MOTE
Já não há, trigo, na serra.
Já não há, o agricultor.
Já, ninguém, trabalha a terra.
Todos, querem ser, Doutor!
I
Já não se vê, os campos a verdejar
Com cereais à perda de vista.
Já não há, agricultura mista.
Não há, ceifeiras a ceifar.
Não há, máquinas a debulhar.
Não há cereais, não há eira.
Nos meus sonhos de quimera
Que me faz perder o sono
Tudo, está, no abandono.
Já não há, trigo, na serra.
II
Ao ver a serra de antigamente,
Eu não quero acreditar!
Como tudo está a mudar,
A paisagem, o ambiente.
Não há palha, nem há semente.
A terra, perdeu o seu valor.
E nos dias de grande calor
Estão os incêndios, a aparecer.
E para a serra proteger,
Já não há, o agricultor.
III
Já não há, as juntas de bois
A puxar pela charrua.
Hoje, a serra está nua!
Estamos, todos, em maus lençóis!
Está a acabar tudo, e depois?
O que, é, que nos espera?
Já ninguém faz sementeira.
Agora, é tudo, de exportação.
Se um dia, faltar o pão!?
Já, ninguém, trabalha a terra.
IV
A serra ficou de lado
Sem apoio, sem projeto.
Ainda não houve um arquiteto
Para apoiar este povoado.
Um povo, sempre, discriminado!
A sofrer a sua dor
Hoje, os jovens, em rigor
Deixaram a serra no escuro.
Para o melhor, do seu futuro
Todos, querem ser, Doutor!