Jean Carlos Vieira Santos | svcjean@yahoo.com.br
Vivemos num mundo que, muitas vezes, nos convida a não observar os lugares, as informações gravadas num edifício memorial, as flores nos canteiros. Parece-me que perdemos a capacidade de pensar, sentir, olhar e sonhar, num ritmo frenético em que o tempo, longe de ser um investimento no nosso bem-estar, parece estar sempre contra nós. Sinto que despir-nos dessa pressa se torna uma necessidade simples, mas urgente, a ser cultivada.
 
Sem pressas e num domingo, ao passear lentamente pelas ruas da baixa farense, reparei na arte urbana presente nas formas e nos desenhos da calçada da Rua de Santo António. Percebi uma beleza imensa nas memórias e nas impressões daqueles que se propõem a caminhar e observar. Trata-se de uma via urbana singular, que nunca será esquecida por quem a visita – é, por isso, a alma algarvia materializada.
 
Aquele dia proporcionou-me um encontro de sensações, como se estivesse a ler um texto maduro, esculpido pela liberdade criativa do autor, distinto das outras calçadas da cidade. Este caminhar lento suscitou em mim o desejo de parar, de ficar e não continuar o trajeto em direção à Vila-Adentro. Porém, isso não era possível naquele momento, pois tinha um compromisso na Rua do Castelo, outro espaço representativo de Faro, com as suas construções caiadas de branco e janelas molduradas. Pensei, então, cautelosamente, que seria mais sensato respeitar o horário combinado.
 
Deixei aquela rua que tanto me encanta e me permite experienciar a arte de forma equilibrada, sem sentir a ameaça do tempo. Parti com a sensação de me sentir, espontaneamente, mais enriquecido. Consciente de que, mesmo após inúmeras voltas nesta região farense, a Rua de Santo António é um lugar ao qual retorno sempre, porque cada visita é uma oportunidade renovada de deleite e descoberta.