Terça a quinta e domingo, 15h às 20h
Sexta a sábado, 15h às 22h
Encerra às segundas-feiras.
Nova criação de Tiago Cadete revela a voz de migrantes latino-americanos que vivem em Portugal e em Espanha.
Quem são os novos migrantes? E que desejos têm quando migram para o país que os colonizou? O novo projeto do artista Tiago Cadete - CONCERTO - foi criado com a cumplicidade de 20 migrantes latino-americanos residentes em Alcobaça, Pombal e Granollers (Catalunha), cujos testemunhos compõem o texto da performance. Uma plateia vazia é palco de um concerto de múltiplas vozes, formando uma partitura que revela processos migratórios contemporâneos em justaposição com a história colonial. O resultado é um concerto sem corpo, um concerto fantasmagórico de vozes.
O espetáculo estreou a 5 de Maio de 2023 em Alcobaça, inverte a relação tradicional numa sala de teatro, colocando o público em palco. Sentados, os espectadores ouvem as histórias de migração pela voz dos próprios migrantes, projetadas por vinte colunas
negras que povoam a plateia. CONCERTO é a composição sonora com as vozes dos que, invisíveis, usualmente não escutamos.
O artista português apresenta assim o resultado de quatro residências artísticas, em Portugal e na Catalunha, onde trabalhou com dezenas de participantes. Conheceu e recolheu as suas histórias de migração, num processo ao abrigo do projeto Stronger
Peripheries: a Southern Coalition, um desafio lançado em Portugal pela Artemrede (coprodutor do espetáculo).
SINOPSE
Uma plateia vazia é palco de um concerto de múltiplas vozes de migrantes latino americanos que vivem em Portugal e Espanha. Os seus depoimentos formam uma partitura que revela processos migratórios contemporâneos em justaposição com a história colonial. Quem são esses novos migrantes? E que desejos eles têm quando migram para o país que os colonizou? Uma inversão do palco e do público, dando voz a quem normalmente assiste. A plateia torna-se um palco, e o palco torna-se uma plateia. Um concerto sem corpo, um concerto fantasmagórico de vozes.
CALENDÁRIO
10 - 24 Fev 2023 >>> Residência de pesquisa @ Casa Varela
27 Fev a 12 Mar 2023 >>> Residência de pesquisa @ CAM - Levant Teatre (Granollers, Catalunha)
13 - 26 Mar 2023 >>> Residência criativa @ TAG - Llevant Teatre (Granollers, Catalunha) 01- 15 Abr 2023 >>> Residência técnica @ Centro Cultural da Malaposta 21- 24 Abr 2023 >>> Residência criativa @ Casa Varela + Cine-Teatro Pombal 24 - 29 Abr 2023 >>> Residência criativa @ Alcobaça
05 - 06 Mai 2023 >>> Estreia / apresentações @ Cine-Teatro Alcobaça 12 -13 Mai 2023 >>> Estreia / apresentações @ TAG - Llevant Teatre (Granollers, Catalunha)
06 Set - 15 Out 2023 >>> Instalação em permanência, Fábrica da Cerveja Faro
Nos últimos anos tenho desenvolvido um trabalho de pesquisa e investigação que lidam com os conceitos de história, memória e identidade. Geralmente parto de materiais documentais ou crio novos documentos, para estabelecer relações críticas sobre os mesmos. Parto ainda da minha biografia para enquadrar a minha pesquisa. Nasci em Faro, na região do Algarve, que no final dos anos 90 não tinha ainda um grande movimento cultural e artístico. Nesse sentido, tornei-me migrante regional ao escolher a cidade de Lisboa como lugar para iniciar a minha formação universitária no campo
artístico. Em Lisboa iniciei as minhas aproximações às práticas contemporâneas tanto das artes performativas como visuais. Criei os meus primeiros trabalhos autorais bem como colaborações com diferentes artistas das áreas do teatro e da dança. Diversas instituições apoiaram o meu trabalho de criação como artista emergente. Mas foi no ano de 2013 que decidi por questões socioeconómicas e políticas migrar para o Brasil. Contemplado com uma bolsa de estudos da fundação de gestão dos direitos dos artistas, completei uma formação em dança com foco na pesquisa de movimento em Laban. Essa ida que parecia a partida momentânea, tornou-se mais longa.
