Foi no recém inaugurado auditório do Solar da Música Nova em Loulé, que no passado dia 9 de março, foi apresentada a obra “A Santa Casa da Misericórdia de Loulé”. Com a apresentação deste estudo, da autoria de Marco Sousa Santos (volume I) e Neto Gomes (volume II), ficam oficialmente encerradas as cerimónias comemorativas dos 500 anos da instituição louletana (1518-2018).
Perante um auditório repleto, a cerimónia contou com a presença do Presidente da Câmara Municipal de Loulé, Vítor Aleixo, com o Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Loulé, Manuel Filipe Semião e os dois autores das obras, o historiador Marco Sousa Santos e o jornalista Neto Gomes.
Para saber um pouco mais sobre esta experiência, A Voz do Algarve falou com os autores dos livros, que nos contaram como e onde obtiveram a informação e como desvendaram um pouco da história da Santa Casa da Misericórdia de Loulé.
Entrevista Marco Sousa Santos
Historiador
VA- Quando, como e porquê surgiu a necessidade de escrever o livro “A Santa Casa da Misericórdia de Loulé?
MS - O desejo de produzir estes livros partiu da própria Santa Casa e justifica-se com o facto de que não existia nenhum estudo aprofundado sobre a instituição. A verdade é que, apesar dos seus cinco séculos de existência, até à publicação destas obras monográficas o que havia sobre a história da Santa Casa da Misericórdia de Loulé resumia-se a umas poucas páginas. De um modo geral as principais datas, acontecimentos e figuras estavam identificadas, mas havia muita coisa por explicar, dados contraditórios e consideráveis hiatos de informação.
Em relação ao volume I, aquele de que sou autor, o desafio para levar a cabo uma investigação historiográfica relativa aos primeiros séculos da Misericórdia louletana surgiu em 2016, na sequência da publicação do Roteiro da arquitetura religiosa do concelho de Loulé, que escrevi em coautoria com o Prof. Doutor Francisco Lameira, da universidade do Algarve, por encomenda do executivo liderado pelo Dr. Vítor Aleixo. No próprio dia da apresentação pública dessa obra foi-nos lançado pelo Sr. Provedor o novo desafio, cuja concretização contaria também com o fundamental apoio do município. Aceitei de imediato. Não é todos os dias que temos a oportunidade de estudar a história de uma instituição com meio milénio de atividade e, para além disso, este era um estudo pioneiro na região algarvia.
VA - Quais as diferenças entre estes dois volumes na ótica de um historiador?
MS - Na minha perspetiva, os dois volumes que agora saem a público contêm abordagens distintas (sobretudo em relação ao tipo de fontes, metodologias e modo de organização da informação), mas complementares. A complementaridade está desde logo patente nas questões de ordem cronológica, já que o volume I é dedicado à história da instituição desde a fundação (c.1518) até às primeiras décadas do século XIX (Época Moderna) e o volume II trata essencialmente o período que vai desde o início de Oitocentos até à atualidade (Época Contemporânea).
Em todo o caso, importa sublinhar, e apesar de o objeto de estudo ser partilhado, estes dois livros (volume I e II) foram escritos em paralelo e de forma absolutamente autónoma. De facto, eu só contactei com a obra do meu colega Neto Gomes quando os livros já se encontravam em fase de revisão e vice-versa.
VA - Quais as principais fontes de recolha de informação?
MS - Numa primeira fase, a principal fonte de informação para a produção do meu livro foi a bibliografia pré-existente, ou seja, tudo o que já tinha sido publicado por outros autores sobre o tema em análise. Depois foi preciso ir mais além e partir para as fontes de informação primária, ou seja, para a documentação de arquivo, na tentativa de corroborar ou refutar a informação já recolhida e, acima de tudo, para localizar informações inéditas e procurar dar resposta às muitas questões que continuavam em aberto.
VA - O volume I trata dos momentos mais longínquos dos 500 anos, foi difícil a recolha dessa informação? Como e onde a conseguiu?
