Paulo Águas faz balanço de dois mandatos e lança desafios para o futuro da UAlg
Por ocasião do 45º aniversário da Universidade do Algarve, o reitor Paulo Águas apresentou um balanço do período compreendido entre 2017 e 2024, referindo-se aos desafios enfrentados, às conquistas e aos objetivos estratégicos para o futuro da Instituição.
O reitor destacou o compromisso com o desenvolvimento institucional, a valorização da comunidade académica e a sustentabilidade financeira.
Remontando a 2017, Paulo Águas recordou a situação financeira frágil que a UAlg enfrentava, com pagamentos de salários dependentes de adiantamentos e reforços extraordinários do Governo. A recuperação foi conseguida através de controlo rigoroso da despesa, estabilização do crescimento do pessoal, aumento do crescimento da atividade e das receitas próprias, permitindo alcançar uma situação financeira estável desde 2020.
“Em 2023 executámos 71 milhões de euros e este ano deveremos ultrapassar os 77 milhões de euros. Ao nível da receita arrecadada, e incluindo o saldo de gerência transitado, poderemos vir a ultrapassar os 100 milhões em 2024, quase o dobro dos 55 milhões de euros arrecadados em 2018”, explica Paulo Águas.”
O crescimento académico, com mais estudantes e diplomados, com boa integração no mercado de trabalho, também mereceu especial destaque na intervenção do reitor, que fez notar que a UAlg registou um aumento de 32% no número de estudantes de grau desde 2017/18, atingindo 9.943 em 2023/24. Também o número de diplomados cresceu de 1.308 (2017) para 1.993 (2023), e a empregabilidade melhorou, com 87% dos inquiridos a considerar que a formação é adequada para as funções que desempenham. De referir ainda que 69% dos inquiridos se encontra a trabalhar no Algarve.
No que diz respeito à valorização dos recursos humanos, valorizou as mais de 130 progressões na carreira docente nos últimos cinco anos, seis vezes mais do que o verificado nos últimos oito anos, ou seja, mais de 40% dos docentes com mais de 10 anos de serviço, em condições para tal, mudaram de categoria. Paulo Águas destacou ainda os investimentos na melhoria das condições de trabalho, com renovação de equipamentos e instalações.
Sobre a internacionalização e a investigação, o reitor recordou que a UAlg lidera o ranking nacional da Times Higher Education, no que diz respeito à projeção internacional, desde 2020. Embora reconheça que se tenha registado um abrandamento no crescimento de estudantes estrangeiros e nas publicações em coautoria internacional, acredita que o projeto da Aliança da Universidade Europeia dos Mares, a que a UAlg aderiu em janeiro de 2022, poderá dar um importante contributo para o aumento da internacionalização, tanto no ensino, como na investigação. Em relação à captação de financiamento para investigação, lembra que desde 2022 (€17,5 milhões) já ultrapassa o total do quadriénio 2018-2021 (€16 milhões), destacando-se seis bolsas do European Research Council atribuídas ao Centro Interdisciplinar de Arqueologia e Evolução do Comportamento Humano (ICArEHB), três já em execução e outras três a iniciar em 2025.
“O alojamento continua a ser uma das suas maiores prioridades para este reitor”
No entanto, o alojamento continua a ser uma das maiores prioridades para este reitor. “O alojamento é a principal barreira para o prosseguimento de estudos por parte de estudantes deslocados, podendo desempenhar um papel importante na captação de estudantes internacionais.” Em jeito de reflexão, referiu a renovação de 427 camas em seis residências e a construção de novas infraestruturas para mais 297 camas no âmbito do programa nacional de alojamento para o ensino superior apoiado pelo PRR. Contudo, o custo total previsto subiu de €17 milhões para €26 milhões, ou seja, mais €9 milhões do que o previsto, colocando, assim, uma pressão financeira adicional. “A não ser possível o reforço de financiamento, a referida situação financeira tranquila em que nos encontramos irá deteriorar-se fortemente”, concretiza.
