De acordo com uma comunicação interna da SPP à qual a agência Lusa teve hoje acesso, esta sociedade, em conjunto com as Sociedades de Urgência e Emergência e Medicina do Adolescente, reuniu-se com a Direção Executiva do SNS (DE-SNS), liderada por Fernando Araújo, após lhe ter dirigido um conjunto de propostas.
Uma das sugestões visa o “alargamento do apoio presencial nas três urgências de referência [do país] até às 24 horas”.
Em causa está a Rede Nacional de Serviços de Urgência de Psiquiatria da Infância e Adolescência que está organizada em urgências regionais: Norte, Centro e Região de Lisboa e Vale do Tejo, Região do Alentejo e Região do Algarve.
No Norte a urgência regional de pedopsiquiatria funciona no Centro Materno Infantil do Norte, que pertence ao Centro Hospitalar Universitário de Santo António.
No Centro, a urgência de psiquiatria da infância e adolescência está sediada no Hospital Pediátrico de Coimbra.
Já em Lisboa, no Hospital Dona Estefânia, do Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, são atendidos utentes de Lisboa e Vale do Tejo, do Alentejo e do Algarve.
O novo regulamento, que entrou em vigor a 03 de fevereiro, indica que estas urgências têm presença física de uma equipa dedicada apenas das 08:00 às 20:00, sendo a última admissão às 19:00.
Em 02 de março, o diretor de Pediatria do Hospital Dona Estefânia alertou para o aumento de casos de saúde mental e criticou o encerramento noturno das urgências de pedopsiquiatria no hospital.
Gonçalo Cordeiro Ferreira contou à Lusa que, logo no primeiro dia do novo modelo, foram notadas fragilidades.
“Esta madrugada [02 de março], às 06:00/07:00, apareceu um jovem com problemas psiquiátricos, bastante volumoso, com 70 e muitos quilos, muito agressivo e, não havendo pedopsiquiatra, foi muito difícil fazer-lhe qualquer contenção”, relatou o pediatra.
Como não podia estar na sala de espera até que os pedopsiquiatras chegassem, uma vez que “ameaçava destruir a sala, teve que ficar no jardim do hospital à espera (…) porque de facto, era muito difícil conseguir contê-lo e não havia ‘know-how’ capaz de o fazer”, acrescentou.
O diretor também destacou que o recurso aos serviços e às urgências de pedopsiquiatria aumentou exponencialmente no mundo depois da pandemia e que, em Portugal, “as intoxicações medicamentosas voluntárias aumentaram muito de 2020 para 2021”.
“Portanto, temos de ter esta colaboração estreita entre pediatras e pedopsiquiatras para bem desta população que está com muita perturbação mental”, disse.
Nas sugestões dirigidas à DE-SNS, a SPP defende que o atendimento até às 24 horas visa “assegurar esse apoio durante mais tempo e no período em que a procura é inquestionavelmente maior”.
As sociedades de Pediatria, Urgência e Emergência e Medicina do Adolescente também propõem a criação de uma linha de apoio telefónico de âmbito nacional, assegurada por um médico de psiquiatria da infância e adolescência, acessível em exclusivo aos pediatras de todos os serviços de urgência durante as 24 horas.
O objetivo é dar apoio à estabilização de situações graves do foro da saúde mental na criança.
As sociedades propuseram, por fim, a criação de protocolos conjuntos para situações agudas do foro da saúde mental, bem como a criação de consultas de apoio a situações agudas nos serviços de Psiquiatria da Infância e Adolescência que não têm urgência da especialidade.
A SPP também pede “orientações claras (…) no apoio a situações agudas do foro da saúde mental nos adolescentes mais velhos, nos locais onde exista urgência desta especialidade em presença física nos locais ou períodos em que a especialidade de psiquiatria da infância e adolescência não esteja disponível”.
Contactada pela Lusa, fonte da SPP confirmou que decorreu já uma reunião com a DE-SNS, não querendo “neste momento” fazer mais comentários.
A agência Lusa pediu esclarecimentos sobre este tema à DE-SNS e aguarda resposta.