MS - Foi uma investigação trabalhosa, demorada, mas não necessariamente difícil. No campo da historiografia a maior ou menor dificuldade em recolher informações não se prende com a antiguidade do objeto de estudo. Desde que exista documentação relativa ao âmbito cronológico e geográfico em estudo, o que há a fazer é ler e analisar tudo o que está disponível. Por vezes no local mais inesperado pode aparecer uma informação relevante. Felizmente, neste caso, havia muita informação inédita, apesar de dispersa por diferentes fundos documentais e arquivos. Assim, entre outros, constituíram fontes privilegiadas para a realização da minha investigação: o fundo documental da própria Santa Casa, nomeadamente os livros de registo de receita e despesa; o fundo notarial produzido pelos tabeliães de Loulé, depositado no Arquivo Distrital (Faro); o fundo histórico da Câmara de Loulé, guardado no Arquivo Municipal, com destaque para as atas da vereação; e também os fundos paroquiais relativos a Loulé (batismos, casamentos e óbitos), que estão à guarda do Arquivo Nacional da Torre do Tombo (Lisboa).
Seja como for, convém não esquecer que no campo da História, como das Ciências Humanas e Sociais em geral, não há respostas definitivas e os temas podem (e devem) sempre ser aprofundados ou analisados noutras perspetivas. Não se pense, por isso, que com a publicação destes estudos fica tudo dito sobre a história da Santa Casa. Longe disso. O que se pretende também é que a investigação agora apresentada possa servir como base para futuras investigações.
VA - Se remontarmos a 1518, certamente que a diferença entre o trabalho realizado naquela época e os dias de hoje será gigantesco. Poderia de uma forma sintetizada ilustrar-nos quais as principais diferenças e como foi evoluindo ao longo dos tempos?
MS - O projeto das Misericórdias, criado e desenvolvido pela Coroa a partir do final do século XV (1498), surgiu essencialmente como uma forma de garantir a ajuda aos mais desfavorecidos num período em que o Estado não tinha capacidade para implementar políticas assistenciais de âmbito nacional e, portanto, tinha dificuldade em intervir a nível local. Tornava-se necessário, portanto, criar plataformas logísticas que a nível local permitissem dar assistência às necessidades específicas de cada lugar, e é por isso que se constituem as Irmandades da Misericórdia. Nesse contexto, o leque de beneficiários deste tipo de instituições era muito alargado e abrangia todo o tipo de pessoas que se encontrassem em situação de fragilidade, nomeadamente órfãos, viúvas, doentes, mendigos, etc. Do ponto de vista material a assistência prestada pelas Misericórdias podia incluir a oferta de esmolas, em dinheiro ou géneros (roupa, comida, medicamentos), mas também hospedagem e cuidados médicos. Para além da parte material, o projeto incluía ainda uma vertente religiosa, que consistia em fornecer assistência espiritual a quem dela necessitasse. Daí que as instituições se regessem por aquilo que se denominavam como as catorze Obras de Misericórdia, sete corporais e sete espirituais.
Hoje em dia, as Misericórdias continuam vocacionadas para a assistência aos mais desfavorecidos, mas o leque de beneficiários é mais restrito e a sua ação acaba por complementar a que é facultada pelos serviços sociais do Estado. A Misericórdia de Loulé, por exemplo, centra hoje a parte mais importante da sua atividade na assistência aos idosos, suprindo as falhas e carências que subsistem nessa área.
VA - Quanto tempo demorou entre a recolha de informação e o términus do livro?
MS - A minha previsão inicial para a conclusão do estudo era de seis meses, mas rapidamente percebi que a história desta instituição em particular era mais complexa do que a da maioria das Misericórdias e que, portanto, para obter bons resultados, seria necessário prolongar esse prazo. O processo de escrita exige tempo, reflexão e algum distanciamento. Assim, no total, incluindo a recolha bibliográfica, a pesquisa em arquivo, a produção dos textos e a respetiva revisão, os trabalhos demoraram cerca de dois anos.
VA - Que factos ou histórias curiosas nos pode desvendar como “aperitivo” para a leitura completa das obras?
