Por Luís José Pinguinha | Vice-presidente do Louletano | FUTEBOL | Acompanhando as jovens promessas do Louletano | pinguinhaluisjose@gmail.com

Hoje: uma crónica algo diferente (mas sempre em prol do futebol e da formação).

No passado dia 16 de novembro, estive presente numa “Conversa com…”, uma iniciativa da Câmara Municipal de Loulé que se traduz numa amena cavaqueira que é estabelecida entre quem quiser comparecer (o acesso é livre) e uma personalidade convidada, da área do Desporto. Neste contexto, já houve conversas com o treinador de futebol Manuel Cajuda, com Lenine Cunha, o atleta mais medalhado do mundo, com os pilotos Miguel Farrajota e Carlos Sousa, com o ex-árbitro Pedro Henriques e com o vice-presidente da Federação Portuguesa de Ciclismo, Sandro Araújo.

Desta vez a opção recaiu sobre Reinaldo Teixeira. Natural de Salir, Reinaldo é um empresário de sucesso (CEO da Garvetur/Enolagest é a sua faceta mais conhecida – se estiver interessado em mais dados sobre o “filho mais velho do parente de Salir” tal está ao seu alcance à distância de um clique). Foi, no entanto, na qualidade de Presidente da Direção da Associação de Futebol do Algarve (recém-empossado) que a edilidade louletana o convidou.

E, nesta qualidade, esta “Conversa com…” terá sido, para alguns, uma deceção. Vejam bem: durante mais de duas horas não foi referido aquele golo que o treinador da equipa que o sofreu garante ter sido marcado com a mão; não se discutiu se a falta que originou o penalty que deu o golo da vitória àquela equipa do Barlavento foi fora ou dentro da área; nenhum dirigente ou treinador presente monopolizou a conversa insurgindo-se contra os “erros dos árbitros”, os quais, como se sabe e se comprova pelas declarações dos agentes desportivos no final dos jogos, são sempre contra a equipa de quem está no uso da palavra; não se debateu sobre a justiça da pena aplicada àquele treinador que entrou em campo com o jogo a decorrer, colocou as mãos no pescoço do árbitro mas, até porque, segundo um dirigente do seu clube do momento, “ele é uma joia de rapaz e, vocês viram, não chegou a bater no árbitro, aquilo foi só uma impulso que lhe deu”, tendo o árbitro, ao ouvir tal, sussurrado: “se foi um impulso poderia ter-me oferecido flores, assim não tinha gasto tanto dinheiro a comprar blusas de gola alta para tapar as marcas das suas mãos no meu pescoço”, não, nada destes grandes temas do futebol foram debatidos.

Também não se ouviu o Senhor Presidente fazer as habituais promessas que os Senhores Presidentes costumam fazer quando estão no início de mandato, do género: vamos triplicar o número de jogadores algarvios internacionais, vamos conseguir insígnias da FIFA para os nossos melhores árbitros (as da UEFA serão para os outros), vamos duplicar o número de campos de futebol no Algarve e outros desvaneios talvez produzidos pelos vapores da aguardente de medronho da nossa Região.

Então, perguntar-me-ão os que se dignaram a ler estas linhas até aqui: o que estiveram lá a fazer?

Também eu me questionei se, para muita gente, terá valido a pena terem-se deslocado ao Café Calcinha naquela fria noite e estar ali mais de duas horas a ouvir futebol sem se falar em futebol “tout court”.

É que Reinaldo Teixeira (que foi jogador e dirigente da AC Salir) passou 70% do seu “tempo de antena” a insistir na necessidade de defendermos os valores éticos da coexistência entre os homens, a defender que o futebol será um melhor jogo quando os jovens que o praticam o fizerem com amizade, alegria e correção e que será um melhor espetáculo quando os amantes da modalidade constatarem que se o árbitro errar é porque é humano e que o “match fixing” é algo só presente nos compêndios da história remota da modalidade.

É que Reinaldo Teixeira (que foi Presidente da Mesa da Assembleia Geral da Associação de Futebol do Algarve e é o atual Coordenador dos delegados da Liga Portuguesa de Futebol Profissional) defendeu, e tornou a defender, as vitórias com valores, realçando que, desta forma, elas são muito, mas mesmo muito mais saborosas.

E é por isso que eu digo: bem empregue foi o tempo passado a participar nesta “Conversa com…”. Porque, se dúvidas ainda houvesse, confirmou-se o que eu, que conheço o Reinaldo há cerca de três décadas e meia, suspeitava: o futebol algarvio, ao ser liderado por um Presidente que coloca o foco na valorização do ser humano, nos princípios éticos, um Presidente que reconhece que não há dirigentes, não há treinadores, nem há jogadores mas, sim, homens que dirigem, homens que treinam e homens que jogam futebol, está no caminho certo em prol do futebol que se deseja:

Um Futebol com valor(es)!

 

 

Reinaldo Teixeira

(Presidente da Associação de Futebol do Algarve)