Esse processo de migração apresentou-se como transformador para a construção da minha identidade e consequentemente para a minha pesquisa artística. Viver num país com ligações históricas ao meu, me recolocou em outra posição. Que lugar ocuparia nessa história colonial e que factos históricos tinha assimilado e que se apresentavam incorretos? Nesse processo de procura decidi continuar a minha pesquisa universitária na área da crítica e experimentação artística. Nesse sentido fiz o mestrado em artes da universidade federal do rio de janeiro, pesquisando as construções pictóricas dos últimos 500 anos e suas representações. A pesquisa teórica acompanhou a pesquisa prática na criação da performance “Alla prima” que foi apresentada tanto no Brasil como em Portugal. O contraste entre esses dois olhares foi decisivo para pensar que deveria continuar a investigar mais profundamente as relações entre os dois países. Nesse sentido ingressei no Doutoramento da mesma instituição do mestrado criando nos últimos 5 anos performances e objectos, que lidam com o processo migratório destas duas comunidades, bem como relações territoriais que as separam, como o é o caso do oceano atlântico. Esses objectos por vezes lidam com a participação direta ou indireta dessas comunidades que se espelham nos objectos finais.
Durante este percurso tive oportunidade de apresentar internacionalmente o meu trabalho com foco na América latina e Portugal. Nesta fase do meu percurso gostaria de ampliar as relações internacionais no continente europeu, fomentando as trocas de ideias e tensionando os conceitos de sul europeu e sul global.
Em cada projecto lido com diferentes modos de participação. O projecto “Entrevistas” parte de um conjunto de entrevistas feitas a migrantes portugueses a residir no brasil nos últimos 10 anos, esses depoimentos foram o corpo de trabalho para desenvolver uma aproximação com a minha própria biografia. O projeto “Alla Prima” teve a
contribuição de depoimentos descritivos de vários artistas visuais brasileiros que descreviam obras de arte brasileiras e que as suas descrições faziam parte da performance. O projecto BRASA contava com dois grupos de migrantes que escolheram, opostamente o país para migrar, ou seja, um grupo de artistas migrantes brasileiros a viver em Portugal e um grupo de artistas migrantes portugueses que já viveram no brasil. Todo o trabalho questionava as relações entre estes dois grupos.
As formas de participação da comunidade adaptam-se a diferentes condicionantes, sejam elas de origem, monetárias, ou até mesmo conceptuais. Para mim, a participação pode abranger diversos níveis, sejam eles mais ou menos visíveis, contudo essa é uma prática que gostaria de dar continuidade em futuros projectos.
O novo trabalho que estou neste momento a criar resulta de um concurso organizado pelo projecto europeu: Stronger Peripheries: A Southern Coalition, co-financiado pelo programa Europa Criativa da União Europeia. Deste projecto fazem parte diferentes países europeus, concentrados na bacia do mediterrâneo que querem, conjuntamente com os artistas, pensar a ideia de sul. O projeto que participo tem como nome “Having a Voice” e será uma oportunidade de conectar pensamento e reposicionamento de conceitos como os diferentes suis.
Apesar de ser cidadão europeu sempre lidei com a ideia de uma identidade a sul. Nascendo no Algarve, região mais a sul de Portugal que por sua vez se situa a sul da europa. Essa vontade de descobrir outros suis foi o que me levou a ir para o brasil e desenvolver pesquisa e trabalho nessa região que abarca o sul global. Encaro esta experiência como uma oportunidade de partilhar e absorver ideias sobre essas marginalidades geográficas que dependem intrinsecamente do conceito de norte hegemónico.
