A sazonalidade e a diminuição da efetividade da vacina contra a covid-19 podem explicar o aumento do número de casos, revelou um especialista, acrescentando que a tendência se manterá se não houver um reforço da terceira dose.

“Existem dois fatores principais que entram aqui em jogo. Por um lado, o arrefecer da temperatura e, portanto, a sazonalidade que favorece o aumento da transmissão e por outro, a diminuição da efetividade da vacina ao longo do tempo”, afirmou Óscar Felgueiras, especialista em epidemiologia da Universidade do Porto.

Em declarações à agência Lusa, o especialista disse ser previsível que a tendência de crescimento de novos casos de infeção pelo SARS-CoV-2 se mantenha “semelhante” à verificada nas últimas quatro semanas, ainda que tal não seja “garantido”.

“Por enquanto, temos tido um ritmo de crescimento moderado, mas não é garantido que assim continue. Há de facto o risco de termos mais casos a um ritmo maior”, observou.

Para o especialista, é por isso importante um “reforço da proteção”, nomeadamente, ao nível da terceira dose da vacina contra a covid-19.

“Há estudos sobre a efetividade da 3.º dose da vacina que mostram que esta aumenta a proteção significativamente e é de todo aconselhável que os mais idosos se protejam”, salientou.

Ainda que em Portugal se espere um “menor impacto em números de novos casos” dada a cobertura vacinal face a outros países europeus, que atingem agora novos máximos de infeções, o especialista defendeu que a terceira dose da vacina é “particularmente crucial”.

“Torna-se particularmente crucial a questão da terceira dose porque tem um impacto particularmente notório se for dirigida aos grupos de maior risco que são os mais idosos”, defendeu.

A par de um reforço da terceira dose da vacina, Óscar Felgueiras disse ainda ser necessária uma alteração da “perceção de risco da população” face ao agravamento da incidência.

“Mesmo ao nível individual, torna-se mais aconselhável o uso de máscaras em espaços fechados que não estejam devidamente ventilados”, recomendou.

O especialista disse ainda que caso não se venha a assistir a um “abrandamento do crescimento”, Portugal não “está livre” de ultrapassar os dois mil novos casos de infeção diários.

“Nada leva a crer que aconteça na próxima semana, mas não estamos livres de tal acontecer em breve, se a trajetória se mantiver, vamos rapidamente atingir esse patamar”, salientou.

A covid-19 provocou pelo menos 5.028.536 mortes em todo o mundo, entre mais de 248,54 milhões de infeções pelo novo coronavírus registadas desde o início da pandemia, segundo o mais recente balanço da agência France-Presse.

Em Portugal, desde março de 2020, morreram 18.193 pessoas e foram contabilizados 1.095.337 casos de infeção, segundo dados da Direção-Geral da Saúde.

A doença respiratória é provocada pelo coronavírus SARS-CoV-2, detetado no final de 2019 em Wuhan, cidade do centro da China, e atualmente com variantes identificadas em vários países.