Numa missa celebrada hoje de manhã pelos membros do episcopado português na Capelinha das Aparições, no Santuário de Fátima, foi feita uma “memória sentida e orante daqueles e daquelas que partiram deste mundo, como vítimas diretas e indiretas da pandemia que vem afligindo o mundo há quase dois anos”, disse o também bispo de Setúbal no início da celebração, citado pela agência Ecclesia.
O prelado evocou em particular “as famílias que perderam os seus entes queridos, muitas das quais nem tiveram oportunidade de fazer o luto da consolação, da saudade e da esperança”, e destacou o papel dos que assistiram os doentes durante esta pandemia.
A ocasião foi aproveitada por José Ornelas para recordar “a dor das vítimas de todas as pandemias” e dos “abusos de todo o género”.
“São tempos não fáceis, de pandemia de covid e tantas outras pandemias, crises e dramas que povoaram os trabalhos destes nossos dias de Assembleia da Conferência Episcopal, particularmente o sofrimento dos mais frágeis, seja pela doença, pela idade nascente ou do seu ocaso, dos problemas da nossa família, da sociedade, da Igreja, do planeta em que habitamos”, disse o presidente da Conferência Episcopal.
Os bispos católicos portugueses estão desde segunda-feira reunidos em Assembleia Plenária em Fátima, com o tema dos abusos sexuais no seio da Igreja como tema dominante dos trabalhos.
A constituição de um grupo coordenador nacional das 21 comissões diocesanas de proteção de menores e adultos vulneráveis é uma das medidas cujo anúncio é esperado para o início da tarde de hoje, no final da Assembleia Plenária.
Quando o presidente da CEP anunciar as conclusões da reunião, a expectativa estará voltada para a possibilidade de, além da criação deste grupo coordenador, se ir mais além, dando resposta positiva ao apelo de mais de 270 católicos no sentido de ser empreendida uma investigação independente sobre os abusos no seio da Igreja.
Na segunda-feira, aquele grupo de católicos enviou uma carta à CEP, defendendo que “não existe alternativa” e que aquele órgão “deve tomar a iniciativa de organizar uma investigação independente sobre os crimes de abuso sexual na Igreja”.
O documento, assinado por figuras como a escritora Alice Vieira, o deputado José Manuel Pureza, o jornalista Jorge Wemans ou o ex-presidente da Cáritas, Eugénio Fonseca, é perentório: “Se queremos manter um diálogo com a sociedade a que pertencemos e que servimos, não existe alternativa!”.
Nesse dia, o presidente da Conferência assegurara que a Igreja portuguesa tudo fará para “proteger as vítimas, apurar a verdade histórica” e impedir situações de abuso sexual no seio da instituição.
Na abertura da 201.ª Assembleia Plenária da CEP, o também bispo de Setúbal, José Ornelas, disse que o tema é “desafiador para toda a sociedade” e que a Igreja o toma “como prioritário”.
“É um dos assuntos desta Assembleia, no propósito de verificar os processos em curso, articular melhor as instâncias diocesanas e a coordenação nacional, de modo a oferecer oportunidades seguras e fiáveis no acolhimento de denúncias e acompanhamento às vítimas de abusos, na clarificação de processos e, sobretudo, na formação de pessoas”, disse o presidente da Conferência Episcopal, deixando a garantia: “Faremos tudo para proteger as vítimas, apurar a verdade histórica e impedir estas situações dramáticas que destroem pessoas e contradizem o ser e a missão da Igreja”.