Quando me deparei com o tema da call “Having a Voice” várias questões surgiram: Quem tem uma voz? Que voz interessa ter? Quem escuta? e que meios são usados para essa difusão. A contemporaneidade e seus modos digitais parecem democratizar o acesso e difusão de diferentes vozes que no passado foram oprimidas.
Actualmente é possível encontrar nichos de pensamento que outrora não tinham espaço e representatividade e que contribuíam para a ideia de uma história única. Novos músicos são escutados, outros artistas visuais ocupam espaços em museus, diversos grupos levantam temas minoritários mas que conseguem aparentemente chegar aos
seus interlocutores. A internet como última ferramenta que consagra a globalização parece criar um simulacro do que seria o mundo sem fronteiras materiais uma utopia da migração das ideias. Contudo sabemos que essa democratização é aparente. Não basta apenas ter uma voz mas sim como ela se difunde e é nesse campo que os algoritmos usados em plataformas de difusão parecem ser uma ameaça.
Em meados de 2004, a internet hospedava cerca de 9 milhões de blogs autobiográficos, enquanto a quantidade de leitores não chegava a 14 milhões. Em 2007, calculou-se que 140 milhões de usuários já produziam conteúdos para canais virtuais interativos, enquanto o número de leitores e espectadores estimados para todo esse material era mais ou menos equivalente. Baseado nessa amostragem de dados, seria possível afirmar que ocorreu um aumento significativo no número de vozes e consequentemente de autores – portanto, uma tendência rumo à democratização da fala – e, ao mesmo tempo, ocorreu uma forte queda do público leitor/escuta.
Muitas vezes essa fala funciona apenas como uma câmara de eco que diz mais sobre quem fala do que sobre quem escuta. Nesse sentido, importa mais do que ter uma voz pensar como ela se difunde e se multiplica.
Os últimos dois anos, onde fomos forçados mundialmente a usar ainda mais os dispositivos digitais, foram reveladores deste dilema aparentemente democrático. E com essa experiência exaustiva, foram valorizados os espaços de troca de ideias não digitais como os espaços ao ar livre, os edifícios teatrais, discotecas, entre outros.
Poderá a arte contribuir para essa ampliação de vozes? Acredito que sim. Talvez não como um megafone mas por uma rede de afetos que se ramifica a partir da arte. Um procedimento mais lento, comparado aos fluxos contemporâneos, contudo mais sedimentado.
Dando continuidade à minha pesquisa, colaborei com grupo de migrantes latino americanos que escolheram Portugal e Espanha para residir. As suas vozes foram ampliadas por um dispositivo de 20 colunas de som espalhadas na plateia de um teatro
onde o público sentado do palco assiste a um CONCERTO de vozes. Tiago Cadete
EQUIPA
Criação, desenho de som e luz: Tiago Cadete
Desenho de som: Nico Espinoza
Com a participação de: Alina Canosa; Alison Rojas; Angel Arteaga; Damariz Ushiña; Danitsa Cabrera López; Elida Hernández; Emilsón Henry; Esther Lozano; Ikebana Cabrera; llonka Flores; Jonathan Zapata; Kevin Mazariegos; Leonela Rendón; Lucía de la Maza; Melody A.; Paulina Tovo; Roxana Gomez; S. Martínez; Sergio Del Rio; Thais Peixoto; Vinicio Figueredo
Produtora: Ana Lobato
Mediadores (PT): Jonnathan Zapata e Pablo Peixoto
Mediadora (CAT): Laura Colomé
Transcrição e tradução: Diana Cadete e Lucía de la Maza
Assessoria de imprensa: Mafalda Simões
Produção: Co-pacabana
Co-Produção: ARTEMREDE (PT), em associação com os Municípios de Alcobaça e Pombal e Transversal (CAT), em parceria com o Município de Granollers, em Tandem no âmbito do projeto Stronger Peripheries: A Southern Coalition Residências: Casa Varela – Centro de Experimentação Artística e Cine-Teatro de Alcobaça João d’Oliva Monteiro (PT), CAM – Centre d’Arts en Moviment Roca Umbert (Centre for Moving Arts) e TAG – Teatre Auditori de Granollers / Llevant Teatre (CAT).
