O medronho volta a ser o núcleo de nova peça de teatro em Monchique,

levando o público à serra profunda e às histórias serranas, entre visitas a destilarias, a partir de sexta-feira, no âmbito do projeto Lavrar o Mar.
A aventura à volta do medronho começou há quatro anos, mas tem incidido na componente da destilação e, para esta edição, os organizadores do projeto
«Medronho» procuraram fazer algo diferente, envolvendo autores como Sandro William Junqueira e Afonso Cruz.
«Este ano quisemos percorrer todo o percurso do medronho, desde a apanha, a fermentação até à destilação», revelou à Lusa o encenador Giacomo Scalisi,
diretor artístico do projeto Lavrar o Mar - As Artes no Alto da Serra e na Costa Vicentina, que tem em curso a 4.ª edição, a decorrer desde outubro até ao
próximo mês de maio.
Os primeiros momentos da história aconteceram em novembro passado, quando o público foi convidado a subir até às encostas de Monchique para apanhar o fruto medronho, enquanto assistiam à peça com textos do escritor Sandro William Junqueira, baseados na história de «um Romeu e Julieta monchiquense», com «Medronho - A Apanha - A Sangrada Família».
A segunda parte foi escrita por Afonso Cruz, acontece agora, nos dias 7 a 9 e 14 a 16 de fevereiro, e toma por nome «Medronho - Fermentação e Destila», com
diferentes 'subtítulos', para cada um dos seus atos: «Moisés, o famoso esquizofrénico», «Livro, esse objeto incompreensível» e «O preço certo».
O interior da Serra de Monchique é o cenário desta peça enquadrada numa zona de medronheiros e num terreno «por onde o incêndio também passou», adiantou o encenador, num assunto que o escritor Afonso Cruz não «quis esquecer», já que deixa «sinais muito fortes e presentes», tanto na serra como em quem nela habita.
O ponto de encontro, antes de cada sessão, é às 19:30, no heliporto de Monchique, de onde o público «é transportado» para o local de início da peça,
seguindo por duas destilarias, que servem de cenário aos momentos teatrais da história, antes da prova de medronho e de alguns petiscos da serra.
Os textos de Afonso Cruz «ganham vida» nas atrizes Inês Rosado, Marta Gorgulho, Sofia Moura, que dão corpo às mulheres serranas que «contam histórias sobre os homens», essencialmente sobre Carlos, o ‘Urso’, «nome de uma personagem que tem atravessado algumas das edições do 'Medronho´», revelou Giacomo Scalisi.
«A intenção foi explorar e dar a conhecer o percurso que o fruto faz até se transformar no líquido que bebemos das garrafas», realçou o diretor artístico do
Lavrar o Mar.
O desafio foi lançado aos escritores Sandro William Junqueira e Afonso Cruz, depois de uma pesquisa no território com as famílias produtoras de medronho, que ainda mantêm ativa esta atividade de forma tradicional, construindo os textos das peças, para que o público possa assistir a todo o processo.
Este evento está inserido no 365 Algarve, que tem como objetivo combater a sazonalidade na região e mostrar que a oferta cultura também pode ser um
elemento de atração para quem a visita fora da época alta, entre outubro e maio.

A comissária da programação, Anabela Afonso, afirmou à Lusa que esta peça procura «trabalhar um território de baixa densidade» como o de Monchique,
mostrando que a cultura pode «ajudar a dar visibilidade ao património», neste caso ligado aos produtos tradicionais do medronho e da aguardente de medronho.
A comissária confidenciou que este é já o quarto ano e a quarta fase do que «começou por ser uma trilogia», mas «o sucesso obtido junto do público» fez com que continuasse.


Por: Lusa