(Presidente da Junta de Freguesia de Boliqueime)

“O futuro de Boliqueime é risonho, temos condições para isso”

 

Eleito em outubro do ano passado, Nelson Brazão é o novo presidente da Junta de Freguesia de Boliqueime. Eletricista de profissão, foi apenas no ano passado que decidiu seguir o caminho da política. Quando a proposta surgiu, pediu para ficar nos últimos lugares da lista, mas a personalidade e trabalho que o definem colocaram-no como primeira figura. Em entrevista ao jornal A Voz de Loulé, Nelson Brazão fala sobre o seu percurso, onde a religião está muito presente, e os objetivos que pretende ver cumpridos ao longo deste mandato.

Mas acredita: “O futuro de Boliqueime é risonho”.

 

A Voz do Algarve - É novo no cargo de Presidente de Junta, mas não é desconhecido da população. É um filho da terra?

Nelson Brazão – Nascido e criado em Boliqueime. Foi aqui que frequentei a primária, depois fui para a escola em Quarteira, passei pelo seminário em Faro e fui depois para Loulé, mas sempre ligado à região, tanto durante os estudos como depois, já a trabalhar, quando fiz coisas muitos diferentes. Até árbitro de futebol fui! Depois trabalhei como assistente comercial numa loja de rega, fui eletricista na área da construção civil, posteriormente ingressei na ferrovia e agora, de profissão, sou técnico de sinalização ferroviária.

 

V. A. - Durante os anos em que desempenhou essas outras profissões, muito distintas daquela que atualmente exerce, alguma vez pensou que o seu futuro passaria pela política?

N.B. – Não, nunca tinha ponderado isso. Aliás sempre me mantive afastado dessas coisas e se hoje estou aqui é porque fui aliciado a fazê-lo. Fui abordado pelos dois maiores partidos no sentido de me candidatar à presidência da Junta de Freguesia e tive de ponderar bastante para decidir qual escolher. Tive de tomar uma opção e assim foi, consultei todo o grupo que me acompanha, um grupo de independentes, e decidimos ser apoiados pelo Partido Socialista. Eu já fazia parte das listas e, da primeira vez que me convidaram para ser candidato, eu declinei o convite porque não me via nesta área. Comecei a ir à Assembleia de Freguesia logo quando integrei essas listas e depois, nas eleições seguintes, continuei a ficar nos lugares elegíveis da Assembleia de Freguesia tendo, da última vez, ficado como segundo secretário. Quando me convidaram pela segunda vez, a persistência foi maior e acabei por aceitar. Mas na altura pedi para me colocarem “mais lá para trás”, no entanto, fizeram exatamente o oposto, colocaram-me logo na frente.

 

V. A. - O que o levou a aceitar ser candidato a Presidente de Junta da Freguesia de Boliqueime?

N.B. – Eu achei que se calhar era o momento. Havia dois convites, por isso possivelmente achavam que eu era a pessoa certa para desempenhar esta função, que deveria ser eu a estar à frente dos destinos da Freguesia. Eu também estou muito ligado às associações da região e a atividades que se têm vindo a desenvolver na Freguesia, portanto tenho uma ligação grande à terra e às pessoas. Fui atleta do desportivo de Boliqueime, integrei a direção e o conselho fiscal da Associação Cultural de Boliqueime, faço parte da fundação de um grupo de acólitos da paróquia de São Sebastião de Boliqueime, faço parte da comissão de festas da paróquia, desenvolvi iniciativas no âmbito de um concurso fotográfico, participei também na organização da primeira corrida de carrinhos de rolamento, que vai já na 12.ª edição, e fiz parte da criação da primeira equipa de futsal masculino e feminino. Pode-se dizer que tenho alguns conhecimentos acerca de tudo. Portanto a população, as pessoas da região, conheciam-me e nós sentimos sempre quando somos acarinhados. Mas não esperava que a campanha tivesse tido a expressão que teve e acabei por ficar surpreendido pelo resultado em si. Mas quando partimos para uma campanha, temos sempre a pretensão de ganhar e eu sabia que tínhamos condições para isso, mas não com esta expressão.

 

V. A. - E como têm sido estes primeiros tempos como Presidente? É uma vida muito diferente?

N.B. – Bastante (risos). Ainda me estou a ambientar e a aprender, mas já vou conseguindo fazer umas coisinhas, já vou percebendo como funcionam os mecanismos e as estruturas às quais me devo dirigir. Mas é uma vida muito mais ocupada. Antes saía do meu trabalho às 18h00 e não me preocupava mais, agora é diferente. Mas é gratificante, eu sempre gostei destas coisas, de lidar com a população, e até agora o trabalho tem sido bastante positivo.

