JUVENTUDE SPORT CAMPINENSE | NOVOS DESAFIOS
O Juventude Sport Campinense conta já com um historial de respeito na vida da cidade e concelho de Loulé, não apenas num contexto estritamente desportivo, contribuindo para o lançamento de novos valores, como a nível social, proporcionando a inúmeros jovens uma ocupação saudável dos tempos livres.
Entretanto, com o efeito dramático que o COVID teve em todas as áreas de atividade, o desporto não foi exceção, constituindo em muitos casos um desafio à capacidade de sobrevivência de inúmeros clubes e associações. No que respeita ao Juventude Sport Campinense, e para melhor nos descrever os desafios e projetos do clube, conversamos com seu presidente, Nelo Alves.
A Voz do Algarve - Numa altura em que se começa a vislumbrar o fim da pandemia, que balanço faz desta fase mais conturbada que atravessamos, ou como o JSC conviveu com ela?
Nelo Alves -Foi um período bastante complicado para todos nós portugueses.
O Campinense, não foi exceção, e atravessou esse período difícil cumprindo sempre as normas recomendadas pela DGS. De repente, vimo-nos privados da nossa maior riqueza, enquanto clube, que são os nossos atletas.
Os nossos parceiros (patrocinadores), atingidos financeiramente pelas imposições governamentais, não puderam continuar a dar o seu contributo como sempre o fizeram.
Nessa fase, o Clube juntou-se à iniciativa de solidariedade da AFA na coleta de bens alimentares para entrega aos mais necessitado. Igualmente, o Clube levou a cabo uma ação de recolha de bens de primeira necessidade para as pessoas do concelho de Loulé, que passavam por momentos de dificuldade das suas vidas.
Contudo, aproveitámos esse período negro, em que o Clube esteve fechado, para organizar, restruturar e remodelar o salão principal da Sede. Foram colocadas vitrines nas paredes do salão, com alguns dos troféus conquistados ao longo de 74 anos de existência do Clube.
Hoje, é um orgulho para qualquer sócio ou simpatizante do Clube, entrar na Sede e poder observar troféus que fazem parte da sua história.
Na organização e restruturação passámos pelo processo de certificação da Federação Portuguesa de Futebol, a qual resultou na atribuição de 3 estrelas. Esta certificação foi muito positiva para o Clube, pois conduziu a uma melhor organização do mesmo, não obstante considerarmos que a mesma não está adequada à realidade dos clubes amadores. Quem pensou esta certificação, nos moldes que está, não considerou o facto dos clubes amadores viverem da carolice dos seus dirigentes. O processo de certificação exige muitas horas de trabalho, sendo difícil para os colaboradores dos clubes amadores disponibilizar tanto tempo para dar resposta às exigências da certificação, uma vez que têm o seu próprio emprego. Já nos clubes profissionais, os colaboradores trabalham lá, sendo remunerados, e por isso dispõem de mais tempo para dedicar aos vários requisitos da certificação.
VA - O ecletismo sempre foi uma das marcas deste clube: Com quantas e quais modalidades conta atualmente?
NA - Sim, o J.S. Campinense é um clube muito eclético, neste momento o Clube tem 6 modalidades em atividade, nomeadamente kick boxing, judo, ciclismo feminino, futsal sénior feminino, futebol sénior e futebol de formação.”
No kick boxing e no judo a pandemia fez muitos estragos devido a serem desportos de contacto. Estas duas modalidades, sendo os treinos praticados em recintos fechados, sofreram um decréscimo de atletas. Felizmente, ambas recomeçaram com grande energia para recuperar o tempo perdido. Ainda, no passado 03/10, o atleta de judo Diogo Pinto conquistou o primeiro lugar no Open Juvenil de Lisboa.
O ciclismo feminino, apesar de estar há poucos anos no Clube já tem grandes vitórias, como uma vencedora da taça de Portugal, Fiona Hunter-Johnston, uma campeã europeia, Daniela Campos, e, mais recentemente, a vencedora da primeira volta a Portugal em ciclismo feminino, Raquel Queirós.
