Os enfermeiros alertaram hoje para a sobrelotação no internamento do serviço de urgência do hospital de Faro, situação que o diretor clínico reconhece como «difícil», mas que atribui à falta de camas nas enfermarias dos hospitais do Algarve.

Em declarações à agência Lusa, a dirigente do Sindicato Democrático dos Enfermeiros de Portugal (SINDEPOR), Tatiana Oliveira, alertou para o elevado número de pacientes internados hoje naquele serviço no hospital de Faro, “originando o caos devido à falta de espaço e de equipamentos”.

“Não há camas nem macas para deitar os doentes e alguns têm mesmo que ficar na sala de espera. A situação provoca igualmente uma sobrecarga nos profissionais de saúde”, avançou.

De acordo com Tatiana Oliveira, a assistência aos doentes é prestada por cerca de quatro enfermeiros alocados ao serviço, "equipa que, por vezes, é auxiliada por um ou outro colega, do total de 14 enfermeiros das outras áreas do serviço de urgência”.

“Além da falta de recursos humanos, debatemo-nos também com a ausência de espaço físico e de equipamentos hospitalares, uma situação que tem sido recorrente nos últimos tempos”, apontou.

Segundo a dirigente sindical, o serviço de urgência do hospital de Faro teve durante o mês de setembro “uma média de 45 doentes diários internados à espera para serem colocados em enfermarias”.

“São doentes com diagnóstico e com planos de tratamento que deveriam estar em enfermarias”, reforçou.

Por seu turno, o diretor clínico do Hospital de Faro, Horácio Guerreiro, disse à Lusa que a situação verificada hoje de manhã, com 50 doentes no internamento da urgência, se “deveu à falta de disponibilidade nas enfermarias das especialidades”.

“Tínhamos apenas três vagas hoje de manhã, mas temos estado a fazer um esforço para aliviar o internamento, dando altas aos doentes que a possam ter”, referiu.

Horácio Guerreiro reconheceu que os 50 doentes internados na urgência “causam um grande distúrbio no funcionamento do serviço e põe uma pressão elevada sobre os profissionais de saúde, quer de médicos, mas sobretudo sobre a equipa de enfermagem”.

“A logística também é afetada porque o serviço acaba por ficar sem macas e sem camas, embora os equipamentos existam no hospital, mas não há espaço para as meter”, apontou.

O clínico lembrou que as instalações do hospital de Faro “não permitem aumentar o número de camas e ter uma urgência livre no internamento, um problema que se verifica há vários anos”.

Segundo Horácio Guerreiro, a sobrelotação dos internamentos em hospital deve-se sobretudo ao facto de o hospital estar a ter “extrema dificuldade em enviar os doentes recuperados para os seus domicílios”.

“Há situações em que as pessoas vivem sós e depois de adoecerem não ficam nas mesmas condições em que estavam antes e as famílias não conseguem recebê-las, e porque também as unidades de convalescença e de cuidados continuados não conseguem acolhê-las”, sublinhou.

Na opinião do clínico, a falta de camas para internamento “é um problema recorrente e estrutural no Algarve, porque ainda é insuficiente o número de estruturas de apoio e de suporte de retaguarda dos hospitais”.

“Há casos de famílias que deixam as pessoas nos hospitais” e “indigentes apanhados na rua que são trazidos para o hospital porque não existe outra saída imediata, deixando aos hospitais o ónus de arranjar soluções para cada caso”, concluiu.