Atual provedor da Santa Casa da Misericórdia de Vila do Bispo e adjunto do Presidente da Câmara Municipal, Armindo Vicente foi convidado do programa «Olha Que Dois», com Nathalie Dias e Victor Gonçalves, onde falou, entre outros assuntos, sobre as possíveis incompatibilidades na ocupação dos dois cargos.

O seu voluntarismo, junto dos mais jovens, foi sendo uma das atividades que mais o entusiasmaram. Tem saudades desses anos?

Armindo Vicente – Sim. Eu trabalhei sempre com jovens e crianças e a minha formação sempre foi nessa área e penso que tenho alguma vocação, até porque os resultados assim o dizem. Juntamente com o Fernando Santana e a Junta de Freguesia, iniciámos um percurso que ainda não existia que era ter tempos livres.

 

A atividade social é também uma das suas linhas de orientação pessoal e, talvez por isso, tenha obtido uma Pós Graduação em “Direção, Organização e Sustentabilidade de Organizações Sociais” pela Universidade Lusíada. Tem tudo a ver com a sua filosofia de vida?

A.V. – Eu, seja no que for que entro, procuro fazer formação para ter competências para tal. Eu não cheguei a Provedor da Santa Casa de ânimo leve. Não vou entrar numa atividade destas sem ter competência.

 

Licenciou-se em Teologia. Em que consiste essa licenciatura?

A.V. – É a mesma formação que tem qualquer padre ou agente da igreja, isto porque se destina a formar os sacerdotes da igreja. Eu pensei que ia ser um sacerdote da igreja católica, acabei por sair e não acabar essa formação. Andei em Vila Viçosa, mas os meus pais, que viviam na zona da Beira, mudaram-se para Sagres e a minha relação com a vila começou assim. Os meus pais vieram trabalhar e tinham más condições, mas Sagres é, apesar de tudo, uma vila que recebe muito bem as pessoas que vão para lá trabalhar. Entretanto eu estava a formar-me no Alentejo, mas resolvi não continuar. Não teve a ver com mulheres (risos), foi uma decisão consciente. Não era aquele o meu lugar. Baseei-me muito no fator humano, quer a dar aulas quer na Santa Casa da Misericórdia, porque penso que tenho vocação para isso.

 

Quando tirou o Curso de Comandante Operacional da Proteção Civil, na Escola Nacional de Bombeiros, pensou alguma vez que poderia vir a ocupar um cargo adequado a essa formação?

A.V. – Eu sou adjunto do atual presidente da Câmara Municipal de Vila do Bispo, Adelino Soares, com quem gosto muito de trabalhar, tal como com a vereadora Rute Silva e toda a equipa. O presidente pediu-me que acompanhasse a parte da proteção civil, pois um presidente não é capaz de fazer tudo. Mas eu não tinha competências na área e por isso tive aulas. Tive seis meses a fazer essa formação, mas não tenho a responsabilidade de ser comandante da proteção civil porque tirei o curso apenas para me capacitar para esta nova função e servir o melhor possível a população.

 

Nos últimos anos, fez uma perninha na comunicação social escrita e falada, inclusive na rádio Sagres FM. O bichinho da comunicação também o picou e é para continuar?

A.V. – Não sei. Agora acho que é um bocado difícil meter mais coisas na minha vida porque, graças a Deus, tenho muita responsabilidade e tenho que ter consciência dela, por isso vejo com alguma dificuldade voltar à comunicação social. Mas, mesmo nas instituições, isso é hoje importante. A imagem é fundamental e quando eu entrei na Câmara Municipal essa era uma das minhas responsabilidades. Não tínhamos Facebook ou Twitter e o site tinha muitas limitações. Hoje em dia, a imagem da Câmara é completamente diferente. Na mesma lógica, quando entrei na Santa Casa da Misericórdia como Provedor, não tínhamos Facebook e agora já temos e, em breve, vamos ter um sítio na internet. A Santa Casa é prejudicada por não divulgar o que faz.

 

Foi ou é Presidente do Conselho Fiscal do Clube Recreativo Infante Sagres. Por missão ou por paixão?

A.V. – Por pedido do Santana (risos). Quando temos amizade por alguém, quando nos fazem um pedido, por mais ocupados que possamos estar, não podemos dizer que não. Eu estou num executivo que é do PS, mas prevalece sobre isto tudo o serviço à população e a amizade e foi nesta base que eu aceitei o convite do Santana. Sempre que surgirem convites destes e eu puder, até por obrigação para com a população, eu tenho que aceitar. É na união e a dar as mãos que conseguimos fazer uma Freguesia e Concelho melhores. Na minha tomada de posse, onde o Luís Paixão e o Fernando Santana estiveram presentes, eu tive a oportunidade de dizer que durante os quatro anos queria conseguir uma nova imagem perante as instituições. O meu primeiro ato foi precisamente com a Infante Sagres, cedendo um espaço que nós tínhamos do jardim infância, uma das salas maiores que temos do Centro Social de Sagres. Fizemos um protocolo com o clube porque o Fernando Santana pediu essa sala e queria pagar uma mensalidade, mas nós dissemos que não fazia sentido. Era para as nossas crianças e jovens e por isso nós cedemos gratuitamente o espaço através de um protocolo. Penso que não se vai limitar ao Clube Infante Sagres, por amizade vamos colaborar em muitas mais coisas. Queremos que a Santa Casa, pela capacidade e os 65 funcionários que tem, possa partilhar energias e chegar a mais pessoas.