 

V. A. - Uma das promessas da sua campanha era a elevação de Boliqueime a Vila. O que está a ser feito nesse sentido?

N.B. – Já iniciámos o processo, está em andamento. Temos estado a avaliar os pressupostos e nós cumprimos a maior parte deles. Entre eles está o posto de assistência médica, que nós temos, tal como a farmácia, casa do povo, clube desportivo (que engloba outras coletividades), a sociedade recreativa, a Santa Casa da Misericórdia, estamos abrangidos pelos transportes públicos coletivos, neste caso a EVA, a estação de correios dos CTT, estabelecimentos comerciais e hotelaria (de maior renome temos o Aldi e temos, por exemplo, duas empresas na indústria da alfarroba, tal como dois hotéis, uma hospedaria e vários alojamentos locais), estabelecimento que administra a escolaridade obrigatória e agências bancárias. A população deve ser de pelo menos três mil pessoas para que uma área se possa considerar vila e, no nosso caso, ronda cerca de seis mil. Agora precisamos de recolher informação para fazer uma breve resenha da história de Boliqueime e propor a elevação em Assembleia da República.

 

V. A. - O que é mais urgente resolver na Freguesia?

N.B. – Neste momento, nós temos um grande problema de infraestruturas e é isso que estamos já a tentar resolver. Está no bom caminho. Estamos a falar de infraestruturas ao nível da Junta de Freguesia, instalações para guardar arrumos, os carros, entre outras coisas. Depois há, claro, as redes de infraestruturas, saneamentos. Também muito importantes são as infraestruturas desportivas, que é um dos nossos calcanhares de Aquiles porque temos um campo para reabilitar.

 

V. A. - O comércio e a agricultura ainda são as principais formas de subsistência em Boliqueime?

N.B. – Ainda continuam a ser formas de subsistência para algumas pessoas, apesar de Boliqueime se ter tornado mais num dormitório. As pessoas vão trabalhar para o litoral, o que acontece em muitos sítios e Boliqueime também sofre desse síndrome. Ainda há agricultura, mas hoje é mais um hobby, o número de pessoas que subsiste da agricultura não é expressivo. Mas claro que temos muito comércio, também por causa da EN125, mas não emprega, de todo, a totalidade da Freguesia. Grande parte está em Albufeira, Vilamoura, Vale do Lobo e Loulé.

 

V. A. - Há população jovem a querer viver em Boliqueime? Quais são os atrativos?

N.B. – Há, principalmente devido às acessibilidades. Estamos a 10 minutos dos principais aglomerados populacionais, nomeadamente Loulé, Vilamoura, Quarteira e Albufeira. Tem também uma grande proximidade com a Via do Infante e somos, uma aldeia muito central. Para além disso, temos a nossa paisagem, os nossos serviços, escolas primárias, escolas de ensino até ao 9.º ano e temos um lar da terceira idade. Na verdade, temos muita gente a querer viver em Boliqueime, mas o problema é que este é um sítio economicamente pouco acessível à classe mais desfavorecida, a habitação aqui é muito cara. Temos uma população estrangeira bastante grande e a procura por residências faz com que os preços subam, tornando-se quase inacessível para os mais jovens. Mas estrangeiros temos muitos porque é um sítio bonito de se viver, temos quase tudo o que é fundamental e é uma zona central.

 

V. A. - Para além desses novos habitantes estrangeiros há também muitos que vêm só de visita. Como se tem desenvolvido o turismo em Boliqueime?

N.B. – Temos três hotéis e vários alojamentos locais, mas apesar de apenas agora se falar mais no turismo do interior, nós já verificamos isso há mais de 30 anos. As pessoas gostam de vir para a nossa região e muitas vezes vêm mais do que uma vez. Temo-nos vindo a aperceber, ao longo dos anos, que há turistas que já marcam as férias para poderem vir às festas populares de Boliqueime, por exemplo. Ligam inclusive para a Junta de Freguesia para saber. Este ano, ligaram logo em novembro! Ainda nem tínhamos datas marcadas (risos).

 

V. A. - Boliqueime é também conhecida pelas suas feiras e festas populares. Essa é também uma forma de manter viva a tradição?

N.B. – Sim. Nós continuamos as tradicionais festas populares de Boliqueime, tentamos dinamizá-las e que se desenvolvam de modo a atrair cada vez mais pessoas. Mas a verdade é que tem vindo a ser complicado porque os jovens estão cada vez menos virados para o associativismo e é muito difícil cativá--los. Mas eu acredito que nós vamos conseguir persistir. As duas principais festas, as Festas Populares de Boliqueime, decorrem no átrio da igreja e depois temos a festa em honra de Nossa Senhora das Dores e São Sebastião, o padroeiro de Boliqueime.

