O grupo “Pela construção de uma ponte pedonal para a ilha de Cabanas” lançou uma petição ‘online’ que propõe a criação de uma travessia em madeira que ligue Cabanas, em Tavira (Faro), e a ilha barreira da Ria Formosa situada em frente à vila, permitindo “evitar longas filas” para as embarcações marítimo-turísticas que ligam os dois pontos, disse um porta-voz à Lusa.
O projeto poderia também garantir “o acesso à praia durante todo o ano sem depender das embarcações” que transportam as pessoas e “reduzir o número de embarcações”, algumas de pescadores, que proporcionam esse serviço, com “vantagens para o ambiente” e “a segurança marítima”, justificou José António Pinto, um dos elementos do grupo, criado por habitantes locais.
Apesar das vantagens apontadas pelos autores da petição, que conta com mais de 2.000 assinaturas, em cerca de um ano, o projeto não tem tido retorno das entidades oficiais, nomeadamente da autarquia, do Parque Natural da Ria Formosa, tutelado pelo Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF), ou a Docapesca, na qualidade de autoridade portuária, lamentou.
“Infelizmente não temos tido grande recetividade por parte de quem decide estas matérias. Mandámos ‘emails’, fizemos uma longa exposição, detalhada e documentada, mas não há vontade. A presidente [da Câmara de Tavira] publicamente tem dito sempre que é contra”, disse aquele porta-voz.
A agência Lusa tentou, sem sucesso, obter uma posição relativamente à proposta da criação de uma travessia pedonal entre as margens da Ria Formosa, em Cabanas, da presidente da Câmara de Tavira, Ana Paula Martins (PS), do diretor regional do Algarve do ICNF, Joaquim Castelão Rodrigues, e da Docapesca.
Questionado pela Lusa sobre as condições de segurança marítima na zona, o capitão do porto de Tavira disse que a decisão de construir a ponte “não depende da capitania”, e explicou que “operam na zona diversos operadores”, obrigados “a adaptar-se ao tráfego existente”, sobretudo em termos de “velocidade”, sendo regularmente “fiscalizados pela Polícia Marítima”.
“Relativamente à segurança, nós tivemos lá um acidente o ano passado, mas desde que eu cá estou, há três anos, foi o único”, acrescentou Rui Vasconcelos Duarte, reconhecendo que “é um facto que circula muita gente” naquela zona do sotavento (leste) algarvio no verão.
A mesma fonte referiu ainda que essas “são as condições particulares da zona” e frisou que uma eventual ponte teria de ser construída com especificações que permitissem a circulação marítima na parte inferior, embora as embarcações que lá operam não sejam “de grandes dimensões”.
José António Pinto, por seu turno, criticou que tenham sido apontados “alguns falsos argumentos” , como a ideia de que a existência de uma ponte iria contribuir para “massificar o turismo em Cabanas” e levaria “muita gente para a ilha”.
“Isto é um contrassenso da própria presidente, porque a massificação chama-se turismo e o número de pessoas é condicionado pelo número de camas que há e não por uma ponte”, contrapôs, frisando que a falta da travessia obriga as pessoas a optarem pelo barco, com custos de “dois euros por pessoa”.
A mesma fonte lembrou que, nos principais meses de verão, as embarcações responsáveis pelo transporte de passageiros entre as duas margens da ria não têm capacidade para evitar a acumulação de pessoas, sobretudo para o regresso à vila ao final do dia, havendo “número elevado de barcos a circular” com “prejuízos para o ambiente e para a própria segurança” marítima.
“Termina o verão, terminam as carreiras regulares. E, embora possa haver um barco ou outro a fazer a travessia, as pessoas não vão pagar dois euros por pessoa para irem passear ou fazer exercício na praia uma hora. A ponte também permitiria isso”, sustentou, apontando como possível motivo para a falta de apoio das autoridades “o ‘lobby’ das embarcações marítimo-turísticas”.