A Escola Secundária Drª Laura Ayres, em Quarteira, no Algarve, está a conceber um plano para restringir o uso de «smartphones» em algumas zonas do espaço escolar, intenção que conta com o apoio dos alunos deste grau de ensino.
A partir deste ano letivo, passou a ser regra a proibição do uso de ‘smartphones’ no 1.º e 2.º ciclo do ensino básico, algo que aquele agrupamento já fez no passado ano letivo, tendo este ano decidido alargar a medida, noutros moldes, ao ensino secundário.
Dalila Afonso, a diretora do agrupamento, um dos maiores do Algarve, com oito escolas e um total aproximado de 3.000 alunos, explicou à Lusa que este ano decidiu ir um “pouco mais além” alargando a medida ao secundário e envolvendo os alunos na definição de regras para o uso de telemóveis na escola.
“Achámos importante tomar também aqui algumas novas medidas, não com as restrições de proibição total como na EB23, mas com algumas adaptações, até porque estamos a falar de alunos mais velhos, de um espaço exterior muito grande e de difícil vigilância, e achamos que para estes alunos teremos que ir mais pela sensibilização”, afirmou.
Segundo aquela responsável, o próximo passo é recolher os contributos da comunidade escolar e promover atividades durante os intervalos como alternativa, através da rádio escolar, da colocação de jogos à disposição dos alunos e também da instalação de mesas de pingue-pongue em sítios mais visíveis.
A restrição de ‘smartphones’ deverá acontecer em algumas áreas da escola, como o refeitório, além da biblioteca e das salas de aula, o que já antes acontecia, embora muitos alunos os usassem na mesma, pois, como contaram à Lusa, muitos têm mesmo dificuldade em desconectar-se.
“Em certos locais e certas situações é mesmo útil [a proibição do telemóvel], principalmente na sala de aula muitos distraímo-nos, perdemos foco, estamos sempre fora do mundo real. Estamos muito distraídos e dependentes do telemóvel e em algumas situações é realmente importante desconectarmos um bocadinho”, admite Grace Cleaton.
A aluna do 12.º ano diz mesmo que são os próprios alunos que estão a perceber que o convívio se torna muito difícil com o uso dos telemóveis: “Não conseguimos ter as mesmas competências sociais quando estamos sempre colados ao telemóvel”, assume.
A professora Luísa Cavaco, que é também membro do Conselho Geral do agrupamento, diz que muitas vezes os alunos “são os primeiros a pedir que haja um travão na utilização do telemóvel”, sobretudo quando usado, por exemplo, para filmar agressões ou partilhar informação indevida.
“Alguns deles também reportam uma certa dependência do telemóvel, já não sabem conversar normalmente sem estar a olhar para o telemóvel. Então é uma reaprendizagem e eles vão ser agentes de mudança, ou seja, vão estar a partilhar esta mudança connosco”, sublinhou.
Também Ricardo Lopes, do mesmo ano, contou que, principalmente nas salas de aula, havia muitos alunos que “tinham necessidade de tirar o telemóvel”, nem que fosse para ver as horas, comportamento que os professores se estão a esforçar por desincentivar.
“Hoje nas apresentações, os diretores de turma reforçaram o facto de ser proibido o uso de telemóveis nas salas de aula e já não se vê, pelo menos eu tive aula hoje e não vi nenhum aluno a tentar tirar [o telemóvel], e quando havia uma ocorrência de sequer chegar ao bolso os professores avisavam-nos rapidamente”, relata.
Gonçalo Relvas, do 11.º ano, considera que a medida é bem pensada, ainda mais numa escola com alunos oriundos de tantos países – no total, o agrupamento reúne 62 nacionalidades -, em que o telemóvel acaba por dificultar o relacionamento e conhecer outras pessoas.
“A minha turma acho que só tem 10 portugueses e nós somos 25. O telemóvel, a única coisa que tem ajudado nestes anos, tem sido a parte do tradutor, mas cada vez mais as pessoas falam em inglês e se tentassem mais comunicar sem o uso do telemóvel acho que seria muito melhor”, refere.
Patrícia Jesus, docente e igualmente membro do Conselho Geral, não duvida de que se os alunos estiverem envolvidos na definição das regras de utilização dos telemóveis a medida tenderá a ter mais sucesso e a vigilância será mais efetiva, porque partirá também dos alunos e não apenas dos poucos funcionários que há nas escolas.
Sérgio Costa, da Associação de Pais, afirma que falta pessoal não docente, mas sabe também que é impossível haver uma vigilância a 100%, pois as escolas são grandes e, mesmo com muitos funcionários, vai ser sempre complicado levar medias como esta a bom porto.
Lusa