A água da albufeira do Monte da Rocha, em Ourique (Beja), que está a cerca de 15% da capacidade, vai ser reservada para dois anos de abastecimento público, com rega apenas de culturas perenes, como o olival.

Esta foi uma das garantias deixadas no final da reunião de ontem, em Évora, da Subcomissão Regional da Zona Sul, da Comissão de Gestão de Albufeiras, promovida pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA), para avaliar as medidas técnicas a tomar contra a seca.

O vice-presidente da APA, José Carlos Pimenta Machado, disse aos jornalistas que, no Alentejo, “felizmente, o Alqueva responde a boa parte dos problemas do ponto de vista de dar segurança, quer para o abastecimento público, quer para a rega agrícola”.

Mas, existem “dois ou três casos” que “preocupam”, como as albufeiras do Monte Novo (Évora) e Morgavél (Sines), mas sobretudo a do Monte da Rocha, que serve para abastecimento público e para a rega na agricultura, destacou.

“A albufeira tem níveis historicamente muito baixos e, este ano, os níveis também estão críticos”, alertou, aludindo ao atual volume de cerca de 15% da barragem, o que corresponde a perto de 15 milhões de hectómetros cúbicos.

Por isso, a medida que foi tomada foi a de “guardar a água para dois anos do consumo humano e reduzir a rega agrícola, em particular para as culturas temporárias”, disse.

“Fica apenas [disponível] para as culturas perenes, no caso particular o olival”, acrescentou.

O responsável lembrou que esta barragem vai passar a estar ligada à do Alqueva, o que a vai tornar mais resiliente no futuro: “O projeto está lançado, o concurso está a ser preparado e essa é a boa notícia. No final de 2003, o Monte da Rocha estará ligado a Alqueva”.

No final da reunião, também o diretor-geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural, Rogério Ferreira, destacou a importância do Alqueva para o Alentejo, uma vez que a barragem está com cerca de 80% da capacidade.

“Temos alguma margem de segurança” e “uma situação relativamente confortável” na região, nomeadamente no que respeita ao regadio, pois, com exceção do Monte da Rocha, “todos os perímetros de rega do Alentejo têm a campanha assegurada”, afirmou.

Segundo o responsável, estão a ser preparados planos de contingência, não só para “medir a utilização eficiente” da água, mas para garantir, fora das zonas abrangidas pelo regadio, que os agricultores têm pontos para o abeberamento dos animais.

“Há um conjunto de planos de contingência” para “identificar pontos de abeberamento animal”, para que exista “uma rede” que dê “segurança para toda a componente da produção animal na região”, disse.

Na reunião, que juntou, presencialmente ou ‘online’, representantes de entidades com competências em matéria de ambiente, recursos hídricos, agricultura, proteção civil e outros domínios ligados à gestão da água, a APA propôs ainda às autarquias diversas medidas para “apostar na eficiência” hídrica na região.

“Temos que combater o desperdício da água” e “perdas físicas nos canais de transporte de água, para a agricultura, mas também para consumo humano”, realçou Pimenta Machado, referindo que foi também proposto às autarquias, com “boa aceitação”, a redução dos consumos da rede pública para lavagem de ruas, de equipamentos, dos espaços verdes, entre outros.

O presidente da Comunidade Intermunicipal do Baixo Alentejo (CIMBAL), António Bota, salientou que as autarquias têm “todo o interesse” em aplicar as medidas sugeridas pela APA e que vão refletir sobre elas: “Cada autarca é autónomo e decide consoante a realidade do seu concelho”.

A verba de cinco milhões de euros do Fundo Ambiental que o Governo já disse que vai destinar, no âmbito da seca, para campanhas de sensibilização e soluções de contingência, como o transporte de água em camiões-cisterna para abastecer aldeias, é igualmente “bem-vinda”, segundo António Bota.

 

Por: Lusa