Joaquim Bispo, escritor diletante, http://vislumbresdamusa.blogspot.com/
Continuação:
Quando a claridade ténue da lua tocou a entrada da gruta, todo o ouro desapareceu, suspeitando ele que tivesse voltado para a gruta, cuja abertura se fechou silenciosamente. E a linda princesa voltou a ser a cabra de antes.
- Vê o que fizeste! - ralhou ela. - Com os teus vagares dobraste-me o encanto.
Ali Agat não sabia o que dizer, mas acabou por se desculpar com o cansaço. Disse-lhe que se esforçara tanto que até se esquecera da mulher, que já devia estar preocupada à espera dele. A cabra compreendeu:
- Volta lá para a tua mulher, já que, a mim, só me fizeste mais infeliz. Mas sempre pelo mesmo caminho e sem olhar para trás. E leva estes dois saquinhos de figos para a viagem.
Ali Agat voltou pela mesma vereda, recolheu a cesta de medronhos e dirigiu-se para casa. Quando sentiu fome, tentou comer os figos que a cabra lhe dera, mas ainda estavam verdes e leitosos e já lhe tinham posto os bolsos a colar. Chegou finalmente a casa, onde a mulher já estava muito aflita, sem saber onde o procurar. Contou-lhe então tudo o que lhe tinha acontecido e porque se tinha atrasado:
- Quando acordei da sesta, dei com uma alfarroba de ouro mas, quando vinha mostrar-ta, encontrei uma cabra, que, na verdade, é uma princesa moura encantada e que tem uma gruta maravilhosa cheia de ouro. Disse que seria todo meu se eu lhe desse um beijo e o tirasse da gruta antes de a lua nascer. Não consegui retirá-lo a tempo, porque, entretanto, nasceu a lua. Mas trouxe esta cesta de medronhos e estes dois saquinhos de figos. Só que ainda estão verdes.
- Ai, Ali Agat, é sempre a mesma coisa! - queixou-se a mulher. - Apanhaste outra vez uma barrigada de medronhos, deitaste-te a curtir a bebedeira e voltaste a sonhar com aventuras com mouras encantadas. Aposto que a cabra é que se regalou com a alfarroba, se já estava bem dourada. Porque é que não deixas o medronho e voltas para a amêijoa?