Fernando Santana foi Presidente da Junta de Freguesia de Sagres durante 16 anos e atualmente é Presidente da Direção do Clube Recreativo Infante de Sagres. Em conversa com Nathalie Dias e Victor Gonçalves no programa “Olha que Dois”, Fernando Santana falou das várias dificuldades por que passou o seu clube durante o último ano e dos projetos futuros.

Foi até 2013 Presidente da Junta de Freguesia de Sagres, cargo que exerceu durante vários mandatos. Sentiu alguma nostalgia pela ausência do cargo?

Fernando Santana – Não. Eu gosto da minha Freguesia e do meu Concelho. Durante 16 anos estive como presidente e durante mais quatro estive na oposição, embora eu não considere que seja um opositor e que trabalhe com a oposição, mas sim com sensibilidades e pela necessidade de resolver os problemas. Foi a população que me pediu para estar lá durante 16 anos, desde a juventude até aos mais idosos, e fiz isso com muito gosto. Ainda hoje lá estou como tesoureiro, longe da política mais ativa, mas a continuar a ajudar o caro ilustre Luís Paixão para que as coisas corram bem. Sei que não me dá muitas saudades, porque ainda ontem à noite andei a ver as luzes que estavam apagadas, onde estavam os buracos e o lixo, para comunicar à Câmara Municipal para que se dê uma limpeza, pois a Páscoa está à porta. Eu e o atual presidente trabalhamos em conjunto, como sempre temos trabalhado, e é um relacionamento íntimo. Por isso, não sinto falta do cargo, pois vivo e trabalho na minha freguesia. Ao nível da Câmara Municipal, somos exigentes connosco próprios, seja qual foi o executivo, e temos tido uma boa relação.

 

No exercício do mesmo, teve oportunidade de acompanhar a reviravolta que ocorreu em Sagres, devido às obras de requalificação que foram realizadas há alguns anos atrás. Que importância tiveram na economia local e na procura turística?

F.S. – Em Sagres, tinhamos postes de eletricidade e telefone por todo o lado. É uma vila visitada por 500 mil pessoas e precisava de algo que lhe desse uma imagem mais bonita. Sagres tinha meia dúzia de ruas, o resto era caminhos e veredas, e de inverno não se conseguia passar. Com a entrada do executivo de Gilberto Viegas houve um grande investimento, um planeamento para Sagres, que tinha três fases. No entanto, ele apenas conseguiu realizar a fase um e dois, sendo que a fase três seria tudo aquilo que falta fazer por Sagres.

 

Porque falhou a terceira fase?

F.S. – A população é que decide. As pessoas do Concelho de Vila do Bispo não são muitas vezes a favor dos novos modernismos e Gilberto Viegas tinha um pensamento para a vila de Sagres que era uma inovação muito boa. O que ele queria para o Concelho era arranjar fundos comunitários e ter projetos para que isso acontecesse. Foi essa fase que falhou um pouco e a população é que decide, uns gostam e outros não gostam.

 

Que impacto tiveram essas obras realizadas para aqueles que foram viver para Sagres e para as oportunidades de negócio que se criaram?

F.S. – Teve muito impacto. Houve mais vias para se deslocarem, mais comércio, mais construção e, a partir daí, Sagres conseguiu crescer. Mas ainda há muito para fazer. As acessibilidades, os arranjos e as aberturas das estradas foram fundamentais porque Sagres criou outra imagem. Tinha a mesma estrada de entrada e de saída e agora já há obras para melhorar a circulação.

 

Concorda com Luís Paixão em relação à ETAR e o Porto de Recreio da Baleeira, no que diz respeito às acessibilidades para os turistas e comerciantes, em relação às casas de banho públicas e a entrada?

F.S. – É verdade. O Porto da Baleeira foi entregue à DocaPesca, que agora gere não só a pesca como também a parte do recreio. Ouvi falar que fossem talvez arranjar uns cais flutuantes para minimizar a situação. É um princípio. O Porto da Baleeira precisa de ver os seus espaços arranjados e um porto de recreio fazia muita falta, pois para o abastecimento de combustível só há Sines, Sagres ou Lagos e, no caso de Sagres, muitas vezes querem lá entrar para se abastecer de combustível e não podem porque não conseguem.

 

Certamente terá ficado algo mais por fazer e que nada tem a ver com o Governo ou com a Câmara de Vila do Bispo, mas sim com a insuficiente agressividade da atividade empresarial ligada à restauração. Sabemos que é também pelo estômago que se pode atrair mais turistas e, sem dúvida, que Sagres tem o melhor peixe da região e os afamados perceves, mas pouco se sabe em relação a quando e onde se poderá comê-lo. Que opinião tem a esse respeito?

