A presidente da Câmara de Tavira, Ana Paula Martins, contou hoje à agência Lusa que, na semana passada, a PSP contactou a autarquia após detetar um grupo de trabalhadores rurais, de origem indiana, que estavam num jardim público a tentar contactar a linha Saúde24 porque um deles “não se estava a sentir bem”.
As autoridades reencaminharam estes trabalhadores para os serviços de saúde, tendo o homem que se sentiu mal sido “transferido para o hospital” de Faro, e procederam à identificação dos restantes membros do grupo.
Segundo a autarca, os restantes membros “não estavam a trabalhar em nenhuma exploração agrícola”, tinham vindo de Serpa, no distrito de Beja, “no dia 26 ou 27 de março e estavam a morar num armazém na freguesia de Santo Estêvão”, em Tavira.
Durante a identificação, alguns dos elementos do grupo também começaram a “apresentar sintomas” de covid-19 e, em articulação com o delegado local de saúde, realizaram-se testes para despistagem de uma infeção pelo novo coronavírus a outras cinco pessoas, a par daquela que tinha sido internada no hospital.
“Os testes dessas seis pessoas vieram positivos e começámos a agilizar a transferência para a zona de apoio à população que tínhamos preparado no parque de feiras e exposições” da cidade, afirmou a autarca.
De seguida, foram realizados testes à totalidade do grupo porque “estavam confinados num armazém, que não tinha muitas condições”, na freguesia de Santo Estêvão.
Quando chegaram os resultados, “vieram mais 12 positivos”, elevando o número de contagiados para 18, dos quais três ficaram “hospitalizados” e 15 alojados no parque de feiras e exposições, onde há 40 camas preparadas para o efeito, quantificou Ana Paula Martins.
Sobre o número total de casos no concelho, Ana Paula Martins disse que “o boletim nacional dá conta de 24 casos, mas a autarquia só conhece 23”, os 18 da exploração e outros cinco casos de pessoas do concelho.
A autarca aproveitou para “tranquilizar” a população de Tavira face a um “aumento de casos de quase o dobro, de um dia para o outro”, no concelho, argumentando que se “tratou de um aumento muito circunscrito a este grupo, que está a ser controlado, monitorizado e vigiado”.
Os cidadãos alojados no parque de feiras estão a receber refeições do município, através da Cruz Vermelha, à semelhança dos que se encontram no armazém em Santo Estêvão, que estão em “isolamento obrigatório e vigiados” pelas autoridades de saúde, apesar de terem dado negativo nos testes, acrescentou.
Ana Paula Martins reconheceu que ainda falta apurar as circunstâncias exatas que levaram o grupo a ir para Santo Estêvão, “porque eles dizem que não estão a trabalhar”.
No entanto, o “contrato de arrendamento do armazém foi feito por uma empresa que pertence ao senhor que está hospitalizado em pior estado”, afetado por uma pneumonia bilateral, referiu a presidente da autarquia.
“Não conseguimos apurar como vieram, se vinham trabalhar, se já teriam alguma coisa em vista, mas acho que à partida viriam à procura de trabalho, porque nesta altura começa no Algarve a época dos frutos vermelhos, sobretudo da framboesa”, considerou.
A autarca reconheceu haver dificuldades de comunicação com o grupo devido à língua, porque “há dois nepaleses e os restantes são indianos”, tendo sido pedido apoio na tradução à embaixada da Índia.
Ana Paula Martins garantiu que outros grupos de trabalhadores rurais de explorações agrícolas do concelho “estão sujeitos aos planos de contingência dessas explorações”, onde são “monitorizados, feitas medições de febre e trabalham com distanciamento” para evitar novos “focos de contágio”.
Em Portugal, segundo o balanço feito na terça-feira pela Direção-Geral da Saúde, registaram-se 345 mortes, mais 34 do que na véspera (+10,9%), e 12.442 casos de infeções confirmadas, o que representa um aumento de 712 em relação a segunda-feira (+6%).
Dos infetados, 1.180 estão internados, 271 dos quais em unidades de cuidados intensivos, e há 184 doentes que já recuperaram.
Portugal, onde os primeiros casos confirmados foram registados no dia 02 de março, encontra-se em estado de emergência desde as 00:00 de 19 de março e até ao final do dia 17 de abril, depois do prolongamento aprovado na quinta-feira na Assembleia da República.
Por: Lusa