O Futebol de formação é um projeto de sucesso, que conta já 8 anos, hoje reconhecido como uma das melhores escolas de formação do Algarve, com uma média de cerca de 400 atletas inscritos por época.
Este projeto veio preencher uma lacuna que existia no concelho de Loulé, O Clube dá oportunidade a qualquer criança de jogar futebol, mesmo que não tenha grande vocação para este desporto. Aliás, sendo mais craque ou menos craque, temos um tempo mínimo para cada atleta convocado jogar.
Para nós é importante formar o atleta, mas não menos importante é fornecer-lhe valores essenciais para o seu futuro, numa sociedade que necessita cada vez mais de pessoas solidárias e com boa formação humana.
O projeto da formação arrancou com o objetivo de fornecer jogadores para a equipa sénior. Esta foi constituída há cerca de 3 anos, contudo tem sido um processo mais complicado. Muitos atletas não querem esperar, ou seja, não dão tempo para poder-se constituir uma equipa forte com atletas da formação, procurando outros clubes em busca de grandes sonhos e depois esbarram em projetos apenas e só para o imediato.
Mesmo assim, continuamos a acreditar que é possível fazer uma equipa com base na formação e com ela subir de divisão.
Contamos, em todas as modalidades, com os melhores treinadores que poderíamos ter, homens de confiança, trabalho e com organização, alguns ligados há bastantes anos ao Clube com um historial de muitas conquistas, que têm feito de muitos jovens campeões nacionais.
VA - No que respeita a instalações e outras infraestruturas para a prática das mesmas, que tem a dizer?
NA - Relativamente ao edifício sede do Juventude Sport Campinense, temos um projeto muito interessante.
Pretendemos remodelar o nosso café/bar, queremos que seja um espaço onde, não só os sócios e atletas se sintam em casa, mas também todos os que desejem nos visitar. Será um local de convívio para que todos sintam o verdadeiro espírito do Clube.
Também está previsto a colocação de uma rampa de acesso às instalações, para que qualquer pessoa se desloque à Sede do Clube sem qualquer obstáculo estrutural.
Outra inovação, é a implementação de uma sala de fisioterapia, com os equipamentos necessários ao tratamento dos atletas lesionados, que desejamos que sejam poucos. Entre centenas de atletas, é de ter esta valência preparada para intervir quando necessário, e claro, técnicos habilitados.
Ainda está previsto, a remodelação dos balneários e colocação de iluminação em led no espaço de treino do kick boxing.
VA - Neste momento, que dificuldades e maiores desafios quer salientar?
NA - Uma grande dificuldade que temos no atual momento diz respeito à falta de espaços para os nossos miúdos da formação treinarem.
Presentemente, recorremos ao aluguer do espaço da Escola Secundária para podermos colocar todas as crianças, que pretendem praticar futebol, a treinar em boas condições, até porque temos a responsabilidade de cumprimento do Contrato Programa de Desenvolvimento Desportivo, celebrado com o Município de Loulé.
O Contrato Programa é vital para o Clube, pois sem esse apoio financeiro, material e logístico, a instituição não poderia sobreviver. Importa referir que temos sabido honrar esse compromisso, salientando que mais de 90% dos atletas pertencem ao concelho de Loulé, os quais praticam desporto em várias modalidades do nosso Clube.
Outra grande dificuldade que temos, e não sabemos ainda como resolver, é a lavandaria. Um clube como o J. S. Campinense deveria ter um espaço adequado com máquinas industriais para lavar os equipamentos das suas centenas de atletas.
Atualmente ocupamos um balneário no estádio Municipal Loulé, espaço cedido pelo Município, o qual agradecemos, equipado com máquinas de uso doméstico, mas não constitui uma solução definitiva, pois o espaço pequeno e as máquinas não reúnem as condições necessárias para tratamento de grandes quantidades de equipamentos. Por outro lado, trata-se de um balneário que fica a fazer falta para o efeito para que foi construído.