F.S. – Acho que a iniciativa que o Paixão teve agora, de criar um Concelho consultivo da Freguesia, que junta todos os proponentes desde do turismo, dos restaurantes e dos hotéis, para definir o que queremos para Sagres, foi boa. Eu acho que Sagres, ao nível dos restaurantes, não devia ser uma cópia, cada um devia ter um prato específico, um ter o carapau limado, outro o peixe à chicharro. Devia haver mais divulgação e união da parte da restauração. Os empresários não podem estar à espera da Junta de Freguesia e da Câmara Municipal, eles têm que ter iniciativa e investir em melhoramentos. Estou muito satisfeito neste momento porque na avenida principal os restaurantes mudaram a sua imagem, remodelaram as suas fachadas e melhoraram o ambiente. Ainda ontem estive num deles e não tem nada a ver com o que era, apetece estar lá. Eu acho que qualquer investimento é recompensado e neste momento há maior aposta e consciencialização e novos jovens a investir, como aconteceu na zona perto dos bares, na Avenida Comandante Matoso.

 

O seu padrinho, Sousa Cintra, tem excelentes localizações de terrenos, que muito poderiam alavancar a Vila de Sagres. Será que em breve, nalguns deles, irão surgir novos atrativos que contribuam para o desenvolvimento local?

F.S. – Eu não tenho qualquer preconceito em falar sobre esses assuntos. Enquanto Presidente da Junta ou qualquer outro cargo, eu defendo para aquilo a que fui eleito e não a nível individual. Eu acho que o senhor empresário devia fazer mais pela sua terra, já que diz que gosta tanto do Concelho e que quer morrer e viver em Sagres. É com muito gosto que nós temos recebido e tratado bem os empresários e ele tem sido muito bem recebido, tanto pela Câmara, como pela Junta de Freguesia e população. É uma pena que os edifícios mais degradados de Sagres sejam os do Sousa Cintra, um empresário que diz que gosta de Vila do Bispo.

 

Vamos agora abordar um pouco da história do Clube Recreativo Infante de Sagres. Que atividades se praticam?

F.S. – É um clube que tem 76 anos, temos cerca de 500 sócios e sete modalidades (futebol jovem, karaté, petanca, quique boxing, capoeira, veteranos e zumba). Desportos ligados ao mar não temos, isto porque o clube não tem essas condições e não temos instalações próprias. Para além disso, em Sagres, há nove escolas de surf que estão dedicadas a essa parte do mar e entendemos que o Clube Infante de Sagres não deve fazer concorrência. Já que esses clubes estão implantados, devem ser apoiados porque fazem parte da Vila de Sagres. Nós temos 140 atletas o ano inteiro, do karaté temos campeões nacionais e mundiais e no quique boxing também temos bons atletas a nível nacional. O Clube Infante de Sagres tem chegado a mão aos atletas destas modalidades, que antes não tinham espaço para treinar. Eu acho que a juventude merece estar confortável neste aspeto.

 

Recentemente o Infante Sagres viveu momentos de alguma instabilidade, com uma ordem de despejo. Como vão ou estão a ultrapassar a situação?

F.S. – Há 76 anos que estamos naquela sede e o senhorio quer o edifício. Com as novas regras das rendas, querem colocar-nos uma renda de cerca de 800 euros, quando antes pagávamos menos de 200 euros. Eu tentei sentar-me à mesa, negociámos e nós éramos para ter saído no final do ano de 2015 mas, com a boa vontade do senhorio, conseguimos mais um ano e a renda passou para 300 euros. Só pelo diálogo e paciência temos conseguido levar as coisas a bom porto. Quando estive na Junta de Freguesia deixei uma sede nova e ao passar pelo meu clube quero deixá-lo nas melhores condições. Neste momento estamos em construções, temos um protocolo comandado pelo Adelino Soares para ficar com as instalações e o terreno da escola velha. Vamos aproveitar a escola velha e o edifício para a sede e, lá atrás, vamos fazer uma espécie de salão polivalente que vai ter todas as condições para a prática desportiva e eventos. É uma obra que ronda os 550 mil euros.

 

 

 

Esta entrevista foi realizada por Nathalie Dias e Vítor Gonçalves no Programa “Olha que Dois”, uma parceria da “Total FM” com “A Voz de Loulé” emitido no dia 09 de março.

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