Por Luís Pina | Licenciado em Acessoria de Administração | aragaopina59@gmail.com

Negar a nossa vocação para a diáspora na busca de novos mundos, experiências de vida e contacto com outros povos, além de negar o óbvio é negar também a nossa comprovada histórica e singular capacidade de semear valores e afetos um pouco por toda a parte, e comprovada aliás por um legado de obra feita em várias partes do mundo.

Exemplo paradigmático foi o de Angola. Ali também, plasmada numa escala territorial muito maior, estava a diversidade cultural do nosso país com os seus hábitos, as suas tradições e modo de comunicar inconfundível, lá estava também o modo Algarvio com o seu estilo e expressividade peculiares. Foi por lá que tive o privilégio de conhecer aquele sujeito franzino, muito alegre, espirituoso, e com aquele sentido crítico e veia poética que caracterizam os Algarvios.

Nascido em Loulé no longínquo ano de 1900, mudou-se para África com 22 anos, acabando por radicar-se na cidade do Huambo (antiga Nova Lisboa), onde trabalhou como cobrador no então sindicato Nacional dos trabalhadores do comércio. Tornou-se figura emblemática daquela cidade, em cuja atividade cultural e lúdica participou como jornalista, (“A Gráfica do Planalto”), e até letrista de marchas populares e outros eventos de animação.

Crítico assumido e acérrimo do regime, era sobretudo por uma hábil veia poética que exprimia as suas revoltas e críticas a um certo “Status” vigente. Edmundo dos Santos Pacheco, de cujos laços sanguíneos com Duarte Pacheco não se vangloriava, mas sempre afirmava, faleceu em 1972. Também conhecido como o “minúsculo”, de seu legado poético aqui transcrevo 2 quadras ao bom jeito do “Algarvio a malhar em ferro frio”, tal como se intitulava na sua mordacidade:

 

“Quem tem salário modesto

Tem vida só de tormento

Só o mal lhe arrasta a asa

A pensar na vida sua”

 

“Pois do seu trabalho honesto

Só lhe dão fraco provento

E então, renda de casa?

Se não paga, vai p´ra rua”