Exposição em Faro revela faceta desconhecida do modernista algarvio José Dias Sancho

11:30 - 12/11/2025 FARO
Uma mostra com cerca de 20 caricaturas da autoria do algarvio José Dias Sancho, algumas no formato original, podem ser vistas no Museu Municipal de Faro até fevereiro, na exposição «José Dias Sancho: Modernismo e Regionalismo».

Nascido em São Brás de Alportel, em 1898, José Dias Sancho viveu apenas até aos 30 anos mas desenvolveu uma vasta produção, não só como caricaturista, uma das suas facetas menos conhecidas, mas também como escritor, jornalista e cartoonista, tendo igualmente criado a primeira empresa de cinema do Algarve.

“É realmente uma figura notável da elite cultural — e pode dizer-se mesmo, da elite artística — dos finais do século XIX e do século XX”, refere Marco Lopes, diretor do Museu Municipal de Faro, sublinhando que José Dias Sancho é uma figura de destaque da história do modernismo algarvio.

A exposição mostra caricaturas no seu formato original de outras figuras do Algarve com quem privou, como do dramaturgo Cândido Guerreiro, do poeta Bernardo de Passos e também do pintor Carlos Lyster Franco que, embora não tenha nascido no Algarve, se estabeleceu na região.

Segundo Joana Galrão, curadora executiva da exposição, estão expostas muitas reproduções de caricaturas da sua autoria, porque é desconhecido o paradeiro da maioria dos originais, embora muitos tenham sido publicados em jornais e revistas da época.

“Conseguimos ter os originais [dos jornais e revistas] e fotografar e digitalizar para termos boas reproduções”, explicou, frisando que José Dias Sancho era também cartoonista e fundou, aos 20 anos, com Carlos Porfírio, a primeira empresa de cinema no Algarve, a Film Sancho Limitada.

Joana Galrão lamenta que nenhum fotograma ou outros registos dessa sua faceta de cineasta tenha chegado aos dias de hoje – até porque a empresa se dissolveu cerca de um ano depois da sua criação -, mas sabe-se que rodou, pelo menos, dois filmes na região algarvia.

Tendo publicado o seu primeiro poema aos 13 anos, o curto percurso de Dias Sancho foi marcado por algumas polémicas, como quando publicou a obra “A Ceia dos Cábulas”, uma paródia à “Ceia dos Cardeais”, de Júlio Dantas, ou quando escreveu “Palmadinhas nos Carecas”, que parodiava o futurismo algarvio.

A mostra reúne ainda ‘cartoons’ que fez para revistas como a Semana Humorística e a Crónica de São Bento, uma capa que produziu para uma edição da revista ABC, em 1921, cartas que escreveu e entrevistas que fez a figuras modernistas publicadas em jornais.

Além das suas obras, a exposição revela também desenhos a carvão e pinturas que retratam a paisagem e realidade algarvias da época, de artistas como Carlos Lyster Franco, Carlos Porfírio, Roberto Nobre, Eduardo Viana, Mário Eloy, Almada Negreiros e António Soares.

Ao atrair nomes relevantes do modernismo português, com quem contacta quando vai estudar Direito para Lisboa, José Dias Sancho consegue que o Algarve passe também a ser retratado por esses artistas, o que acaba por ajudar a projetar a própria região.

“Almada Negreiros, Eduardo Viana ou Mário Eloy são apenas alguns nomes de um leque substancial que ele conseguiu trazer ao Algarve, expor e, no fundo, criar um fascínio por esta região”, refere Marco Lopes, notando que alguns passavam temporadas no Algarve a fazer o que hoje seriam residências artísticas.

A exposição, que estará patente em Faro até 15 de fevereiro, seguirá depois, noutros formatos, para o Museu Rafael Bordalo Pinheiro, em Lisboa, e o Museu do Traje, em São Brás de Alportel.

A mostra foi organizada no âmbito de um projeto de mestrado defendido na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, realizado por Joana Galrão e orientado por Fernando Rosa Dias, curador científico da exposição.

Para o próximo ano, o Museu Municipal de Faro vai receber obras sob o tema da paisagem do acervo do Museu Nacional de Arte Antiga, encerrado para requalificação, nomeadamente da pintora Josefa de Óbidos.

 

Lusa