A jovem cavaleira surpreende com a sua performance

Leonor Coelho, natural de Loulé, com apenas 9 anos representou o Algarve como debutante no Campeonato de Portugal de Dressage Open obtendo a magnifica posição do 5º lugar.

Atualmente pratica equitação na modalidade de Dressage na escola de equitação Vilamoura Equestrian School, em Vilamoura, desde os 6 anos de idade e estuda no Colégio Internacional de Vilamoura, no 4º ano de escolaridade.

Leonor Coelho, a jovem cavaleira que foi campeã regional do Algarve, do nível Preliminar, disputou nos passados dias 28, 29 e 30 de setembro, o Campeonato de Portugal Dressage Open que decorreu na Sociedade Hípica Portuguesa, em Lisboa, onde competiu também com adultos e cavaleiros profissionais, onde honrou a sua participação alcançando a magnífica posição do 5.º lugar. 

A Voz do Algarve falou com a Leonor para saber um pouco mais sobre a sua participação neste campeonato.


 

A Voz do Algarve: Leonor, já sabemos que és ainda muito pequena, mas que tens uma paixão enorme pelo mundo dos cavalos. Como e quando sentiste que querias praticar esta modalidade? Quem te incentivou?

Leonor Coelho - Desde muito pequena que senti esta grande paixão despertar em mim. Na verdade, ninguém me incentivou. Com apenas 2 anos, comecei a falar em cavalos. Sempre que passava por uma loja de brinquedos, a minha preocupação era pedir mais um cavalo à minha mãe. Tenho uma coleção enorme de cavalos, de várias raças e de várias cores e pelagens.


 

VA: Com que idade começaste a ter as tuas primeiras aulas? Fala-nos um pouco do teu percurso. 

LC: Como disse, esta paixão nasceu quando eu tinha 2 anos e numa consulta de rotina com o meu pediatra, o Dr. Francisco José, perguntei-lhe se podia iniciar as aulas de equitação. Ainda me lembro da resposta que me deu: “Leonor, és ainda muito pequenina e só aos 6 anos é que poderás iniciar a equitação”. Todos os anos tenho consultas de rotina com o mesmo pediatra, do qual não abdicamos.

E quando fui à consulta de rotina dos 6 anos, recordo-me de dizer: “Dr Francisco José já tenho 6 anos. Agora, já posso iniciar a equitação?” Lembro- -me da expressão do pediatra. Com a autorização do pediatra, a minha mãe preparou-me uma surpresa e no dia seguinte tive a minha primeira aula de equitação, na escola Vilamoura Equestrian School, com o professor António José Rosa. Foi um dia maravilhoso e que jamais irei esquecer. Tive a primeira aula de volteio numa égua que ficará para sempre no meu coração: a Parina. Depois, comecei a ter aulas a montar sozinha. Montava a Saqquar, o Zade, a Parina e a Prune de Boissiére Desde então, nunca mais parei. No dia 01 de abril de 2016, fiz o meu primeiro exame de sela. No dia 05 de agosto desse ano, participei na primeira prova, uma poule organizada pelo Lusitanus, onde montei o Sir Talibã. Nesse ano, tive aulas nesse centro equestre e em 2017 regressei à escola Vilamoura Equestrian School, onde há um espírito de equipa maravilhoso. Tenho lá muitos amigos e o ambiente é fantástico. Nesse ano, também fiz o exame de sela III.

Tenho tido a constante vontade em evoluir e na época desportiva 2017/2018, o Sr António Rosa sentiu-me preparada e inscreveu-me no campeonato regional do Algarve, que começou em março e que terminou a 29 de julho.

Participei também num estágio de aperfeiçoamento técnico em Ensino, com o Mestre Filipe Canelas Pinto (adorei esse Mestre e adorei a experiência. Os meus pais sabem que quero repetir). Em Julho de 2018, fiz ainda o exame de Sela IV, que era obrigatório ter para poder participar no Campeonato de Portugal.


 

VA: E quanto às competições? Foi o primeiro ano em que participaste?  É comum crianças tão pequeninas já entrarem em competições?

LC: Quanto às competições, fui debutante, ou seja, participei pela primeira vez no mundo da competição. Entrei em pista com apenas 8 anos e era a mais pequenina. Nalgumas provas, senti que as pessoas olhavam para mim um pouco assustadas, por eu ser ainda tão pequena e estar a montar uma égua (e não um pónei).

