André Magrinho, Professor Universitário, Doutorado em Gestão | andre.magrinho54@gmail.com

Os portugueses reconhecem a importância do mar na sua história, nomeadamente em termos de projeção de poder e influência, e sabem igualmente que o mar português contribui significativamente para a riqueza nacional, seja no turismo, estando associado a muitos produtos turísticos, seja no plano alimentar, em que releva a pesca. Mas, todos os estudos e reflexões sobre o mar português e a economia do mar, referem um elevado potencial que está longe de ser explorado. Reflexões recentes do ex- CEMGFA, Almirante Silva Ribeiro, e do atual CEMA, Almirante Gouveia e Melo, ou ainda do Sec. Geral do Fórum Oceano, Prof. Ruben Eiras, são algumas das que têm vindo a dar expressão à necessidade de investir no mar português.

Silva Ribeiro, acredita que é no mar que estão os recursos que Portugal não tem em terra, e que o desenvolvimento da economia do mar é crucial, propondo uma visão estratégica, que dsigna “ressurgir com o mar”. Com esta reflexão, deverão ser equacionados “os desafios marítimos nacionais nas dimensões económica, cultural, ambiental, política e securitária, e identificar formas de superação, traduzidas em linhas de ação que explicitam o que fazer e como fazer para Portugal se desenvolver em segurança, explorando todas as potencialidades que o mar encerra”.

Importa fomentar áreas de especialização nas infraestruturas portuárias, nos transportes, nas pescas, na construção e reparação naval, e nos recursos naturais (minerais, energias renováveis e biológicos); promover marcas distintivas do turismo, da cultura, do lazer e do desporto, associadas à sustentabilidade dos oceanos, que explorem as circunstâncias geográficas do país; desenvolver capacidades científicas e tecnológicas, que permitam identificar e explorar, com inovação e sustentabilidade, os recursos inertes existentes nos fundos marinhos da plataforma continental, com 1.7 milhões de km2, em vias de expansão para os 3.8 milhões, uma das maiores do mundo; reforçar a cooperação com países com interesses marítimos convergentes (ex: Brasil, Noruega, Japão e Coreia do Sul), baseada em parcerias multilaterais ou bilaterais, e que envolvam empresas, universidades e laboratórios

Por sua vez, o Almirante Gouveia e Melo está a liderar várias iniciativas importantes na construção naval em Portugal. A Marinha está a passar por uma transformação significativa, com a construção de novos navios e a modernização das infraestruturas existentes, sendo um dos projetos mais notáveis, a construção do navio multifunções “D. João II”, que está a ser financiado pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e por investimentos estatais.

Acresce, a criação de um novo centro de operações marítimas, que será o centro nevrálgico de toda a informação captada no mar, para processar dados de forma massiva e descobrir padrões que atualmente são impossíveis de identificar. Ruben Eiras, vê a economia do mar como uma oportunidade crucial para o crescimento de Portugal, destacando que o mar tem sido subexplorado e que há um potencial significativo em áreas como a náutica de recreio, a pesca, a aquacultura, e as energias renováveis oceânicas.

Em síntese, a economia do mar tem um futuro promissor e uma cadeia de valor muito abrangente, podendo dar um contributo muito importante para que a economia portuguesa cresça mais e melhor, criando postos de trabalho bastante qualificados e bem remunerados.