Situado na costa ocidental do Algarve, Aljezur, tal como o vizinho concelho de Vila do Bispo, na costa sul, ambos inseridos em zona de parque natural, beneficiou muito do "boom" do surf, a partir do final da década de 1990, que gerou uma onda de negócios paralelos: no início foram as escolas e as lojas especializadas, mais recentemente, os "hostels" e alojamentos locais.
O presidente da autarquia, José Amarelinho, assume que aquela modalidade é uma das "forças motrizes" da economia de um concelho envelhecido, geradora de riqueza e de postos de trabalhos, diretos e indiretos, sobretudo porque o surf é um "produto ativo" durante todo o ano, quebrando a sazonalidade.
"Este é o nosso filão e a preservação é a peça chave para podermos ser atrativos, pois temos praias que são únicas, e não é em vão que dizemos que somos um dos últimos redutos da Europa, em termos de valor cénico e não só", observa o autarca, frisando que vai continuar a bater-se contra a "artificialização" das praias.
Com perto de 6.000 habitantes recenseados, segundo dados dos Censos de 2011, Aljezur sempre teve dificuldade em fixar jovens e criar postos de trabalho, mesmo sendo um concelho no litoral, admite o autarca, notando, contudo, que nos últimos anos o concelho tem ganho população, sobretudo estrangeiros, o que tem ajudado a criar "massa crítica".
No verão, a população aumenta exponencialmente, sobretudo devido à chegada de milhares de surfistas, mas também de famílias que escolhem as praias de Aljezur para veraneio, o que, por vezes, cria conflitos, afirma José Amarelinho, observando que é raro o ano em que a autarquia não recebe telefonemas de particulares a queixarem-se da falta de espaço para os banhistas.
"Queremos que [o surf] seja um produto turístico ordenado, até porque as nossas praias sempre foram vocacionadas para o turismo familiar", refere, adiantando que a autarquia encomendou, este ano, à Universidade do Algarve, um estudo para avaliar o impacto económico do surf no município e identificar problemas e oportunidades.
O excesso e a proliferação de escolas de surf na costa vicentina é um dos problemas para a sustentabilidade da atividade, reconhece o presidente da Associação de Escolas de Surf da Costa Vicentina (AESCV), Samuel Furtado, embora esta tenha sido a primeira região portuguesa a ter regras específicas para o ensino da modalidade, em 2000.
"Isto já é complicado com as escolas existentes e as praias tendem, naturalmente, a diminuir, de ano para ano as praias. Não crescem", refere, explicando que a associação representa 20 empresas, com escolas de surf a operar na Costa Vicentina, não estando contabilizadas as escolas ilegais, "que existem cada vez mais".
Desde o início de 2015, as regras estão mais apertadas para as escolas de surf, estipuladas num edital da capitania do porto de Lagos, que regula e limita as licenças para escolas da modalidade na costa vicentina. As escolas dispõem agora de corredores próprios, delimitados por bandeiras.
"Sentimos a necessidade de criar regras, tal como existem noutros países por onde viajámos, por uma questão de imagem, segurança e qualidade", admite Samuel Furtado, que gere também uma escola de surf, na praia da Carrapateira, e um "surf camp", na Raposeira, lembrando ainda os inúmeros surfistas que frequentam as praias e não estão integrados em escolas.
Todos os anos recebe clientes vindos de países como Alemanha, Áustria, Rússia, República Checa ou Brasil, e nota que o surf deu um "grande empurrão" à economia local, dando o exemplo de um supermercado, que tinha fechado por falta de clientes, e que agora reabriu porque nas proximidades existe um "surf camp" e um "hostel".
João Lourenço, que em conjunto com o irmão gere a escola de surf do Amado, trabalhava, tal como Samuel Furtado e muitos outros jovens, na pesca e na apanha de perceves, antes de Aljezur se tornar num destino de férias para o surf.
"Se não fosse o surf, a economia do concelho ainda estava na pré-história", observa, referindo que na sua escola, formada em 2008, já recebe uma segunda geração de surfistas, crianças que agora vão com os pais aprender a modalidade.
Numa costa com aproximadamente 40 quilómetros de extensão, existem praias para todos os gostos, mas as mais populares para a prática do surf são as praias do Amado, Arrifana e Cordoama.
Muitos surfistas procuram também praias mais selvagens, de acesso mais difícil, como as da Ponta Ruiva, Canal ou Vale Figueiras, entre outras.
Por: Lusa