“Que o testemunho de São Vicente passe para nós”, afirmou D. Manuel Quintas na celebração da eucaristia que teve lugar no pavilhão desportivo da Escola EB 2/3 de Vila do Bispo, município que tem também como patrono o diácono martirizado em Valência.
“Vivemos num tempo em que é urgente testemunharmos, de modo convicto, tudo aquilo que somos como cristãos, testemunhar a nossa fé. É urgente defendermos, promovermos e vivermos com o nosso testemunho os valores do evangelho”, considerou o prelado, acrescentando que intenção daquela celebração era também evocar a bênção de São Vicente sobre a Europa, continente que disse andar “um pouco à deriva, desgarrado naquilo que diz respeito aos valores”.
“Ainda não há muitos anos que Jacques Delors, antigo presidente da Comissão Europeia, pediu aos cristãos que fossem a alma desta Europa, uma Europa que está para além da união monetária, da economia, uma Europa constituída por pessoas que precisam de valores para dar conteúdo e sentido à sua vida. E nós hoje temos de acolher essa missão, esse apelo e desafio, levando connosco este apelo ao testemunho da nossa fé, aos valores que encontramos na palavra de Cristo”, complementou.
D. Manuel Quintas lembrou que Vicente foi, há 1700 anos, nos princípios dos séculos IV, “um dos diáconos que mais marcou os inícios dos Cristianismo”. O bispo do Algarve recordou que o mártir, que não nasceu no território que hoje é Portugal, pertencia à Igreja de Saragoça (Espanha), tendo sido assassinado no contexto das perseguições ordenadas pelo imperador romano Dioclesiano e trazido para o Algarve no século VIII pelos cristãos de Valência. “Por essa altura a invasão muçulmana foi tomando conta da península hispânica e os cristãos que veneravam o corpo de São Vicente, com receio que os invasores lhe fizessem mal, foram trazendo o seu corpo até este extremo da península”, contou, lembrando que o Cabo de São Vicente passou a ser lugar de peregrinação.
“Mais tarde, já no século XII, quando este território ainda não estava integrado no Portugal que hoje constituímos, o primeiro rei de Portugal D. Afonso Henriques, pela mesma razão e motivação de preservar os restos de São Vicente, mandou por mar buscar as ossadas deste mártir, levando-as para Lisboa, onde se encontram hoje, na Sé. É por isso que hoje também o Patriarcado de Lisboa tem como padroeiro São Vicente”, acrescentou na eucaristia que contou com uma relíquia do mártir.
O bispo do Algarve regozijou-se ainda com a participação de mais de 320 cristãos de Loulé que vieram com os seus párocos em peregrinação a Vila do Bispo, no âmbito da Semana das Famílias que celebraram. “Em vós estamos a reviver todos esses que percorriam este mesmo caminho em direção ao Cabo de São Vicente, onde se encontravam as relíquias para as venerar, para invocar a força e o testemunho deste santo e levarem consigo essa mesma força e esse mesmo testemunho de fé”, disse-lhes o prelado, desejando que esta iniciativa dos párocos de Loulé pudesse “contagiar outras comunidades paroquiais do Algarve”, para que pudessem voltar a fazer daquele um “lugar peregrinação”.
A eucaristia, no final da qual foi feita a consagração a São Vicente, contou também com a participação de cinco dos seis diáconos da diocese e D. Manuel Quintas lembrou que os diáconos permanentes “são chamados a esse serviço de uma forma ministerial, tendo presente também a ordenação diaconal”.
Depois da eucaristia seguiu-se a procissão até à igreja matriz com a participação da Banda de Música dos Bombeiros Voluntários de Aljezur.
As comemorações de São Vicente contaram ainda com um ato simbólico de plantação de uma oliveira no jardim da igreja de Sagres pelo bispo do Algarve e pelo presidente da Câmara de Vila do Bispo, Adelino Soares, seguido da declamação de um poema e da atuação do grupo Coral da Santa Casa da Misericórdia de Vila do Bispo.
A tarde teve continuidade no Cabo de São Vicente com a bênção e inauguração de um monumento ao mártir. Richard Grahne, autor da obra, contou que a ideia lhe surgiu há cinco anos quando se mudou para Lagos e visitou aquele lugar. “Não percebi por que era chamado de Cabo de São Vicente porque não vi nada que o evocasse. Havia apenas uma pequena imagem de São Vicente, mas mais nada. Procurei então informação sobre o cabo e sobre São Vicente que recolhi em grande quantidade. Alguém me disse que deveria escrever um livro. Escrevi o livro e também comecei a fazer pequenas esculturas. Pensei então que deveria falar com a Igreja para fazer um monumento”, testemunhou o finlandês, que agradeceu à Diocese do Algarve por o ter ajudado a conceber a estátua e à Marinha pela autorização da sua colocação naquele lugar.
O presidente da Câmara de Vila do Bispo, Adelino Soares, considerou a inauguração daquele monumento “mais um marco na história de São Vicente”, regozijando-se com o facto de “finalmente” haver naquele cabo uma evocação ao seu patrono.
A tarde terminou com a atuação do coro “The Western Algarve Community Choir”.
Por: Folha do Domingo
Foto: Samuel Mendonça