No Algarve, esta modalidade está a atrair cada vez mais apaixonados por esta arte e foi magnífico eu ter participado num campeonato onde participaram tantos conjuntos, nos vários níveis. Nalgumas jornadas, éramos perto de 100 conjuntos, o que é realmente maravilhoso, pois é sinal que a modalidade do Ensino está a despertar interesse nos cavaleiros algarvios.

Na verdade, a competição está aberta a quem se sentir preparado para entrar em pista. No meu escalão, era a mais pequena, mas haviam mais concorrentes (da minha escola e não só).


 

VA: E como achas que te correu? Sentes que alcançaste o teu objetivo? 

LC: Eu acho que me correu muito bem, pois sinto que na verdade ultrapassei os meus objetivos, tendo me sagrado campeã regional do Algarve. Recordo- -me da minha primeira jornada, onde obtive uma nota excelente. Houveram muitas jornadas que saía de pista super feliz, mas também aconteceu ter o sentimento de que a prova não tinha corrido da forma que eu queria, mas a minha grande amiga que guardo no meu coração, a égua Prune de Boissière nunca me falhou. Sempre foi exemplar comigo. Sempre senti que fazíamos um belo conjunto, havia harmonia entre nós. É algo que não se consegue explicar por palavras, sente-se. Também houveram situações que a minha mãe é que ficava nervosa. Isso aconteceu numa jornada em que o Sr. António disse que eu entraria com a égua apenas de bridão (normalmente, a égua usava cabeçada de freio bridão e levava sempre uma penalização). A minha mãe tentava disfarçar para eu não perceber que ela estava nervosa, mas eu percebia e sentia isso por isso, pedi-lhe para me deixar só com a Prune. E correu super bem. Nessa jornada, também fiquei em 1º lugar.


 

VA: Sendo que és uma grande apaixonada da arte equestre e tendo ainda tão tenra idade, como consegues gerir a prática desta modalidade com os deveres escolares?

LC: Na realidade não é nada fácil. No colégio, o trabalho é exigente e intenso. Felizmente, a minha professora Helena Neto é compreensiva e já aconteceu ter de faltar às aulas e sempre tive oportunidade de recuperar. Mas, com uma boa gestão de tempo, tudo se consegue e consigo montar sem prejudicar os estudos. Como costumo dizer, no meu dicionário não constam as palavras “não consigo”.


 

VA: Acreditas que consegues administrar as duas atividades sem nenhuma prejudicar a outra?

LC: Sim, acredito. Aliás, tem de ser esse o meu objetivo.


 

VA: Soubemos que estiveste presente no Campeonato de Portugal Dressage Open? Como te correu? Não ficaste nervosa? Foi como esperavas? Correspondeu às tuas expectativas? LC: Sim, é verdade, debutei no Campeonato de Portugal Dressage Open. Foi uma experiência maravilhosa com uma realidade totalmente diferente. Lá encontrei cavaleiros profissionais, cavalos magníficos ...

Normalmente, nunca entro em pista nervosa. Consigo gerir essa parte. Mas lá, a realidade era mesmo outra. No primeiro dia de provas, não saí muito satisfeita. Mas no segundo dia recuperei bastante e fiquei em 3º lugar.

Para ser sincera, eu ia num espírito de participação e conhecer uma realidade que não conhecia. Sabia que ia competir com adultos, com cavaleiros profissionais e sendo eu ainda tão nova, a minha expetativa era de dar o meu melhor. Consegui um 5º lugar. Fiquei super feliz, por mim e pela Prune, pois demos o nosso melhor.


 

VA: Como te preparas para entrares em prova? 

LC: Tudo começa com as instruções do meu professor, o Sr. António. Tento seguir tudo o que me diz. Depois, tento descontrair, tento concentrar-me e respiro fundo antes da prova e não deixo a minha mãe estar ao pé de mim (risos). Também gosto muito de ouvir a conversa do meu amigo Gonçalo, antes de entrar em prova.


 

VA: Obviamente que contas com o apoio dos teus pais para seguires este sonho, o que fazem eles para te ajudar? 

