De acordo com um relatório recente da World Wide Fund for Nature (WWF)1, existe uma forte probabilidade de surgirem novas pandemias transmitidas por animais, a menos que se tomem medidas urgentes. As más normas de segurança alimentar estão a aumentar, como o comércio e consumo de animais selvagens, potenciando a exposição a patologias, dando origem todos os anos a três ou quatro novas doenças zoonóticas (algumas muito graves como o VIH/Sida, a Síndrome Respiratória Aguda e a Covid-19). O risco de surgir uma nova pandemia "é mais alto do que nunca", com o potencial de voltar a causar o caos na saúde, nas economias e na segurança global, como aconteceu no caso da disseminação do vírus SARS-CoV-2.
Luís Montenegro, diretor clínico do Hospital Veterinário Montenegro e presidente do congresso explica que “o comércio e consumo de animais selvagens, a desflorestação, a expansão da agricultura extensiva e a intensificação insustentável da produção animal conduzem ao aparecimento de zoonoses. Neste sentido, é fundamental reforçar o impacto que a saúde animal pode ter na saúde humana, sem descurar a saúde ambiental, e de que modo estas podem coexistir entre si, através da introdução da abordagem One Health, em Portugal.”
No caso dos animais de companhia, grande parte das doenças que estes transmitem às pessoas que com eles coabitam, podem ser evitadas através de regras básicas de higiene e segurança. A prevenção dessa transmissão alicerça-se através de medidas e políticas que deverão envolver um trabalho conjunto de médicos, médicos veterinários e especialistas em saúde ambiental.
Luís Montenegro apela às entidades políticas e autoridades de saúde nacionais, para a urgência de se adotar o conceito One Health no nosso país, para alcançar um futuro mais sustentável. “Em vez de se observar uma multiplicação de recursos e de práticas, passa a observar-se uma única escola de saúde – um espaço coabitado por várias medicinas – construída com pilares interdisciplinares, optimizadores de recursos, inclusivos e cooperativos. Esta abordagem depende de uma reorganização das instituições e dos serviços que devem trabalhar para o mesmo fim”.
Para obter intervenções bem-sucedidas, é necessário a cooperação de profissionais de saúde humana (médicos, enfermeiros, profissionais de saúde pública, epidemiologistas), de saúde animal (médicos veterinários, enfermeiros veterinários, trabalhadores agrícolas), do meio ambiente (ecologistas, especialistas em vida selvagem) e de outras áreas de especialização.
“Um espaço coabitado por várias medicinas traz inúmeras vantagens, mas para alcançá-las, precisamos de instituir uma comunicação mais assertiva entre as partes envolvidas”, sublinha o especialista, que ambiciona ser pioneiro na introdução desta abordagem de saúde em Portugal.