Apaixonada pelo mundo da música, fala-nos dos objetivos para a sua carreira e revela-nos ainda mais sobre os dois novos singles, que serão lançados em breve.
A Voz do Algarve (V.A.) - Como começou o seu gosto pela música?
Cristina Cherry (C.C.) - A música surge na minha vida desde os 5 anos. Desde essa altura que me lembro de querer ser cantora.
V.A. - Sempre teve o apoio dos seus pais e amigos? Certamente teve de lidar com alguns comentários menos positivos.
C.C. - O meu pai é cantor e faz atuações como Elvis Presley e a minha mãe (apesar de não cantar) sempre esteve envolvida na música, uma vez que ajudava o meu pai no gerenciamento da sua carreira. O apoio mais presente que tive foi o da minha mãe. O meu pai, como está dentro do mundo da música, acaba por saber o quão difícil é este percurso, mas nunca me deixou de dar a mão.
Sempre existiram pessoas a dizer que eu cantava bem, mas depois “desapareciam”. Uma coisa que qualquer artista precisa é de uma partilha ou comentário no seu vídeo e eu senti que, até uma fase da minha vida, isso nunca existiu. Até aos 14 anos eu sofria bullying porque gostava de cantar. Na escola cheguei a cantar para três mil pessoas e era alvo de brincadeiras de mau gosto. Quando vim estudar para a Escola Secundária de Loulé tornei-me “popular”, porque, em conjunto com as minhas duas irmãs Bárbara e Daniela criámos o grupo “Cherry” e ficámos conhecidas. A música começou depois a entrar mais na nossa vida, apesar de apenas eu querer seguir este caminho.
V.A. – O nome “Cherry” está relacionado com a escola e as suas irmãs. Conte-nos mais do porquê desta escolha.
C.C. - Na altura era muito popular nas escolas existir grupos com nomes. Como não tinha propriamente um grupo de amigas, pensei em juntar-me às minhas irmãs. Quando cheguei a casa, lembro-me de fazer uma lista com nomes de frutas em inglês. Depois de muito pensar, cheguei ao “Cherry”. Este nome representa mais do que a fruta, podemos dizer que significa também amor.
V.A. - Que artistas a influenciavam na adolescência e que artistas a influenciam agora?
C.C. - Quando eu era mais nova, era fã da Christina Aguilera, devido à sua voz cheia de poder e força, para além de ser uma mulher com bastante glamour. Também apreciava bastante a Marilyn Monroe devido à sua elegante postura. Quando me conheci melhor como artista, cheguei ao blues e comecei a admirar bastante o B. B. King. Atualmente, a artista que me mais me identifico é a Miley Cyrus pela garra que tem e pelo estilo mais voltado para o rock. Na minha música, quero transmitir genuinidade.
V.A. - Vivemos numa sociedade que usa as mais diversas formas artísticas (como a música) para passar mensagens. Temos o exemplo da Carolina Deslandes, que lançou recentemente um álbum recheado de temas dedicados ao empoderamento feminino. Os seus trabalhos também têm mensagens? Quais são?
C.C. - Exatamente. O empoderamento de que a Carolina fala, principalmente na música “Saia da Carolina”, pode ser feito de calças. Aqui desconstroem-se vários paradigmas. Quanto a mim e ao meu trabalho, uma das mensagens que quero passar, é a diferença entre sensualizar e sexualizar uma mulher. Com o tema “Girl of your dream” eu mostro essa distinção. No videoclipe existe a meu lado um homem no quarto, mas o público consegue identificar que não há perversidade, mas sim uma história de sensualidade e amor. Na letra fala em “ser persistente e recíproco”. Nesta questão de a música estar a ficar sexualizada, creio que isso está a mudar, mas houve uma fase em que tudo era voltado para o sexo. Eu tinha medo de ter de seguir esse percurso para chegar a algum lugar. Contudo, fui-me apercebendo que eu consigo chegar onde eu quero da forma como sou. Se eu mostro partes do meu corpo num vídeo, isso não quer dizer que eu esteja a sexualizar-me ou a apelar à perversidade.
V.A. - Aos 21 anos rumou aos EUA em busca de novas oportunidades na música. Quanto tempo esteve fora e como foi essa experiência? O que aprendeu?
C.C. – A mudança para os EUA foi a melhor coisa que me aconteceu em termos de aprendizagens e evolução. Eu trabalhei como empregada de mesa e hostess [termo em inglês que significa “anfitriã”/ “primeira pessoa a interagir com os clientes”] num restaurante, sendo esta última a função que desempenhei mais tempo, porque os responsáveis gostaram da minha imagem e da interação que tinha com os clientes. Estive oito meses na Florida e seis meses em Massachusetts. Viver em estados diferentes fez-me também perceber que todos os locais são muito diferentes. Eu fiz muitas atuações com outras bandas e conheci muitos músicos. O meu foco é internacional, mas neste momento sinto-me muito bem em Portugal.