MS - É difícil escolher ou particularizar episódios da história da instituição, desde logo porque o interesse que eles possam despertar depende muito daquilo que são os interesses de cada leitor. Em todo o caso, falando sobre o volume I, acho que é importante frisar que, para além de uma história da Misericórdia de Loulé, este estudo acaba por incluir uma coletânea de pequenas monografias dedicadas às diferentes instituições e figuras cujos destinos se cruzaram com os da Santa Casa. Assim, nas páginas deste livro o leitor pode encontrar capítulos exclusivamente dedicados a história do hospital de Nossa Senhora dos Pobres, ao Padre João do Aguiar Ribeiro, que no século XVII substitui a Mesa da Santa Casa na administração do hospital, ao recolhimento feminino por ele fundado (que estaria na origem do convento de Nossa Senhora da Assunção), à comunidade de Agostinhos Descalços (ou Grilos) que depois da morte do Padre João do Aguiar assumem a gestão do hospital, ou às duas igrejas que em Loulé serviram de sede à Irmandade da Misericórdia, entre outros. Trata-se, no fundo, de uma abrangente história da solidariedade em Loulé, na Idade Moderna (séculos XVI, XVII e XVIII), que parte do estudo da Irmandade da Santa Casa para o conhecimento mais alargado das características da sociedade louletana da época. Para além disso, ou não fosse eu formado em Património Cultural e em História da Arte, neste volume são igualmente tratadas algumas das principais questões em torno daquilo que é o riquíssimo património material da instituição, no qual se incluem obras de arquitetura, imaginária, talha, pintura e ourivesaria, entre outras.
VA - Este é o quinto livro que publica. O que mais o motivou para escrever este livro? Teve alguma motivação especial ou diferente relativamente aos livros anteriores?
MS - Publiquei o primeiro livro em 2016 e este é o quinto que se dá à estampa desde essa data (um deles em coautoria), sem contar com artigos publicados em revistas e atas de encontros científicos. Neste momento estou exclusivamente dedicado à minha tese de doutoramento, mas posso adiantar que há mais dois livros já terminados e em fase de revisão. Um é dedicado ao estudo das confrarias e Irmandades religiosas que existiram no termo de Loulé em contexto Moderno e o outro à história da escravatura no Reino do Algarve (séculos XV-XVIII), investigação com que venci a 2ª edição do Prémio Nacional de Ensaio Histórico António Rosa Mendes, atribuído pela Câmara Municipal de Vila Real de Santo António em 2017.
Em relação à motivação para investigar, escrever e publicar, é sempre a mesma: aprender mais e promover a preservação e valorização daquilo que é o nosso património e a nossa memória coletiva. Neste caso em particular, como nunca tinha escrito sobre uma Misericórdia, a oportunidade de aprofundar um tema que não conhecia bem acabou por constituir um incentivo extra.
VA - Como historiador como foi para si este desafio de escrever um livro sobre “A Santa Casa da Misericórdia de Loulé”?
MS - Foi exaustivo, mas extremamente gratificante. Como já referi, o facto de ser o primeiro estudo que dedico a uma Misericórdia obrigou-me a aprofundar um tema que não dominava e, por esse motivo, aprendi muito. Por outro lado, a realização deste trabalho obrigou à exploração de fundos documentais extremamente interessantes para a história de Loulé e do Algarve, conduzindo à identificação de muita informação inédita em relação ao tema em estudo, mas também de outros dados que poderão vir a ser extremamente úteis no âmbito de futuras investigações.
VA - Como faz a ligação deste passado histórico retratado no livro, com a atualidade e como o perspetiva para as próximas gerações?
MS - A Santa Casa da Misericórdia de Loulé, como as demais instituições do género, tem pautado a sua ação por princípios de entrega ao próximo e de dedicação à comunidade. E esse trabalho, a todos os títulos meritório, é hoje tão necessário quanto o era em 1498. Os beneficiários são outros e as exigências distintas, mas o princípio por detrás da ação diária da instituição continua a ser o mesmo. Como diversas vezes se tem salientado ao longo das cerimónias levadas a cabo no âmbito das comemorações oficiais do 5º centenário da fundação da Misericórdia de Loulé, foram “500 anos a fazer o Bem”. Que venham outros 500, no mínimo.
Entrevista Neto Gomes
VA - O volume I trata dos momentos mais longínquos dos 500 anos, foi difícil a recolha dessa informação? Como e onde a conseguiu?