 

V. A. - Quais são as principais associações e instituições de solidariedade social da Freguesia e de que forma são apoiadas?

N.B. – A maior de todas as associações é o Clube Desportivo de Boliqueime, é a que envolve mais gente jovem e tem o hóquei em patins, que é o desporto forte na nossa Freguesia e cuja equipa está na segunda divisão a nível nacional- Há também uma aposta na capoeira. Já não temos equipa de futebol mas há uma equipa de futebol americano que tem interesse em vir a usufruir das nossas instalações para treinar equipas e fazer formação. Temos também o Centro Comunitário Vale de Silves, que dá apoio domiciliário aos idosos. Nós, enquanto Junta de Freguesia, tentamos dar apoio a estas associações e ajudar da forma que podemos.

 

V. A. - Tanto na vida política como cultural, há nomes que hoje se destacam no panorama nacional e que são de Boliqueime. Temos o exemplo de Aníbal Cavaco Silva ou Lídia Jorge. Há hoje uma aposta da parte da Junta de Freguesia no sentido de incentivar e motivar os jovens a enveredar por estas áreas?

N.B. – Temos muitas personalidades que se destacaram nas diferentes áreas. Temos a Aliete Galhoz, ensaísta, temos o Dr. Oliveira Martins, também com ascendência em Boliqueime, tal como o Presidente da região de turismo do Algarve, Desidério Silva, e muitos mais nomes. Obviamente que é nosso objetivo que assim continue e que continuemos a ter no futuro outras pessoas a destacar-se na cultura e na política, originárias da nossa região. É um motivo de orgulho.

 

V. A. - Um dos temas que marcou os últimos tempos tem a ver com o poço de Boliqueime, que tem sido uma questão bastante polémica. Como está a situação neste momento?

N.B. – Esta situação ocorreu no anterior executivo e basicamente o que aconteceu foi que, aquando da requalificação da EN125, entendeu-se que a rotunda deveria ter de passar por cima do poço, que estava na zona da estrada. Basicamente, não perguntaram nada a ninguém, chegaram lá, destruíram o poço e, claro, alarmaram a população. Estamos a falar de um recurso natural. Hoje temos acesso a água potável mas não sabemos se teremos sempre e é necessário salvaguardarmos os recursos que temos. O que ficou acordado foi eles colocarem umas manilhas dentro do poço para que se um dia, hipoteticamente, surgir a necessidade, se poder ter acesso à água. Depois concordou-se em construir uma réplica no centro da rotunda nova e, neste momento, estamos a aguardar que a réplica seja construída. Na verdade, aquilo era um espaço onde antigamente se fazia a venda de legumes e frutas pelos agricultores, portanto era um símbolo histórico da nossa terra e era um ponto de encontro das pessoas que se reuniam ali para ir buscar água. Dizia muito às pessoas de Boliqueime.

 

V. A. - Os CTT têm sido alvo de muita controvérsia em todo o país e em Boliqueime não foi exceção. Mas neste caso tem a ver com a manutenção do espaço, certo?

N.B. – O que ficou acordado no contrato que temos com os CTT, que não é do meu executivo, traz algum prejuízo. O que está contratualizado em termos de pagamento não costeia minimamente o serviço. Tivemos que colocar uma empregada somente para os correios e, portanto, o ordenado e todas as despesas inerentes não são cobertas por aquilo que nos pagam, já para não falar no espaço, água, luz e limpeza. Nós estamos a contribuir, com o erário público, para o funcionamento dos correios. No entanto, apesar destes custos, continuamos com os correios em Boliqueime porque entendemos que há uma classe mais idosa que não tem possibilidade de ir a outro posto de correio mais longe para receber, por exemplo, as reformas e é por isso que precisamos de continuar com este serviço.

 

V. A.- Qual é o orçamento disponibilizado para 2018?

N.B. – Cerca de 400 mil euros. Para as necessidades que nós temos é sempre pouco. Vamos fazer o possível com o que temos. Vamos aplicar essencialmente na rede viária e nas obras.

 

V. A. - O slogan da sua candidatura era “Boliqueime com futuro”. Qual é o futuro de Boliqueime?

N.B. – O futuro de Boliqueime parece-me muito risonho. Em primeiro lugar porque temos condições para isso, para crescer, e depois porque as pessoas gostam de cá viver. É preciso criar as estruturas para que isso aconteça, o que passa pelo saneamento, que é uma coisa banal nos dias de hoje mas que aqui há muitas zonas que ainda não têm. No entanto, dentro de algum tempo, acreditamos que cerca de 60% da área deverá ficar abrangida

 

Por: Sofia Coelho