“Um comando de Faro capaz de responder a tempo e horas, como se costuma dizer, [precisaria de] um efetivo de 1.500 profissionais. (…) Porque para responder a tudo, 2.000 polícias seria o ideal”, afirmou João Francisco sobre as necessidades de efetivo para todo o Algarve.
O dirigente sindical admitiu, porém, que o cenário de dois mil agentes se trata de uma previsão “irrealista, inatingível e impensável”.
“Porque os governantes talvez não pensem assim. E também [porque] ninguém quer vir para esta profissão ganhar pouco e com um risco cada vez maior”, justificou.
O dirigente da ASPP/PSP falava à Lusa junto à sede do Comando Distrital de Faro da PSP onde a associação iniciou hoje um ciclo de protestos que, até segunda-feira, vão prosseguir em vários pontos do país, visando “demonstrar a insatisfação pelas políticas que não têm respondido aos problemas graves que afetam a PSP e a segurança interna”.
Cerca de duas dezenas de agentes da PSP estiveram presentes no protesto, exibindo camisolas onde se lia “Mais uma ‘cruz’ que carregamos” e cartazes com as mensagens “Polícias desmotivados”, “Polícias incompreendidos”, “Polícias esquecidos”, “Polícias abandonados”, “Polícias envelhecidos” e “Polícias low-cost”, entre outras.
À mesma hora, cerca das 17:30, dirigentes nacionais da ASPP estavam reunidos com o ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, depois de terem feito o pedido para um encontro.
Explicando que a fraca capacidade de atração de efetivos para a PSP entronca numa das reivindicações da ASPP/PSP neste ciclo de protestos de exigirem a revisão da tabela salarial, João Francisco sublinhou que “os ordenados são baixíssimos para a função” desempenhada.
“Nós queremos uma tabela salarial verdadeira e atrativa, que traga jovens para esta corporação, porque a polícia está muito envelhecida”, exigiu, lembrando que o problema do envelhecimento no efetivo vai agravar-se muito na região algarvia ao longo dos próximos anos.
Questionado sobre o aumento médio de 20% das condições salariais entre 2023 e 2026, prometido pelo ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, o dirigente da ASPP desvalorizou e pediu “números concretos”.
“O senhor ministro diz à boca cheia que os polícias têm um subsídio de risco de 100 euros. É falso. Nós tínhamos um suplemento fixo de 30 euros e o ministro juntou mais 69. Isso, líquido, dá para aí 40 [euros]. E o senhor ministro tem de abandonar a célebre frase de que ganhamos bem em relação ao bónus. O bónus, o chamado gratificado, diz respeito a serviços que os operacionais fazem em tempo de descanso ou em dias de folga. Portanto, há operacionais que não fazem. Sendo assim, esses polícias não têm bónus”, acrescentou.
Em relação às condições de trabalho no Comando Distrital de Faro da PSP, João Francisco assinalou a falta de meios automóveis descaracterizados para a brigada de investigação criminal e para a fiscalização.
“Isso é [um problema] transversal, de Lagos até Vila Real de Santo António. Os meios são muito curtos para o trabalho que é exercido todos os dias neste comando de Faro. As pessoas não pensem que é só no verão que há trabalho aqui, isto é um comando sempre com muito trabalho e os profissionais estão desgastados, cansados, porque o efetivo é curto e os meios são poucos”, sustentou.
Segundo a ASPP, as principais reivindicações dos polícias são os baixos salários, pré-aposentação, falta de atratividade da profissão e o subsistema de saúde.
As várias ações de luta de contestação “às políticas deste (des)governo” vão acontecer na sexta-feira em frente ao Comando Metropolitano da PSP do Porto, no sábado com um concentração no jardim Almoinha Grande, em Leiria, e terminam na segunda-feira junto ao Comando Metropolitano de Lisboa.
Por: Lusa