Com o intuito de transformar a Universidade num local ainda melhor para trabalhar, que tem implementado medidas de sustentabilidade, igualdade de género e participação comunitária, como o Orçamento Participativo, o reitor evidenciou o sistema interno de garantia de qualidade que permitiu que a UAlg obtivesse a acreditação máxima na avaliação institucional da Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior (A3ES).
Paulo Águas assegura que, em 2025, a UAlg continuará o trabalho em curso, reconhecendo os desafios de um crescimento mais rápido do que o previsto. Não obstante, acrescem ainda como problemas identificados a baixa taxa de transição do secundário para o ensino superior no Algarve, o investimento em I&D na região inferior à média nacional e a sub-representação de estudantes do Barlavento algarvio na UAlg.
Para dar respostas a esses problemas, foi apresentada ao Governo uma proposta de Programa de Desenvolvimento para Década de Convergência da Região do Algarve na Educação, Ciência e Inovação, assente no desenvolvimento de várias infraestruturas. No seu entender, o sucesso do plano depende de fundos governamentais para complementar recursos regionais, locais e da própria UAlg.
Os Conselhos Gerais das Universidades Públicas têm tido um papel estratégico na ligação entre as universidades e a sociedade.
Ana Jorge, presidente do Conselho Geral da UAlg, que iniciou o mandato em 2021 e termina no início de 2025, referiu que, durante este período, aprofundou o conhecimento sobre a excelência e o prestígio da Universidade, reconhecida nacional e internacionalmente pelo rigor, inovação e compromisso com o desenvolvimento sustentável.
Destacou o projeto da Aliança das Universidades Europeias dos Mares (SEA-EU 2.0), que reúne nove universidades costeiras de diferentes países europeus, promovendo programas educativos conjuntos, investigação científica e mobilidade académica.
Na sua opinião, outro marco importante foi a recente Avaliação Institucional do Ensino Superior da A3ES que resultou na acreditação da UAlg por seis anos. Também o Relatório Final da Comissão Externa de Avaliação evidenciou o elevado desempenho em áreas como planeamento estratégico e melhoria contínua da qualidade.
Paralelamente, a revisão do Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior (REJIES) e a interação entre os Conselhos Gerais das Universidades Públicas têm evidenciado o papel estratégico destes órgãos na ligação entre as universidades e a sociedade. Na UAlg, esta ligação é fortalecida pela inclusão de membros externos, especialmente do setor empresarial algarvio.
A resiliência dos funcionários não docentes como importante pilar na missão da UAlg
Em representação dos funcionários não docentes, Adriano Pires, recordou o seu percurso na instituição como estudante, funcionário e, recentemente, docente, sublinhando o papel essencial da UAlg como um ecossistema de aprendizagem único, impulsionado pela diversidade cultural e académica.
Realçou a resiliência dos funcionários não docentes como importantes pilares na missão da UAlg, reconheceu a relevância de algumas iniciativas como os Prémios de Excelência nos Serviços, e outras que permitem melhorar o equilíbrio entre vida profissional e pessoal, incluindo horários flexíveis e teletrabalho. No entanto, apontou desafios como a insuficiência de recursos humanos e a necessidade de equilibrar as necessidades da Instituição com a promoção de condições de trabalho dignas e sustentáveis.
O novo regime SIADAP, previsto para 2025, foi referido como uma oportunidade de valorização, mas que exige simplificação administrativa. O orador elogiou iniciativas como o Orçamento Participativo, que promovem maior envolvimento dos funcionários. Abordou também a introdução da inteligência artificial como um desafio e oportunidade para redefinir funções, reforçando o foco em competências humanas. Concluiu reiterando a confiança no valor do trabalho conjunto para enfrentar os desafios futuros e fortalecer a UAlg.
