O aparecimento de espécies invasoras no estuário do Guadiana tem vindo a aumentar nos últimos anos, com mais de uma dezena de espécies registadas, incluindo peixes, amêijoas, alforrecas, camarões e este caranguejo, disse à Lusa Alexandra Teodósio, professora na Universidade do Algarve e responsável pela monitorização destas espécies no rio.
Todos os meses, uma equipa de investigação do Centro de Ciências do Mar (CCMAR) da Universidade do Algarve (UAlg) recolhe amostras de água no rio, mede a temperatura e também os níveis de salinidade, um projeto que depende também da colaboração dos pescadores, que são quem "descobre" as novas espécies.
"Tem sido através desta colaboração que temos conseguido encontrar e detetar estas espécies novas de uma forma mais consistente", frisa a bióloga, que ao longo dos últimos 20 anos tem assistido ao aparecimento de novas espécies no Guadiana e ao aumento da densidade de outras que já existiam.
Segundo a investigadora, o objetivo da monitorização é acompanhar as alterações que estão a ocorrer no rio associadas à construção das barragens e às alterações climáticas, para "avaliar o quão saudável o ecossitema estuarino está, mas também podermos retirar, se for o caso disso, espécies com potencial interesse económico".
"Os pescadores, muitos dos quais enfrentam dificuldades, usarem estas espécies novas ou invasoras, que podemos controlar a sua biomassa, com uma exploração sustentável, é o que pretendemos", refere a professora da UAlg, que para o ano quer implementar um projeto para ministrar ações de formação aos pescadores.
Os primeiros estudos arrancaram no final da década de 1990, coincidindo com a construção da barragem do Alqueva, situada no rio Guadiana, no Alentejo, data que serviu de ponto de referência para a monitorização da evolução das condições do rio e das espécies que nele habitam.
Os dados recolhidos mensalmente pelos investigadores do CCMAR são depois publicados 'online' no sítio de Internet do Conselho Internacional para a Exploração do Mar (ICES - International Council for the Exploration of the Sea), que disponibiliza dados de vários pontos do mundo.
Vânia Baptista, estudante de doutoramento na UAlg e que tem nos últimos dois anos integrado o projeto, explicou à Lusa que mensalmente são registados os parâmetros físicos da água, como o PH, a temperatura, a salinidade e o oxigénio, e recolhidas larvas de peixes e crustáceos para depois em laboratório serem analisados.
"Com as bases de dados que vamos fazendo conseguimos verificar, por exemplo, se o aumento da temperatura vai levar ao aumento de uma espécie ou se acontece o contrário", referiu, sublinhando que se verificou que a temperatura da água este ano foi mais elevada e que, mesmo em dezembro, ainda existem larvas de medusas.
Ricardo Gonçalves, que concilia a pesca no Guadiana com outra atividade profissional, contou que, nos últimos anos, têm surgido também espécies de peixes que eram tipicamente do mar, como o robalo ou a dourada.
Mais escassas são agora as espécies que eram mais habituais encontrar nos rios, como a enguia ou a lampreia, o que atribui ao aumento do nível de salinidade da água.
Por: Lusa