LC: Os meus pais são essenciais e são um forte pilar neste meu percurso. Em dias de prova, ajudam na preparação da égua e o meu pai carrega e transporta todo o material que uso. Ele também leva os cavalos na roulote, quando é necessário. A minha mãe é a pessoa que diariamente me acompanha, quer na escola, quer na equitação. Ajuda-me a memorizar as provas e até me dá algumas dicas. Ela é a responsável, por na véspera preparar todo o material que necessito, pela minha roupa de provas, pelo penteado e também tem a preocupação para que eu entre sempre a brilhar em pista, tanto eu como a Prune.


 

VA: Até onde gostarias de chegar no mundo da equitação e como te vês no futuro?

LC: Eu quero ser cavaleira profissional. Sei que nunca se deve dizer “nunca”, mas neste caso, eu nunca pretenderei desistir da equitação. No futuro, gostaria de atingir algo muito difícil: ser campeã do mundo.


 

VA: Já tiveste o privilégio de conhecer alguns cavaleiros profissionais?  Gostas ou queres ser como algum em particular?

LC: Sim, por acaso já. Conheço alguns profissionais da equitação e um deles é o Mestre Canelas Pinto. No campeonato de Portugal, conheci a profissional Filipa Carneiro, que foi a campeã de Portugal, ela é muito simpática. Quanto a querer ser como alguém, eu quero ser igual a mim própria, com muito foco, objetivo e determinação.

 

VA: Participaste com uma égua da escola Vilamoura Equestrian School. Já tens ou vais ter o teu próprio cavalo?

LC: Sim, participei com a Prune, propriedade da escola. Mas agora a Prune deixou a competição e será usada apenas para as aulas. Atualmente, procuro um cavalo que se adapte a mim e eu a ele.

 

VA: Esta pergunta é para os pais, já que certamente a Leonor não terá noção do quanto pode custar a nível monetário e também a nível de prioridades e gestão de tempo praticar este desporto. É muito dispendioso praticar equitação? Quais os principais inconvenientes?

Pais: Praticar equitação enquanto atividade lúdica e de lazer, é um desporto acessível a todos.

Quando é encarado como um desporto de competição, num projeto mais sério, é necessário gerir bem os recursos por forma a criar condições para o crescimento do atleta e do próprio cavalo. Felizmente existem bastantes entusiastas em Portugal nas diferentes vertentes da equitação, o próprio cavalo Puro Sangue Lusitano tem características bastante adequadas para a vertente de dressage, o que acaba por ajudar à visibilidade e ao desenvolvimento desta modalidade olímpica e como tal à aproximação de patrocinadores.

É extremamente importante tentarmos gerir da forma mais coerente possível a gestão de tempo da nossa filha, por forma a que não prejudique os estudos. Até ao dia de hoje, tem existido sucesso em ambas as vertentes: “aí o mérito deve-se à mãe. É uma mãe exemplar a todos os níveis com as nossas duas filhas”, frisa o pai.

Os principais inconvenientes acabam por ser situações comuns a todas as modalidades desportivas a nível global, a falta de cultura desportiva por parte dos encarregados de educação, que acabam por prejudicar o crescimento salutar dos relacionamentos interpessoais dos atletas e seus possíveis intercâmbios de caracter formativo. Além disso apenas de referir a maneira como as modalidades ditas “amadoras” são tratadas por parte do estado português e da maioria dos meios de comunicação social no nosso país, os quais não lhes dão o devido valor e a importância que têm; situação esta que não se adequa ao Município de Loulé que muito tem investido no desporto a nível global em todo o concelho e obviamente que não é o caso do Jornal a Voz do Algarve, o qual sempre esteve atento e disponível para promover e evidenciar o melhor que os atletas do nosso concelho tem oferecido ao desporto em Portugal e além-fronteiras.

 

VA: Leonor, o que dirias aos teus amiguinhos e colegas de escola para os motivar a praticar esta modalidade?

LC: Diria “a equitação é mesmo fixe”. Poderia também dizer que dentro da equitação, há várias modalidades, tais como obstáculos, ensino, equitação de trabalho, atrelagem ... Como terapia, os cavalos também são ótimos! Todos deveriam experimentar a equitação, mais que não fosse, para experimentarem um passeio a cavalo e poderem comprovar a magnifica experiência que é a cumplicidade entre um cavaleiro e um cavalo.


 

A Voz do Algarve espera, que nos mantenhas informados sobre os teus prémios e participações, está bem?

LC: Está bem, fica prometido… (risos)

 

Por: Nathalie Dias