Por: Padre Carlos Aquino | effata_37@hotmail.com

Cada dia experimentamos, sedentos e seduzidos, a ternura de um olhar, a importância de um abraço, a doçura de um beijo, as carícias das palavras escritas no coração.

Cada dia despertamos famintos de afetos e de amor. Porque também somos isso. O amor ocupa o centro de todas as buscas humanas. O sentido da vida se decide na experiência do amor e na forma de amar. E dizemos tão pouco e com tanta fragilidade, às vezes envergonhados: amo-te! A tradição religiosa que mais valoriza o amor é a judeo-cristã.

Ela nos revela Deus como Criador, Pessoa que ama e quer ser amada, com que o homem pode estabelecer relação e verdadeira intimidade de amor e de comunhão. É possível ao homem ser amado e abandonar-se no amor que Deus é. É este amor que influencia todas as experiências humanas de amor. Ele é a fonte, a referência.

O amor do próximo, do outro, brota sempre do amor de Deus. A Igreja é sacramento deste Deus Amor. Por isso todo o ensino e práxis pastoral da Igreja têm a sua origem no encontro com a mensagem evangélica e as suas exigências éticas/morais e da sua relação com os problemas concretos que brotam da vida de cada ser humano e da própria sociedade.

O Evangelho não é para a Igreja apenas uma comunicação de realidades que se podem saber, mas uma comunicação que gera factos e muda a vida. Esta não é um simples produto de leis e de causalidade da matéria, mas em tudo e, contemporaneamente acima de tudo, há uma vontade pessoal, há um Espírito que em Jesus se revelou como Amor e modela a vida. O amor é uma força que tem a sua origem em Deus.

É este amor que dá fecundidade e pleno sentido à vida. É este amor que deve ser amado e comunicado. Que deve ser evangelizado para se tornar caridade, Amor-Caridade: amar como Jesus, Evangelho de Deus Vivo nos amou.

E como nos amou Jesus Cristo? Ele amou-nos primeiro. Numa bela expressão do Papa Francisco “primeireou”: o seu amor é um amor que sabe ler e ver a condição verdadeira do outro, das suas necessidades, com olhar penetrante e terno sem condenação, juízo e preconceito.

Amou mesmo sabendo que todos somos frágeis e pecadores. Ele envolveu-se, acompanhou, ajudou a discernir. Para que o Reino fosse verdade e luz no coração livre de cada um. Amou a todos e até ao fim, até dar a vida.

Fez frutificar o amor como uma semente, doando-se e perdendo-se como o grão de trigo lançado à terra. Amou restituindo a liberdade e a dignidade. Amou com o próprio amor de Deus.

Amor que nos leva a celebrar a vida, nos conduz à festa e alegria plenas. Amar cristãmente é um contínuo “dar de si” a partir de Deus revelado em Jesus Cristo. Este amor exige sempre formação e transformação profunda do coração, um coração “vidente”, gratuidade generosa, humildade, verdade, capacidade de perdão.

Se fosse tudo isto o alicerce da construção do amor humano e da edificação da “casa” como tudo seria diferente? Por isso mesmo, torna-se urgente aprendermos primeiro a transformar o nosso amor, exprimido nos afetos, mais de acordo com a caridade evangélica.

E o amor é possível, somos capazes de o realizar porque somos de Deus, Ele dá-nos a força necessária e as capacidades. A caridade é amor recebido e dado.