MS - Foi uma investigação trabalhosa, demorada, mas não necessariamente difícil. No campo da historiografia a maior ou menor dificuldade em recolher informações não se prende com a antiguidade do objeto de estudo. Desde que exista documentação relativa ao âmbito cronológico e geográfico em estudo, o que há a fazer é ler e analisar tudo o que está disponível. Por vezes no local mais inesperado pode aparecer uma informação relevante. Felizmente, neste caso, havia muita informação inédita, apesar de dispersa por diferentes fundos documentais e arquivos. Assim, entre outros, constituíram fontes privilegiadas para a realização da minha investigação: o fundo documental da própria Santa Casa, nomeadamente os livros de registo de receita e despesa; o fundo notarial produzido pelos tabeliães de Loulé, depositado no Arquivo Distrital (Faro); o fundo histórico da Câmara de Loulé, guardado no Arquivo Municipal, com destaque para as atas da vereação; e também os fundos paroquiais relativos a Loulé (batismos, casamentos e óbitos), que estão à guarda do Arquivo Nacional da Torre do Tombo (Lisboa).
Seja como for, convém não esquecer que no campo da História, como das Ciências Humanas e Sociais em geral, não há respostas definitivas e os temas podem (e devem) sempre ser aprofundados ou analisados noutras perspetivas. Não se pense, por isso, que com a publicação destes estudos fica tudo dito sobre a história da Santa Casa. Longe disso. O que se pretende também é que a investigação agora apresentada possa servir como base para futuras investigações.
VA - Se remontarmos a 1518, certamente que a diferença entre o trabalho realizado naquela época e os dias de hoje será gigantesco. Poderia de uma forma sintetizada ilustrar-nos quais as principais diferenças e como foi evoluindo ao longo dos tempos?
MS - O projeto das Misericórdias, criado e desenvolvido pela Coroa a partir do final do século XV (1498), surgiu essencialmente como uma forma de garantir a ajuda aos mais desfavorecidos num período em que o Estado não tinha capacidade para implementar políticas assistenciais de âmbito nacional e, portanto, tinha dificuldade em intervir a nível local. Tornava-se necessário, portanto, criar plataformas logísticas que a nível local permitissem dar assistência às necessidades específicas de cada lugar, e é por isso que se constituem as Irmandades da Misericórdia. Nesse contexto, o leque de beneficiários deste tipo de instituições era muito alargado e abrangia todo o tipo de pessoas que se encontrassem em situação de fragilidade, nomeadamente órfãos, viúvas, doentes, mendigos, etc. Do ponto de vista material a assistência prestada pelas Misericórdias podia incluir a oferta de esmolas, em dinheiro ou géneros (roupa, comida, medicamentos), mas também hospedagem e cuidados médicos. Para além da parte material, o projeto incluía ainda uma vertente religiosa, que consistia em fornecer assistência espiritual a quem dela necessitasse. Daí que as instituições se regessem por aquilo que se denominavam como as catorze Obras de Misericórdia, sete corporais e sete espirituais.
Hoje em dia, as Misericórdias continuam vocacionadas para a assistência aos mais desfavorecidos, mas o leque de beneficiários é mais restrito e a sua ação acaba por complementar a que é facultada pelos serviços sociais do Estado. A Misericórdia de Loulé, por exemplo, centra hoje a parte mais importante da sua atividade na assistência aos idosos, suprindo as falhas e carências que subsistem nessa área.
VA - Quanto tempo demorou entre a recolha de informação e o términus do livro?
MS - A minha previsão inicial para a conclusão do estudo era de seis meses, mas rapidamente percebi que a história desta instituição em particular era mais complexa do que a da maioria das Misericórdias e que, portanto, para obter bons resultados, seria necessário prolongar esse prazo. O processo de escrita exige tempo, reflexão e algum distanciamento. Assim, no total, incluindo a recolha bibliográfica, a pesquisa em arquivo, a produção dos textos e a respetiva revisão, os trabalhos demoraram cerca de dois anos.
VA - Que factos ou histórias curiosas nos pode desvendar como “aperitivo” para a leitura completa das obras?
