Talvez nunca de forma tão profunda desde a fundação da ONU se sinta hoje um distanciamento tão grande entre os valores universais dos direitos humanos e o enclausuramento e desresponsabilização dos estados em relação a eles: na crise dos refugiados, na tragédia da Síria, na crise ecológica, no regresso dos nacionalismos e nos impasses da globalização. Que os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança tenham decidido não vetar o nome do candidato que melhores provas públicas tinha dado é apesar de tudo um sinal de algum bom senso. António Guterres terá toda a autoridade moral para prosseguir com o muito trabalho necessário a partir daqui.
Está também de parabéns a diplomacia da República Portuguesa, logo no dia do 106º aniversário desta. Não poderia haver melhor incentivo para que cumpramos com os objetivos humanitários e universalistas que pautaram a proclamação da República. Ao governo e aos diplomatas que trabalharam com tanta eficácia para que a qualidade do candidato permitisse chegar a este bom resultado acima de tudo para a ONU. Para lá do normal contentamento com a eleição de um português devemos lembrar-nos de que aos sete mil milhões de humanos que cabe agora representar. Em particular fazemos votos para que os estados-membros e a máquina da ONU ajudem Guterres a cumprir com a sua promessa de rapidamente obter a paridade de género na organização com as nomeações dos próximos anos.