Com casa cheia e uma assistência amiga, abundante e sentida, o escritor Neto Gomes apresentou o seu 25.º livro, intitulado «Punhefla, que Livraço», numa celebração que foi muito mais do que um simples lançamento literário — foi um reencontro com a alma vila-realense.
Com a paixão e a garra que lhe são características, o autor conduziu o público por um universo feito de memória, humor e ternura, onde as histórias se confundem com a vida real das gentes da “Bila”, como carinhosamente chama à sua terra. A emoção esteve à flor da pele do início ao fim, entre gargalhadas cúmplices, aplausos demorados e palavras que tocaram fundo em todos os presentes.
Durante a sessão, Neto Gomes descreveu o processo de criação desta nova obra como “um verdadeiro parto literário — com as dores do parto, mas com a alegria da vida e da ‘Bila’”. A metáfora, ao mesmo tempo poética e sincera, reflete o profundo enraizamento do escritor à sua terra natal e às suas gentes, a quem dedica cada linha e cada memória.
Dotado de memória prodigiosa e escrita emotiva, o autor assume, neste livro, o papel de mãe, pai e avô de uma narrativa que respira autenticidade. Cada personagem surge com a familiaridade de um vizinho, de um amigo, de um parente próximo — prova de que o olhar de Neto Gomes é, acima de tudo, um gesto de amor pela comunidade que tão bem conhece e retrata.
A obra, cujo prefácio é da autoria do Professor Doutor Mário Centeno, destaca-se pela riqueza humana e social e pelo olhar atento que transforma a periferia em centro, dando voz e dignidade às histórias que, tantas vezes, o tempo tenta apagar. Ao fazê-lo, o autor reafirma-se como cronista da vida simples e guardião da memória coletiva, devolvendo à literatura o sabor da terra e o pulsar das emoções verdadeiras.
A apresentação de «Punhefla, que Livraço» foi, acima de tudo, um tributo à pertença. Como sublinharam muitos dos presentes, foi um daqueles momentos que ficam gravados na alma de uma comunidade. Vila Real de Santo António viveu uma noite de partilha, reconhecimento e orgulho, onde cada palavra escrita e dita recordou o que é ser verdadeiramente vila-realense: honrar as origens, preservar as tradições e celebrar a autenticidade da sua gente.
“Ser vila-realense é sentir o coração bater ao ritmo do Guadiana, é saber que o amor à terra não se explica — sente-se, vive-se e escreve-se”, disse um dos amigos do autor, resumindo o espírito da noite.
Que este livro, como tantos outros de Neto Gomes, continue a ser farol e testemunho da alma vila-realense, lembrando-nos que, onde quer que haja um filho desta terra, haverá sempre amor, humor e fidelidade à “Bila” que os viu nascer.