Artigo de Catarina Aguiar Branco, Médica Fisiatra / Medicina Física e de Reabilitação, Associação Portuguesa de Medicina Física e de Reabilitação (APMFR)

O Dia Nacional do Doente Coronário, criado pela Fundação Portuguesa de Cardiologia, comemora-se a 14 de fevereiro. Pretende chamar a atenção para o impacto da Doença Cardiovascular como da Doença Coronária, Aterosclerose e dos Fatores de Risco Cardiovasculares no indivíduo e família, Sociedade e Sistema de Saúde, bem como da possibilidade da diminuição desse impacto pelos cuidados de saúde integrados (onde se inclui a Reabilitação Cardíaca).

A Aterosclerose é uma doença vascular crónica, progressiva ao longo de anos, que se manifesta na idade adulta com inflamação crónica das artérias e placas ateroscleróticas, que diminuem o seu calibre e reduzem o fluxo de sangue e oxigénio às células. A Doença Coronária, resultante dessa redução de oxigénio, pode dar sintomas graduais ou ter início súbito (como por exemplo a dor no peito em aperto, irradiada para o braço esquerdo, pescoço e queixo, com náuseas, vómitos, suores frios, falta de ar, e cansaço com pequenos esforços), podendo causar Enfarte Agudo do Miocárdio ou até morte súbita.

São muitos os fatores de risco cardiovasculares identificados em Portugal, desde colesterol e triglicerídeos elevados em mais de 60% da população adulta; hipertensão arterial em cerca de 43% da população adulta; obesidade, em quase metade da população; tabagismo, com mais de 2 milhões de fumadores ativos; diabetes com mais de 1 milhão de doentes identificados; baixa atividade física regular; hábitos alcoólicos elevados ou stress emocional não controlado, entre muitos. Mas sabe-se que 65% destas doenças crónicas são evitáveis, desde que se adote estilos de vida mais saudáveis, desde comer melhor ou praticar exercício físico regular, no fundo evitando muitos destes fatores de risco.

Em Portugal, a Doença Coronária aguda é uma das principais causas de morte e atinge cerca de 10 mil pessoas/ano, com anos de vida perdidos pela mortalidade prematura ou vividos com incapacidade com consequente aumento dos recursos e custos na Saúde. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), é a sexta causa de perda de anos de vida saudável.

Os doentes com doença coronária beneficiam de programas de reabilitação cardíaca porque a reabilitação cardíaca é um direito fundamental de todos e na saúde do Séc. XXI. Aliás, a Resolução da Assembleia Geral da OMS, de maio de 2023, determina a necessidade do “Reforço da Reabilitação nos Sistemas de Saúde”.

Estudos científicos mostram que após um evento coronário agudo, a reabilitação cardíaca reduz a mortalidade em 25%, diminui as hospitalizações, apressa o retorno laboral, diminui o risco de novos eventos comparativamente com aqueles que não a realizaram. Vai ter impacto muito significativo na Qualidade de Vida destes doentes.

Realiza-se numa intervenção multiprofissional em equipa (Cardiologista, Médico Fisiatra, Fisioterapeuta, Enfermeiro, Nutricionista, Psicóloga, Psiquiatra, Pneumologista, entre outros), visando a recuperação e manutenção da condição física, psicológica, social e laboral, após um evento cardíaco agudo ou na Doença Coronária crónica.

A reabilitação cardíaca inclui exercício físico adaptado e individualizado, mudanças positivas de hábitos de vida, redução e controlo dos fatores de risco, para reverter ou atrasar a progressão da Doença Coronária.  É realizada no internamento hospitalar, ou em meio hospitalar com doente externo ou até em centros extra-hospitalares, obrigando a uma equipa de profissionais de saúde qualificados, coordenados e supervisionados por Médico Cardiologista ou Fisiatra, com condições próprias de espaço e equipamentos.

Em Portugal, os programas de Reabilitação Cardíaca têm uma baixa taxa de doentes com menos de 10% dos Enfartes Agudo do Miocárdio elegíveis, comparativamente a uma taxa média europeia superior a 30 %! A grande maioria dos doentes e familiares não têm conhecimento destes programas, acesso ou são referenciados. Atendendo ao impacto das Doenças Coronárias, é urgente que o Sistema de Saúde crie respostas adequadas às necessidades de Reabilitação Cardíaca, melhore o acesso e a equidade, aumente os serviços com qualidade, segurança e eficiência clínica e de custos, nas várias instituições da Saúde (intra e extra hospitalares).

 

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