UAlg, um espaço de ensino, inclusão e realização de sonhos
Rodrigo Carlos, recém-empossado Presidente da Associação Académica, destacou a honra de representar os estudantes, apresentando a UAlg como um espaço de ensino, inclusão e realização de sonhos. Agradeceu aos professores e funcionários pelo papel essencial que desempenham na vida académica e institucional. Abordou alguns dos desafios enfrentados pelos estudantes, como a saúde mental, a pressão académica, dificuldades financeiras e a crise habitacional no Algarve, afirmando o compromisso de continuar a lutar pelo futuro da comunidade académica.
O papel dos educadores na formação de qualidade, preparando os jovens para os desafios de um mundo em constante mudança
Em representação dos docentes, Dulce Estêvão, docente da Escola Superior de Saúde, refletiu sobre os seus 35 anos de dedicação à Instituição, destacando a importância dos estudantes como elemento central. Sublinhou o papel dos educadores em proporcionar formação de qualidade, preparando os jovens para os desafios de um mundo em constante mudança, e os desafios enfrentados pelo corpo docente, incluindo a necessidade de renovação e os obstáculos à progressão na carreira devido a limitações orçamentais e aumento de responsabilidades. Mencionou o impacto da revolução digital, especialmente a inteligência artificial, sublinhando a necessidade de preparar os estudantes com competências técnico-científicas, sociais e emocionais, e de continuar o investimento em recursos tecnológicos para garantir acessibilidade a todos. Realçou a importância de programas como a mentoria por pares e os ciclos de inovação pedagógica para o desenvolvimento profissional dos docentes e destacou, também, a relevância de tarefas de gestão e atividades de serviço à comunidade, como o Grupo de Voluntariado UAlg V+, que requer mais recursos para ampliar o seu impacto.
Nesta sessão solene foi atribuído o título de “Professor Emérito” a Efigénio da Luz Rebelo, professor catedrático com agregação em Métodos Quantitativos Aplicados à Economia e à Gestão, que, entre muitos outros cargos e funções, foi seis vezes diretor da Faculdade de Economia, em diferentes períodos.
Pela terceira vez foi entregue o Prémio Manuel Gomes Guerreiro, atribuído, por unanimidade, a João Pedro Almeida Meneses, doutor em Engenharia Biomédica pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (2024). Organizado pela Universidade do Algarve, com o patrocínio da Câmara Municipal de Faro e da Câmara Municipal de Loulé, o prémio tem um valor pecuniário de 10 mil euros.
Foi também entregue pela terceira vez o Prémio Investigador UAlg, que se traduz numa dotação no valor de 5 mil euros e visa distinguir e reconhecer publicamente o investigador da Universidade do Algarve que pelo trabalho desenvolvido na área da investigação científica se destacou a nível nacional e internacional. Manuel Aureliano Alves, docente da Faculdade de Ciências e Tecnologia (FCT) e investigador do Centro de Ciências do Mar (CCMAR), foi o grande vencedor.
Também este ano, pela primeira vez, foi entregue o Prémio Três Minutos de Tese (3MT-UAlg) a Ana Simão, do doutoramento em Psicologia, no valor de 4 mil euros.
Durante a cerimónia, foram ainda entregues as medalhas da Universidade aos funcionários que completam 25 anos de serviço. Em dia de comemorações foram também anunciados os vencedores do Orçamento Participativo. Em 2024, a Universidade do Algarve colocou à disposição da comunidade académica 80 mil euros a favor de projetos que melhorem o bem-estar da comunidade: 40 mil euros para estudantes e 40 mil euros para funcionários docentes, não-docentes e investigadores. Foram admitidas a votação 11 propostas, das quais serão executadas seis: uma proposta de funcionários e cinco propostas de estudantes.
A terminar foi ainda entregue, com o apoio da Caixa Geral de Depósitos, o Prémio Universidade do Algarve aos diplomados com mérito no ano letivo de 2022/23.
A sessão contou com três momentos musicais por Luís Domingos Miguel Trio, com um repertório dedicado aos standards de jazz.
UAlg