentido estratégico, gestão e planeamento. Um plano anual integrado faria com que estas áreas se reforçassem mutuamente: os eventos serviriam de plataforma para a promoção turística, as campanhas turísticas seriam articuladas com a agenda cultural e a comunicação institucional projetaria Loulé como um concelho moderno, dinâmico e sustentável.

Numa região competitiva como o Algarve, quem comunica melhor atrai mais turismo, investimento e talento. Juntar estas áreas é, por isso, mais do que uma reorganização administrativa: é um sinal de modernidade, profissionalismo e visão de futuro, mas Loulé continua a perder terreno (e dinheiro) porque insiste no improviso.

O próximo executivo tem de colocar esta reforma no topo da agenda: criar, finalmente, um departamento estruturado, com divisões próprias para estas áreas de ação. Só assim será possível dar coerência à comunicação institucional, planear eventos com rigor, consolidar a identidade visual do concelho, dignificar o protocolo e, sobretudo, desenhar uma estratégia de turismo e marketing territorial à altura da importância do concelho, projetando Loulé como destino de referência.

O próximo executivo da Camara Municipal de Loulé tem duas opções: continuar a gastar milhões no “fogo-de-artificio” das iniciativas dispersas, sem estratégia, avaliação e retorno, ou criar finalmente um motor estratégico para comunicar melhor, promover melhor e governar melhor fazendo da comunicação, do turismo e dos eventos uma alavanca de futuro.

Comunicar não é fazer comunicados e publicar fotografias de inaugurações.