VA - Como vê o panorama desportivo no Algarve, sobretudo no que respeita a clubes congéneres!
NA - O desporto no Algarve tem vindo a crescer, hoje encontramos muitos mais jovens a praticar desporto e em muito melhores condições. Posso acrescentar como exemplo a qualidade dos campos, no meu tempo eram pelados e hoje, grande parte, são com relva sintética.
Os municípios têm desempenhado um papel muito importante no desenvolvimento do desporto, nomeadamente com a celebração dos contratos programas, que já referi, e melhoria das infraestruturas desportivas. Mas, igualmente importante é o trabalho desenvolvido pelas várias pessoas que dedicam quase todo o seu tempo livre à gestão dos seus clubes. Trabalho esse que não é remunerado, sendo desempenhado, literalmente, por amor à camisola.
Relativamente aos atletas de futebol, temos vindo a deparar com um problema que muito nos entristece, que é a saída para outros clubes, aliciados ou não, para uma carreira de sonho. Todos querem seguir esse caminho, mas sabemos que poucos o vão conseguir. Algumas vezes até acabam por querer retornar ao Clube.
Temos nós, dirigentes desportivos, de ter atenção a essa realidade. Não podemos prometer uma equipa forte, aliciando um atleta, apenas com a intenção de tornar o adversário mais fraco. Ao fazermos isso estamos a cometer dois erros, o primeiro não olhar para a qualidade e o futuro do atleta, o segundo erro, eu sendo a equipa poderosa e goleadora nunca posso desenvolver um atleta por mais talentoso que seja se não tiver um adversário forte. Poucos vão ser atletas profissionais, mas muitos podem ser dirigentes desportivos, treinadores ou algo ligado ao desporto nos clubes.
Nós, J. S. Campinense, temos um projeto do qual não abdicamos por qualquer resultado desportivo, em que a formação é o elo mais forte, assim como um compromisso com o Município de Loulé para colaborar no desenvolvimento dos jovens do nosso Concelho.
Vamos cumprir com as nossas obrigações, porque o Juventude Sport Campinense mais que um clube é uma família.
VA - Quais os desafios e projetos do JSC para o futuro imediato e a médio – longo prazo?!...
NA - Na parte da organização da prática do desporto, penso que está orientada e no caminho certo, mas estamos sempre atentos às melhorias.
Vamos continuar com a certificação, esta é sujeita a auditorias anuais.
Estamos a avaliar os projetos para remodelação da Sede, a sala de fisioterapia, o café/bar, colocação da rampa, balneários, iluminação, entre outros.
Pretendemos também recuperar o almoço convívio, que se realizava no feriado de 15 agosto. Trata-se de um evento que conta com a presença, também, dos sócios e colaboradores mais antigos que nos encantam com a partilha de histórias relacionadas com o Clube. É uma forma de juntar a família do J. S. Campinense, pessoas que tanto deram/dão ao Clube e nunca poderemos esquecê-los.
No aspeto competitivo, ambicionamos que a nossa equipa sénior possa estar na 1ª divisão distrital, pois esta divisão cativa mais os miúdos que vêm da formação.
Também queria fazer referência aos protocolos que o J.S.Campinense celebrou com os agrupamentos de escolas de Loulé, nomeadamente a Escola Eng. Duarte Pacheco, a Escola Padre João Coelho Cabanita e a Escola Secundária, que consiste em premiar os bons desempenho e comportamento dos atletas na escola e no Clube.
Da mesma forma, celebrámos protocolos com o Centro de Apoio Educacional Se Educa, com o Ginásio Sculptors Fitness & wellness e com a Clínica particular Siipemor, para que os nossos atletas usufruam de descontos.
Consideramos estas parcerias importantes, pois para além da missão do Clube consistir no cumprimento das suas obrigações desportivas, também nos preocupamos com o desenvolvimento do atleta enquanto estudante, numa sintonia que tem dado frutos.
É, assim, neste sentido que surge o slogan “O Juventude Sport Campinense mais que um clube é uma família”.