 

A sua ligação à Misericórdia de Vila do Bispo já vem de longe, tendo sido professor de Animação Musical e Desenvolvimento Pessoal, no Jardim-Escola “Alvorada”. Como decorreu essa colaboração?

A.V. – Infelizmente, o Jardim-Escola “Alvorada” fechou na altura em que nós abrimos uma nova creche. A Santa Casa participou na abertura da primeira creche do Concelho. Mas a minha colaboração nesse Jardim-Escola tem a ver com a minha ligação a crianças e jovens e também porque a minha formação sempre foi muito ligada à música. Era uma das coisas  maravilhosas que eu fazia.

 

Fez também parte dos Corpos Sociais da Santa Casa da Misericórdia de Vila do Bispo durante três mandatos. Chegou à Presidência da Assembleia Geral da mesma num momento de grande turbulência interna. Conseguiu serenar os ânimos entre os irmãos?

A.V. – Esse é um período complicado de falar. O Presidente da Assembleia tem sempre a função de apaziguar. Houve ali várias ideias e várias correntes e houve algum inconformismo e insatisfação da parte dos irmãos, o que gerou alguma turbulência, mas penso que é um período que está ultrapassado. A iniciativa não partiu do Presidente da Assembleia mas sim de 30 irmãos, o que levou a um afastamento de pessoas que estavam na mesa administrativa. Eu apenas cumpri os estatutos daquela casa. E não cheguei a provedor por consequência disso, mas sim porque os membros que pertenciam à comissão administrativa me pediram e houve eleição de lista única. E tive o apoio do Bispo do Algarve.

 

Trabalhou no Gabinete de Apoio à Presidência da autarquia de Vila do Bispo nos últimos mandatos do social-democrata Gilberto Viegas e, mais tarde, no primeiro mandato de Adelino Soares. Nos corredores da política, tomou-lhe o gosto e acabou por apoiar o atual presidente da Câmara de Vila do Bispo, Adelino Soares, nas eleições de 2013 e foi nomeado seu adjunto. Como pensa conciliar o cargo de Provedor da Misericórdia de Vila do Bispo com o de adjunto de Adelino Soares?

A.V. – Isso foi uma das maiores dificuldades que tive quando as pessoas me vierem pedir para me tornar Provedor. Muitas vezes é difícil separar estas situações. Eu penso que consigo fazê-lo, mas se eu achar que não consigo fazer as duas coisas ao mesmo tempo, vou ter que optar.

 

Não vê qualquer incompatibilidade nessa acumulação?

A.V. – Numa comunidade tão pequena, todos têm ligações. Mas gosto de olhar para as coisas de uma outra forma: com tantos presidentes que não olharam para a Santa Casa, se tivermos o nosso atual presidente e o executivo a fazê-lo, isso é uma coisa muito positiva. Nós tivemos Presidentes da Câmara e executivos que não davam um tostão para a Santa Casa da Misericórdia.

 

Quantos utentes tem atualmente a Santa Casa da Misericórdia?

A.V. – A Santa Casa da Misericórdia tem dois lares, três centros de dia, três centros de convívio, a creche, presta serviço na loja social e no banco alimentar e tem serviço domiciliário. Nós, no total, temos perto de 200 utentes em potência.

 

E quantos elementos trabalham na Santa Casa da Misericórdia?

A.V. – Presentemente temos 65 trabalhadores, mas no fim deste processo, com a estabilização dos funcionários no lar e na creche, atingiremos certamente mais de 70. Temos mais, que são aquelas prestações de serviços e avenças, a nutricionista, a médica e CCP, que nos deverá levar a estabilizar nas cerca de 90 pessoas.

 

De onde provêm as verbas que alimentam as despesas da Santa Casa da Misericórdia?

A.V. – Três factores: primeiro, os acordes com o Instituto da Segurança Social; segundo aquelas que vêm do apoio das famílias; terceiro, e só agora mais recentemente, da Câmara Municipal. Temos uma outra verba do património, mas é residual, não chega a 5%. Isto para um total previsto deste ano de 1,6 milhões. É a maior instituição do Concelho e uma das maiores empresas.

 

Fale-nos da nova vertente da Misericórdia, localizada em Budens. Já está tudo a funcionar, tanto o lar como a creche?

A.V. – Já está tudo a funcionar. Temos capacidade para 66 crianças e pretendemos ter as seis salas abertas em setembro. Prevíamos ter em abril as três salas completas e já as temos e agora estamos em vias de abrir a quarta. O lar já tem 30 utentes, uma capacidade de 36 e já esgotámos a comparticipação da segurança social, que era de 25 utentes.

 

Esta entrevista foi realizada por Nathalie Dias e Vítor Gonçalves no Programa “Olha que Dois”, uma parceria da “Total FM” com “A Voz de Loulé” emitido no dia 09 de março.

Oiça aqui esta entrevista.

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