MS - É difícil escolher ou particularizar episódios da história da instituição, desde logo porque o interesse que eles possam despertar depende muito daquilo que são os interesses de cada leitor. Em todo o caso, falando sobre o volume I, acho que é importante frisar que, para além de uma história da Misericórdia de Loulé, este estudo acaba por incluir uma coletânea de pequenas monografias dedicadas às diferentes instituições e figuras cujos destinos se cruzaram com os da Santa Casa. Assim, nas páginas deste livro o leitor pode encontrar capítulos exclusivamente dedicados a história do hospital de Nossa Senhora dos Pobres, ao Padre João do Aguiar Ribeiro, que no século XVII substitui a Mesa da Santa Casa na administração do hospital, ao recolhimento feminino por ele fundado (que estaria na origem do convento de Nossa Senhora da Assunção), à comunidade de Agostinhos Descalços (ou Grilos) que depois da morte do Padre João do Aguiar assumem a gestão do hospital, ou às duas igrejas que em Loulé serviram de sede à Irmandade da Misericórdia, entre outros. Trata-se, no fundo, de uma abrangente história da solidariedade em Loulé, na Idade Moderna (séculos XVI, XVII e XVIII), que parte do estudo da Irmandade da Santa Casa para o conhecimento mais alargado das características da sociedade louletana da época. Para além disso, ou não fosse eu formado em Património Cultural e em História da Arte, neste volume são igualmente tratadas algumas das principais questões em torno daquilo que é o riquíssimo património material da instituição, no qual se incluem obras de arquitetura, imaginária, talha, pintura e ourivesaria, entre outras.
VA - Este é o quinto livro que publica. O que mais o motivou para escrever este livro? Teve alguma motivação especial ou diferente relativamente aos livros anteriores?
MS - Publiquei o primeiro livro em 2016 e este é o quinto que se dá à estampa desde essa data (um deles em coautoria), sem contar com artigos publicados em revistas e atas de encontros científicos. Neste momento estou exclusivamente dedicado à minha tese de doutoramento, mas posso adiantar que há mais dois livros já terminados e em fase de revisão. Um é dedicado ao estudo das confrarias e Irmandades religiosas que existiram no termo de Loulé em contexto Moderno e o outro à história da escravatura no Reino do Algarve (séculos XV-XVIII), investigação com que venci a 2ª edição do Prémio Nacional de Ensaio Histórico António Rosa Mendes, atribuído pela Câmara Municipal de Vila Real de Santo António em 2017.
Em relação à motivação para investigar, escrever e publicar, é sempre a mesma: aprender mais e promover a preservação e valorização daquilo que é o nosso património e a nossa memória coletiva. Neste caso em particular, como nunca tinha escrito sobre uma Misericórdia, a oportunidade de aprofundar um tema que não conhecia bem acabou por constituir um incentivo extra.
VA - Como historiador como foi para si este desafio de escrever um livro sobre “A Santa Casa da Misericórdia de Loulé”?
MS - Foi exaustivo, mas extremamente gratificante. Como já referi, o facto de ser o primeiro estudo que dedico a uma Misericórdia obrigou-me a aprofundar um tema que não dominava e, por esse motivo, aprendi muito. Por outro lado, a realização deste trabalho obrigou à exploração de fundos documentais extremamente interessantes para a história de Loulé e do Algarve, conduzindo à identificação de muita informação inédita em relação ao tema em estudo, mas também de outros dados que poderão vir a ser extremamente úteis no âmbito de futuras investigações.
VA - Como faz a ligação deste passado histórico retratado no livro, com a atualidade e como o perspetiva para as próximas gerações?
MS - A Santa Casa da Misericórdia de Loulé, como as demais instituições do género, tem pautado a sua ação por princípios de entrega ao próximo e de dedicação à comunidade. E esse trabalho, a todos os títulos meritório, é hoje tão necessário quanto o era em 1498. Os beneficiários são outros e as exigências distintas, mas o princípio por detrás da ação diária da instituição continua a ser o mesmo. Como diversas vezes se tem salientado ao longo das cerimónias levadas a cabo no âmbito das comemorações oficiais do 5º centenário da fundação da Misericórdia de Loulé, foram “500 anos a fazer o Bem”. Que venham outros 500, no mínimo.
Por Nathalie Dias