Apoio à Residência: Centro Cultural da Malaposta
Apoios: Servei de Nova Ciutadania; CNL Granollers; Casa-Atelier Vieira da Silva Projecto financiado por: Stronger Peripheries: A Southern Coalition, co-financiado pelo programa Europa Criativa da União Europeia e pela República Portuguesa - Cultura / Direção-Geral das Artes
M16 | 45min aprox.
BIOGRAFIAS
_Tiago Cadete (Portugal)_
Criação, desenho de som e luz
Artista Transdisciplinar. Doutor em artes PPGAV-UFRJ, onde é mestre pela mesma instituição. Foi bolseiro da GDA- Gestão dos Direitos dos Artistas na Pós Graduação em Sistema Laban/Bartenieff- Faculdade de dança Angel Vianna/ Laban. É licenciado em Teatro pela Escola Superior de Teatro e Cinema. Tem o curso Aprofundamento_Criação Artística Escola de Artes Visuais Parque Lage. Criou os espetáculos BRASA (2021); ATLÂNTICO (2020); FIUME (2020); CICERONE (2020); ENTREVISTAS (2018); ALLA PRIMA (2016); GOLDEN (2014); HIGHLIGHT (2011). Colaborou com Solange Freitas em CORTEJO (2022); com David Marques em APAGÃO (2017) e CRITIQUE (2020); com Solange Freitas e Catarina Vieira em FESTIM (2012) Entre 2011 e 2013 colaborou com Raquel André tendo criado: TURBO_LENTO (2013); LAST (2012) e NO DIGITAL (2011).
_Nico Espinoza (Chile)_
Desenho de som
Compositor e artista transdisciplinar atualmente radicado em Lisboa. Seu trabalho explora as relações entre diferentes escalas da realidade por meio da invenção de sistemas auto-organizados, e suas composições, performances e instalações foram exibidas na América Latina e na Europa. Ele também trabalha como designer de som, designer de experiência interativa e curador (no contexto de novas mídias) para estúdios criativos e instituições como Maotik Studio, Mote Studio, Humboldt-Universität zu Berlin, cactus.is, JPG.ARQ e Festival Multiplicidade . Ele possui um M.A. em Sound Studies and Sonic Arts pela University of the Arts Berlin (UdK Berlin) e um M.Sc. em Eletrônica pela Universidad Técnica Federico Santa María (Valparaíso, Chile).
_Ana Lobato (Portugal)_
Produtora
Licenciada em História Moderna e Contemporânea (2006); Pós-Graduada em História, Defesa e Relações Internacionais (2009) e Pós-Graduada em Gestão e Estudos da Cultura, ramo de Gestão Cultural, ISCTE –IUL (2014). Entre 2003 e 2004 estudou na Facoltà di Scienze Politiche, na Universidade de Pisa – Itália, e, entre 2013 e 2014. Entre
2013 e 2019 residiu e desenvolveu a sua atividade profissional no Rio de Janeiro, onde trabalhou como produtora executiva em projetos artísticos e culturais, destacando-se o trabalho desenvolvido na produção de exposições de arte contemporânea. Desde 2019 vive e trabalha em Lisboa, onde tem desenvolvido a sua atividade profissional como produtora de artes performativas e visuais. Destaca-se a colaboração com a associação Co-pacabana na produção de espetáculos, nomeadamente “Cortejo” (criatório); “Cicerone” (Festival Temps d’Images) e “Atlântico” (Teatro Nacional Dona Maria II) do artista Tiago Cadete.