V.A. – Temos aqui um primeiro single em inglês. O público pode esperar sempre músicas neste idioma?
C.C. - Diria que sim. Ainda assim, eu sempre escrevi em português e já afirmei várias vezes que quero avançar com algumas músicas na nossa língua.
V.A. – Tem já lançada a música “Girl of your dream”. O que nos traz este single? Qual foi a inspiração para fazer a letra?
C.C. - Eu inspirei-me no género blues. Criei a letra por improviso e, depois de passar tudo para o papel, comecei a corrigir algumas coisas e a ajustar alguns pormenores. Como já referi, a música fala de persistência e resiliência e esse tem sido o meu caminho. Para além destas questões, abordo ainda a diferença entre sensualizar e sexualizar.
V.A. – Para além desta música, que já foi lançada, existem ainda mais duas que vão estar disponível para o público em breve. O que nos pode avançar sobre esses temas?
C.C. - A minha intenção seria fazer apenas uma música, mas acabei por fazer mais duas. A primeira foi feita com o Tommaso Antico, um produtor de Faro, a segunda foi feita em Lisboa com o Tayob e a terceira será novamente feita em Faro, com a mesma equipa.
A segunda música, com lançamento previsto para breve, vai chamar “2 hombres” e não tem nada a ver com a primeira. Eu sou capaz de criar em qualquer estilo e esta música será um alternativo pop, que mistura sons latinos e egípcios. O refrão deste tema é em espanhol, com a restante letra em inglês. A terceira música, que ainda não está finalizada, exige muito da minha voz (porque tem muitos agudos) – e para já é o que posso revelar.
V.A. - Como é ser uma artista independente? Isto significa que todos os custos das suas músicas são financiados por si, sem qualquer ajuda?
C.C. - Durante quatro anos eu andei à procura de produtores e acreditava que iria aparecer alguém para “agarrar” em mim. Contudo, decidi lançar-me neste mundo e o pensamento foi: “eu trabalho, tenho algum dinheiro e vou utilizá-lo para investir na música”. É claro que, fazendo esta aposta, tenho de ter um carro mais barato ou comprar menos roupas, mas é a música que eu quero. Ainda assim, mesmo sendo eu a pagar tudo, eu senti várias portas fechadas. Depois desse tempo, percebi que não tinha material para apresentar e era essa a razão das portas se fecharem. Quando fiz esta aprendizagem, tudo começou a acontecer. Todos temos sonhos e eu tive de “acordar” sozinha.
Este processo de produção de uma música é dispendioso e envolve aqui vários pontos. Eu gostava de ter alguém que me ajudasse nestas questões, como por exemplo, publicidade, registar uma música ou marcar espetáculos, são pontos fundamentais do meu trabalho, em que se perde tempo e energia.
V.A. - Em 2022 foi uma das concorrentes do “Ídolos”, formato emitido pela SIC e apresentado por Sara Matos. Como foi participar num programa de televisão?
C.C. - Foi uma experiência enriquecedora, onde ultrapassei bastantes desafios. Cresci muito e venci também o medo das câmaras, que era algo que eu tinha. O “Ídolos” obrigava a muitas horas de trabalho e era um desgaste enorme, mas que valeu a pena.
Eu fui até à fase do Teatro e penso que, devido a todo o cansaço, não dei o meu melhor a cantar. Gostei bastante de aparecer na televisão e contar a minha história em busca do meu sonho.
V.A. - O que lhe trouxe essa participação no “Ídolos”?
C.C. - O “Ídolos” foi uma forma de me afirmar ainda mais junto das pessoas que já me conheciam. Não sei se existiram pessoas a chegar até mim através do programa da SIC, mas recebi alguns seguidores novos. O que me têm feito chegar a mais pessoas é a minha persistência em criar conteúdo e ter começado a cantar nos bares. As pessoas esquecem-se dos nomes muito rápido, tem de haver uma continuidade do trabalho.
V.A. - E no Algarve, sente o apoio do público algarvio?
C.C. - Surpreendi-me muito com o apoio dos algarvios. Sinto que conquistei bastante gente com a minha força de vontade. Aqui no Algarve consigo realmente viver da música, com muito trabalho, mas consigo. Tenho as redes sociais e endereço de e-mail e todos podem contactar-me para atuações.
V.A. - Até onde quer ir com a música?
C.C. - O mais longe possível. Desde muito nova que me imagino a cantar com milhares de pessoas à minha frente. Eu sinto que nasci para ser “grande” na música. A música “Girl of your dream” está nas rádios da França, da Bélgica, de Londres e do Canadá. Acredito que vou chegar longe na música porque eu trabalho para isso.
Por: Filipe Vilhena