Por: Manuel José Dias Ramos

MOTE

Já não há, trigo, na serra.

Já não há, o agricultor.

Já, ninguém, trabalha a terra.

Todos, querem ser, Doutor!

I

Já não se vê, os campos a verdejar

Com cereais à perda de vista.

Já não há, agricultura mista.

Não há, ceifeiras a ceifar.

Não há, máquinas a debulhar.

Não há cereais, não há eira.

Nos meus sonhos de quimera

Que me faz perder o sono

Tudo, está, no abandono.

Já não há, trigo, na serra.

II

Ao ver a serra de antigamente,

Eu não quero acreditar!

Como tudo está a mudar,

A paisagem, o ambiente.

Não há palha, nem há semente.

A terra, perdeu o seu valor.

E nos dias de grande calor

Estão os incêndios, a aparecer.

E para a serra proteger,

Já não há, o agricultor.  

III

Já não há, as juntas de bois

A puxar pela charrua.

Hoje, a serra está nua!

Estamos, todos, em maus lençóis!

Está a acabar tudo, e depois?

O que, é, que nos espera?

Já ninguém faz sementeira.

Agora, é tudo, de exportação.

Se um dia, faltar o pão!?

Já, ninguém, trabalha a terra.

IV

A serra ficou de lado

Sem apoio, sem projeto.

Ainda não houve um arquiteto

Para apoiar este povoado.

Um povo, sempre, discriminado!

A sofrer a sua dor

Hoje, os jovens, em rigor

Deixaram a serra no escuro.

Para o melhor, do seu futuro

Todos, querem ser, Doutor!